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Histórias da Vida Real

Férias São Sempre Melhores que a Realidade

Você é uma pessoa sortuda que vai viajar muito em breve? Pois foda-se.

Você é uma pessoa sortuda que vai viajar muito em breve? Pois foda-se. Nós vamos ficar aqui chorando e tentando beber pra esquecer que todo mundo está fazendo algo lindo durante o final de semana, menos a gente. Por isso pensamos em juntar algumas histórias de férias numa tentativa de viver catarticamente algum tipo de experiência interessante, ao invés da depressiva realidade que é passar mais dois dias trancados em casa chapando.

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CLICHÊ KUNG FU

Alguns anos atrás, eu estava com uns amigos numa parte rural da China que produz a comida mais terrível e nauseante imaginável. Sério, as coisas que nos ofereciam pareciam dejetos do fundo de uma fossa antiga que teve séculos pra apodrecer e coagular, um troço nojento. Então, fizemos quase todas as refeições numa cadeia de restaurantes mexicanos no shopping local.

Num desses dias, dois caras começaram uma discussão pesada. Não sei muito bem qual era o motivo, mas envolvia muitos empurrões e gritaria. Aí, do nada, uns dez seguranças se aproximaram pra apartar a briga. Acho que o que aconteceu nesse dia vai ser pra sempre a coisa mais incrível que já vi na minha vida: um dos caras começou a virar as mesas que estavam em volta dele, atirando as bandejas da cantina na cara dos guardas, subiu numa cadeira, deu um chute tesoura em um cara de cada lado, pulou sobre a cabeça de um terceiro segurança e desapareceu pela porta.

Filmei a cena toda num Nokia velho e fodido, mas ele ficou sem memória e corrompeu o arquivo. Até hoje tenho esse arquivo 3GP estragado no meu celular com potencial pra fazer milhões de dólares com propagandas no YouTube. Se alguém aí souber como arrumar isso, eu pago, sei lá, uns 5% do lucro.

BEM-VINDO A BUDAPESTE

Eu estava em Budapeste uns anos atrás com um grupo de amigos. A gente passava a maior parte do dia bebendo com esse cara que trabalhava no nosso albergue, o Zig — um tipo raro de alcoólatra com charme suficiente pra manter um estilo de vida relativamente normal. Meu amigo e eu nos separamos do grupo principal em algum momento entre convencer missionários norte-americanos a tomar umas com a gente na estação de trem e sair pra comer gulache. Acabamos parando na parte cigana da cidade, onde fiz uma tatuagem de trem com um “tatuador” chapado que dizia ter acabado de sair da cadeia por armazenar armas e mercadorias roubadas pra máfia húngara. Ele tinha uma cicatriz grande que ia do pescoço até a orelha, então eu acreditei nele.

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Claro que ser um bêbado britânico insolente não vai te ajudar em nenhum lugar do mundo, então atraímos rapidamente a atenção de dois caras que “adoraram meu sotaque e energia”. Isso com certeza era conversa fiada e, mesmo bêbados como estávamos, sabíamos que alguma coisa estranha estava rolando. Meu amigo pediu pros dois caras se afastarem, o que não deu muito certo. Os dois puxaram facas pra gente e começaram a gritar com os húngaros que passavam, provavelmente nos acusando de fazer alguma grosseria com eles.

Não tínhamos ideia do que fazer quando dois caras bizarros apontam armas pra você e gritam, então meio que choramingamos e imploramos pros caras não nos esfaquearem antes de entrar num bonde parado que felizmente partiu um pouco depois disso, deixando pra trás os dois caras húngaros sacudindo as facas, sem que ninguém fizesse nada a respeito.

No bonde, conhecemos duas meninas locais lindíssimas (e a amiga delas incrivelmente irritada) indo pra um enorme clube a céu aberto. Então grudamos nelas e passamos as próximas horas dançando o tipo de música que normalmente faria eu querer me enforcar, mas que, naquela noite, era a coisa mais incrível que eu já tinha ouvido. O que aconteceu depois — e eu ainda não tenho 100% de certeza do que foi que provocou isso — foi meu amigo vindo com tudo na minha direção, espumando de raiva pelos olhos, me dando o soco mais forte que conseguiu bem na cara e depois desaparecendo por mais algumas horas.

