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Que Tipo de Gente Vai a Uma Manifestação Pelos Direitos dos Homens?

Uma coalizão internacional de grupos pelos direitos dos homens convergiu em Toronto para discutir “Homens e Garotos em Crise”.
mdh

Produzido e filmado por Michael Toledano, trabalho de câmera adicional por Daniel Goodbaum com entrevistas por Alex Tindal.

No dia 28 de setembro, uma coalizão internacional de grupos pelos direitos dos homens convergiu em Toronto para discutir “Homens e Garotos em Crise”.

Antes do comício, eu não sabia muito sobre esse negócio de ativismo pelos direitos dos homens, exceto que esses grupos têm como tradição responder a críticas com ataques pessoais, o que pode ser visto em posts de blog criativamente intitulados como “Jonathan Goldsbie: Head in the sand, talking out ass” e “Brad Casey wants to mind-rape our women!”. Por causa de blogs como esses, juntamente com inventivas antifeministas e simpatizantes individuais da causa com uma queda pela iconografia nazista, desenvolvi uma impressão distorcida do que realmente acontece nesses eventos. Eu esperava encontrar um grupo de ódio total, quando, na verdade, os ativistas com quem falei expuseram crenças que iam do quase razoável até o totalmente opressivo temperado com uma boa dose de maluquice.

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Muitos participantes pareciam motivados pela preocupação com o bem-estar dos homens, ou um medo de mulheres enraizado em seus próprios traumas pessoais. Um número surpreendente de homens na manifestação se apresentou como vítimas de violência doméstica. Esses homens se sentem prejudicados pela misandria — eles falaram sobre a fragilidade das redes de apoio aos homens e da falta de simpatia que experimentaram depois dos abusos. Quase todo mundo no comício expressou preocupação com as altas taxas de suicídio entre homens, com meninos que acabam ficando para trás na escola e com o preconceito sistêmico contra os homens nas batalhas pela custódia de filhos. Mas algumas das estatísticas usadas pelos MRA (Men's Rights Activists) para reforçar essas questões eram difíceis de engolir: “Em 50 anos, o último bacharelado será emitido para um macho em nossa cultura”, disse Paul Elam do A Voice for Men.

Os MRA que se encontraram em Toronto atribuem todos esses problemas a uma única ameaça — uma ideologia feminista radical que tomou o controle de nossas instituições e que está oprimindo os homens ativamente, mesmo que muitas das pessoas mais poderosas dessas instituições continuem sendo homens. Attila Vincer, que organizou a manifestação que aconteceu do lado de fora da sede do poder legislativo de Ontário, não sabia se o Canadá, ou Ontário, tinha uma maioria de legisladores homens ou mulheres (spoiler: homens). Daqueles com quem falei, ninguém sabia que leis queriam ver promulgadas.

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“Os lobistas das feministas já se infiltraram no sistema”, um MRA me disse. “Elas são o sistema. Elas são o status quo. Elas não estão lutando contra o sistema, elas são o sistema”, ele disse.

Culpar as mulheres pelos problemas dos homens é uma misoginia muito mal disfarçada. E que anda de mãos dadas com a misoginia aberta que alguns MRA, como um que fez piada sobre garotas “bolas” ou “tábuas”, mal conseguiam disfarçar na manifestação. Esse sentimento de subjugação masculina tem extensões perigosas: alguns MRA veem acusações de estupro como uma ferramenta usada pelas mulheres para oprimir os homens. Tanto os homens quanto as mulheres presentes no protesto disseram não acreditar que o estupro seja tão desenfreado quanto as estatísticas — ou mesmo os relatórios policiais — mostram, e acreditam que mulheres deviam ser presas por falsa acusação de estupro, do mesmo modo que os estupradores são, às vezes, processados por seus crimes. Uma mulher me disse que sua filha fez uma falsa acusação de estupro, mas se recusou a ser entrevistada porque seu marido, acusado numa investigação em andamento, não daria permissão para que ela falasse conosco devido ao risco de incriminação.

A manifestação foi interrompida por um contraprotesto gay e feminista que parecia confuso quanto aos MRA, tratando-os como oposição imaginária e os chamando de homofóbicos, apesar do número significativo de palestrantes gays na manifestação pelos direitos dos homens. Uma das feministas argumentou que “a verdadeira face [dos MRA] era a de Marc Lepine, um assassino em massa de Montreal que matou várias mulheres na École Polytechnique”. Paul Elam ofereceu uma analogia inversa: “Não podemos fazer um paralelo entre o comportamento das feministas e o comportamento da Alemanha Nazista ou da Ku Klux Klan, mas se você olhar para o pensamento fundamental, não vejo diferença nenhuma na maneira como eles abordam as classes de pessoas”.

E sob os gritos dos dois grupos, algumas feministas sugeriram calmamente que a onda atual do feminismo procura desmantelar o patriarcado e os papéis dos gêneros para o benefício tanto dos homens quanto das mulheres — e que isso aborda muitos dos mesmos problemas que os MRA têm identificado. Mas o maior problema que esses caras enfrentam é que ninguém está realmente tentando falar com eles — a menos que você considere as inflamadas discussões on-line. O movimento deles podia ser reduzido a um pequeno contingente cheio de ódio, se esses homens estivessem envolvidos por meio grupos de apoio, terapia, compaixão e educação. Em vez de oferecer um diálogo real, as manifestantes feministas quase que só gritaram insultos, os MRA retribuíram e todos ficaram ainda mais entrincheirados em seus próprios campos ideológicos.

Foi uma coisa bem idiota.