Por Dentro da Prisão no Ártico do Canadá

FYI.

This story is over 5 years old.

Fotos

Por Dentro da Prisão no Ártico do Canadá

De muitas maneiras, o centro correcional de Yellowknife é o lugar mais seguro para infratores que serão devolvidos à comunidade.

Um detento do NSCC olha pela janela.

O terceiro andar da maior prisão dos Territórios do Noroeste, Canadá, estava com um cheiro ótimo: pipoca de micro-ondas com manteiga, para ser mais específico. O odor estava subindo do alojamento dos detentos através da ventilação do corredor.

O oficial responsável pela lojinha dos detentos me disse que pipoca é tão popular porque é a comida mais barata da loja, US$ 0,80 por pacote. Como comparação, sai por US$ 1,50 o pacote de salgadinho – uma economia significativa quando você está preso.

Publicidade

Com capacidade para cerca de 150 detentos, a North Slave Correctional Centre, em Yellowknife, é o centro para infratores do ártico do Canadá. Ela abriga desde os criminosos mais violentos até detentos da segurança mínima. Muitos vêm de comunidades remotas dos Territórios do Noroeste; outros, do território vizinho a leste, Nunavut, como parte de um acordo para ajudar com problemas como a alta taxa de criminalidade, as condições de prisão precárias e o sistema sobrecarregado deles.

Os detentos parecem viver de maneira relativamente confortável aqui. Não é nenhum hotel cinco estrelas, mas eles têm amenidades e meios criativos para passar o tempo e se manterem saudáveis. De muitas maneiras, o centro correcional de Yellowknife é o lugar mais seguro para infratores que serão devolvidos à comunidade. Em instalações maiores no sul do Canadá, não é incomum que detentos do norte, especialmente inuítes, sejam isolados ou intimidados para passar contrabando ou se juntar a gangues. Os programas indígenas aqui – que incluem uma tenda-sauna e cerimônias de incenso desenvolvidas por e para pessoas dessas comunidades – não só ajudam os detentos a passar o tempo como também os mantêm conectados à sua cultura.

Fora a cura tradicional, isso ainda é uma cadeia com muros de concreto e janelas que dão para uma cerca de arame farpado.

Dentro do Pod B, cerca de 30 detentos jogavam cartas, assistiam à TV ou não faziam nada. Cada pod tem a forma de um semicírculo e um andar superior e inferior de celas. Em um deles, citações de inspiração, como "Pare de beber. Lute pelo dinheiro. Revire tudo", estão pixadas nas paredes, uma espécie de página do Tumblr pré-internet para prisioneiros.

Publicidade

Enquanto os detentos no Pod B se ocupavam, outros estavam no andar de cima preparando batatas e hambúrgueres para o jantar. Na sala de artesanato e artes, um detento me mostrou um pequeno buquê de rosas feitas de miçangas. "Fiz isso outro dia. Levei algumas horas para fazer cada uma", ele falou enquanto olhava pela janela, observando o lago à frente, visível através da cerca. "Gosto de flores, não sei por quê."

Uma cela vaga no Pod B. Os detentos recebem colchão, travesseiro e cobertor quando chegam.

Pixação na parede de uma cela.

A tenda-sauna.

Arvin Landry, conselheiro de cura tradicional, mostra sua tigela de incenso.

O 'pátio' atrás do Pod B.

Diagrama da pista de obstáculos.

Um detento observa um mural que pintou em 2012.

A sala de cura tradicional, onde reuniões de grupo e cerimônias acontecem. Os detentos usam jaquetas e peles de animais como almofadas.

O corredor entre os pods.

A loja dos detentos. Pipoca é o produto mais vendido.

Cada pod tem um armário como esse, cheio de fitas VHS.

Esses são os títulos a que os detentos podem assistir.

Um detento inuk de Nunavut.

Pratos tradicionais como carne de caribu, truta do ártico, carne de foca e muktuk (gordura de baleia) são oferecidos aos detentos regularmente.

Alertas sobre os riscos à saúde de tatuagens caseiras.

Um desenho de uma caveira com cocar feito por um dos detentos.

Um mural mostrando uma matilha de lobos na área de visitas.

Um buquê de rosas de miçanga feito por um dos detentos. Os detentos pintam, desenham e fazem artesanato com miçangas para passar o tempo e mandar para a família.

A vista da torre da Con Mine, uma relíquia de uma antiga mina de ouro, do North Slave Correctional Centre.

Tradução: Marina Schnoor

Siga a VICE Brasil no Facebook, Twitter e Instagram.