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Edição Resiliência Evolucionária

A indústria do exorcismo chegou ao século 21

A grande conveniência de poder ser exorcizado pelo telefone, email, whatsapp e afins.
exorcismo

Screenshot do site de Bob Larson.

Num final de semana de fevereiro deste ano, o arcebispo Isaac Kramer foi chamado a uma casa em Parma, Ohio, para o que começara como um simples exorcismo e se transformou num verdadeiro duelo: o possuído de 19 anos rosnava, falava em latim e até jogou um amigo do outro lado da sala.

“Quando o homem [possuído] se levantava, toda a neve derretia embaixo dos pés dele, e ele estava descalço e parecia não sentir nada”, disse Issac, primaz da Igreja Anglo-Católica, um ramo do protestantismo que herdou muitos aspectos do catolicismo. “Quando comecei a abençoar a casa, ele fugia do quarto onde eu estava. Ele não queria estar lá. De repente, ele estava correndo pela casa sem camisa, e havia manchas vermelhas por todo o peito dele… então, ele começou a rosnar para mim.”

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Incidentes assim são o que a maioria imagina quando pensa em exorcismo: um conflito pessoal entre um padre e um demônio, muito drama, “o poder de Cristo te obriga”, etc. Mas, como tudo no mundo, possessões demoníacas foram transformadas irrevogavelmente pela tecnologia. Demônios agora são expulsos remotamente via webcam ou celular, e a próxima geração de exorcistas se leva tão a sério quanto Isaac.

Carlos Oliveira, um exorcista cristão brasileiro que está nessa profissão há quase 25 anos (primeiro, no Brasil; e agora em Fresno, Califórnia), me explicou que frequentemente expulsa demônios durante ligações com clientes. A conexão dele com Jesus Cristo, que lhe permite afastar o mal, pode se manifestar tanto num telefone fixo como por internet wireless.

“Se você está em outro Estado, o único jeito que posso falar com você é através do telefone, Skype ou internet”, me disse Carlos. “Demônios se comunicam uns com os outros e eles não têm celular, não têm internet e não precisam disso.”

Sem seguir estritamente as regras da Igreja Católica para expulsar forças demoníacas, Carlos ganha a vida como exorcista freelance, o que me pareceu ser extremamente difícil. Ele não cobra por seus serviços, mas aceita doações dos clientes – afinal de contas, esse é um trabalho de período integral.

“Não sou pago por ninguém”, afirmou Carlos. “Então, peço que as pessoas considerem me ajudar com uma doação pelo meu tempo e pelo meu conhecimento. Claro, fica por conta delas dizer sim ou não.”

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Pagar por exorcismos é uma questão bastante espinhosa. Isaac se recusa a aceitar pagamento pelos seus serviços e abomina aqueles na indústria que fazem isso, possivelmente porque padres que cobram por coisas assim podem ser vistos como vigaristas. O que não quer dizer que não existam combatentes de demônios que considerem esse trabalho uma carreira, não apenas uma vocação. Por exemplo: Bob Larson, um infame televangelista, agora oferece a condução de exorcismos via Skype por uma doação sugerida de US$ 295 (cerca de R$ 715).

“Eles fazem mais mal que qualquer outra coisa”, criticou Isaac em relação a pessoas como Larson. “Eles são completamente falsos. Quando você realiza um exorcismo, isso envolve várias orações. Isso envolve comandar os demônios. Envolve água benta. Envolve outras coisas… que você não pode fazer através da tela de um computador.”

Discussões sobre procedimentos entre exorcistas podem soar bobagem para um público mais secular, que vê o ofício deles como coisa de filme de terror – na verdade, um padre de Indiana, que realizou um exorcismo de destaque algum tempo atrás, vendeu sua história para uma produtora de filmes no começo deste ano. As pessoas podem questionar se demônios podem ser expulsos via webcam, mas, na maioria das vezes, questionam mesmo se demônios realmente existem. Quando algo estranho está acontecendo na cabeça do seu amigo, quem você vai chamar: um exorcista ou um psiquiatra?

“Eu diria que [nossa profissão é considerada real] cerca de 30% do tempo”, frisou David Biery, um colega anglo-católico de Isaac. “Nossa sociedade se tornou muito secularizada, e as pessoas estão perdendo a moral. Ficamos muito dessensibilizados nos últimos 30 anos, e isso torna nossa luta mais difícil. Parece que esses casos estão se tornando mais comuns.”  (Possessões demoníacas podem mesmo estar em ascensão como David afirma: em janeiro, foi noticiado que a Igreja Católica está treinando mais padres para realizar exorcismos na Espanha e Itália.)

“Isso é uma vocação”, me garantiu Carlos. “Isso é um dom de Deus. Não expulso demônios por causa do meu nome. Não expulso demônios por causa do meu conhecimento. Não expulso demônios porque sou poderoso. Expulso demônios pelo nome de Jesus Cristo.”