Q&A: ORSOLA DE CASTRO

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Sustainability Week

Q&A: ORSOLA DE CASTRO

Orsola de Castro, a fundadora e diretora da Fashion Revolution, acredita que a indústria da moda pode liderar o avanço do pensamento sustentável.

Orsola de Castro, a fundadora e diretora da Fashion Revolution, acredita que a indústria da moda pode liderar o avanço do pensamento sustentável.

Por que a moda tem um papel tão crucial no mundo de hoje?
A moda é a pele que escolhemos, um reflexo de nossa imagem pessoal, além de ser uma megaindústria trilionária e relativamente jovem. As roupas afetam 100% da população, então o setor só tem como crescer em estatura e expansão. Também é a única indústria que tem a obsolescência programada em sua essência, exigindo assim mudança e reinvenção constante. É a máquina de produção em massa perfeita. Todo mundo quer uma casquinha da moda.

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Por que você acha que a moda deve se preocupar com a sustentabilidade? Como é uma indústria relativamente jovem, não passando de 35 anos (comparada à indústria automotiva, que tem 130 anos, e o cinema, de 100 anos), ela tem uma chance real de acertar ainda na infância e liderar o pensamento sustentável.

Como você acha que a moda impacta o planeta?
É a segunda indústria mais poluidora do mundo, mas gera empregos para milhões de pessoas, principalmente mulheres, então o impacto nas pessoas e no planeta é enorme.

Você acredita que nossas ações como consumidores – consumindo menos, pressionando por mudanças positivas – podem levar a uma transformação de mão dupla na indústria também?
Os consumidores – ou, prefiro dizer, cidadãos – são uma parte ativa da solução em cada pequena escolha que fazem. Pode ser comprando menos, comprando melhor, levando essa campanha para casa… Existem muitas formas de se envolver para cada um de nós se quisermos fazer parte da mudança.

Que perguntas os consumidores devem fazer às marcas e lojas para reforçar as mudanças que precisamos?
Quem fez as minhas roupas?

Qual é a sua maior preocupação na forma como a moda é produzida e fabricada hoje?
A absoluta ignorância, falta de transparência e o sistêmico fracasso em tratar dessas questões de forma regulada e dentro da lei. Desde os salários até os resíduos.

Falando de bons exemplos, a Escandinávia é líder no sentido de considerar os resíduos como recursos em vez de um inconveniente. Você poderia destacar algumas iniciativas de boas práticas no seu país?
O Reino Unido tem liderado esse movimento desde o início, mas não temos uma grande indústria da moda aqui, então nosso impacto é intelectual, não prático. Mas desde o Centre for Sustainable Fashion ao Textiles Environment Design e o Fashion Revolution, em termos de campanha, design e pensamento sustentável, somos excepcionais. Atualmente, por exemplo, a Modern Day Slavery Act (Lei sobre a Escravidão Moderna) está muito à frente em termos de mudança positiva com força de lei.

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O que significa moda justa para você? Você acredita que é possível combinar um legado de estilo, usabilidade, qualidade e durabilidade a preços justos?
Sim.

Você acredita que os pequenos negócios podem trazer novas abordagens para a sustentabilidade? Como eles estão mudando o cenário?
Pequeno é o novo grande. Não existe diversidade na indústria da moda atualmente, ou é fast fashion e produção em massa ou é mercado de luxo. Precisamos começar a abrir espaço para jovens criativos com uma mentalidade artesanal e menor. Repito, em Londres, a maioria dos jovens estilistas está adotando a ética e a sustentabilidade inovadora como novo avant-garde.

Você acredita que podemos mudar a cadeia produtiva da moda? Como cada empresa pode contribuir para isso?
Transparência é o primeiro passo, mas existe muito trabalho a ser feito, porque a cadeia produtiva têxtil e da moda é complicada e os trabalhadores são invisíveis. Precisamos esclarecer, desenrolar esse fio, e depois começaremos a entender como mudar e melhorar da semente do algodão até a narrativa do produto.

De que tipo de mudança você espera fazer parte na sua vida e no trabalho na indústria da moda?
Estou envolvida desde 1997, primeiro como estilista, depois como mentora, e agora também encampando a campanha. Mas minha paixão mesmo, e onde vejo uma atuação minha mais efetiva, é no trabalho de orientação de jovens estilistas. Trabalho com muitos, tanto como orientadora no curso de mestrado em Moda da Central Saint Martins, quanto como mentora, e recebo uma inspiração infinita da atitude da nova geração de estilistas. Focar neles, influenciar a jornada deles e conscientizá-los e sensibilizá-los para criarem uma indústria melhor é o que me dá energia e inspiração.

O que você diria para encorajar alguém que esteja despertando agora, pela primeira vez, para a ideia de que existem pessoas por trás dos produtos e que a moda tem um impacto no meio ambiente?
Seja curioso, descubra, faça alguma coisa.

O que inspira a sua motivação?
Meus filhos, minha vida, a história.