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Nesse meio tempo, saí com uma das garotas e fomos pra um lugar que eu achava que era uma área coberta fora do clube. O que eu não percebi é que, bem acima da gente, havia uma plataforma de dança de onde umas 70 pessoas podiam ver minha bunda pelada balançando. Fugimos daquela cena vergonhosa e voltamos pro albergue, onde encontrei meu amigo nervosinho imobilizado no corredor — gritando — com o resto dos meus amigos tentando estapeá-lo até ele se acalmar, o que obviamente era um péssimo plano.

Na manhã seguinte, um homem reclamou pro gerente que um grupo de ingleses bêbados não deixou ele e seu filho perneta dormirem a noite toda.

Essa é uma das melhores histórias no meu arsenal de histórias horríveis, muito obrigado por me deixar compartilhar

DOIS CONTOS UM PULMÃO, QUATRO CONTOS UM TIGRE

Meu amigo e eu fizemos uma viagem de skate pela Rússia, praticando num lugar perto do que depois descobrimos ser um mercado negro. Logo entendemos por que as pessoas que entravam e saíam dali pareciam estar sempre a um passo da morte, mantidas vivas apenas por aquilo que carregavam naquelas bolsas médicas com que saíam de lá (a gente imagina que fossem órgãos humanos ou milk-shakes de células-tronco).

Bom, um dia vimos um cara saindo de lá com um tigre adulto numa coleira. Uma coleira longa e frágil, que poderia facilmente ter arrebentado, libertando o tigre pra abocanhar um pedaço de qualquer um entre as centenas de homens, mulheres e crianças que passavam despreocupadamente por ali como se andar pela cidade com um tigre na coleira fosse a coisa mais normal do mundo.

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Imaginamos que o cara ia colocar o tigre numa van enorme estacionada ali perto, mas ele passou direto por ela e enfiou o tigre no banco de trás do que possivelmente era o menor Lada já fabricado. Essa foi, de longe, a coisa mais bizarra que meus olhos já testemunharam na vida. Obrigado, Rússia!

DEITA E RELAXA

A última e única vez em que saí de férias com toda a minha família, meu tio gordo ficou superbêbado de sangria e acabou dormindo numa boia que lentamente flutuou mar adentro. Depois de muitas horas do que ele descreveu como “um tempo que nunca mais quero lembrar”, a guarda costeira o encontrou. Meu pobre tio teve que ir direto pro hospital pra tratar as queimaduras de sol que cobriam 75% do seu corpo.

Alguns dias depois, quando as queimaduras estavam formando casca e soltando pus, todos nós fomos pra esse incrível restaurante espanhol de frutos do mar, onde ele decidiu se empanturrar de mexilhões pra amenizar seu sofrimento físico. Infelizmente, a combinação de frutos do mar em excesso, calor espanhol e feridas abertas fizeram ele passar muito mal no banco de trás do carro alugado que tivemos que usar por toda a semana seguinte.

Quando penso nisso ainda consigo sentir o cheiro de carne queimada e vômito.

LAST FRIDAY NIGHT

Em 2010, eu estava de férias com meu melhor amigo gay em Malta. Lá ele teve a brilhante ideia de replicar tudo que é mencionado na música “Last Friday Night” da Katy Perry, ou seja, ficar chapado, dançar nos bares, fazer um ménage à trois etc.

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Fizemos algumas das primeiras coisas e chegamos até “skinny dipping in the dark” [nadar pelado no escuro]. Saímos do bar de frente pro mar em que estávamos com o DJ e descemos até o que era provavelmente o trecho de praia mais difícil da ilha inteira. Achando que éramos só eu, meu amigo e o DJ, tirei a roupa e corri pro mar, deixando a câmera com o DJ pra gravar as evidências. Eu estava correndo até o mar, como um asno deficiente e pelado, quando me virei pra descobrir que metade da população masculina de Malta estava vendo tudo, todos bem animados e nem tentando disfarçar isso.

Estranhamente, o que mais me preocupou foi que o DJ parecia não estar conseguindo usar a câmera, sendo assim, sem vergonha nenhuma e ansiosa pra documentar a noite, corri de volta pra ajudar, mas escorreguei na pedra mais cheia de lodo que já existiu na face da terra. Parece que o barulho dos meus peitos batendo nas pedras e a visão da minha pessoa de 1,80 m tentando se levantar e escorregando — tipo um Bambi em estado de choque — mudou a vida de todo mundo que estava naquela praia.

Acho que nunca mais vou fazer isso de novo — e até hoje não sei como a coisa toda acabou.

Ilustrações: Sam Taylor. Siga o cara no Twitter @sptsam e visite o site dele: samtaylorillustrator.com

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