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Os Fascistas Gregos de Nova York São Furões

Fui até um dos bairros mais afastados de Nova York para encontrar um bando de fascistas helênicos conhecidos como Aurora Dourada.

Essa foto foi postada pela Aurora Dourada antes do site ser derrubado por hackers. 

Na noite do dia 23 de março, eu me vi nos fundos da Taverna Greek Grill, um pequeno restaurante familiar em Howard Beach, Queens, me servindo de um prato de tzatziki e pão pita. Eu tinha vindo para a parte mais remota de um dos bairros mais afastados de Nova York para encontrar um bando de fascistas helênicos conhecidos como Aurora Dourada.

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Inicialmente, contatei o grupo por uma fascinação doentia – do tipo que você tem por uma ferida inflamada: seus olhos se fixam nela, mesmo que seu estômago diga pra você desviar o olhar. Além disso, como os eventos na Grécia têm ilustrado, se você não tomar cuidado, a infecção pode se espalhar e se transformar em algo mortal.

A política na Grécia tem se tornado incrivelmente polarizada. A economia do país desabou sob o peso de uma crise de débito quando o mundo financeiro derreteu em 2008. Desde então, a Grécia tem aguentado uma série de medidas de austeridade, nada populares, impostas pela União Europeia e o Fundo Monetário Internacional, que só pioraram a pobreza e a turbulência social.

O drama tem se desenrolado com greves gerais, nuvens de gás lacrimogêneo engolfando grandes manifestações e com a ascensão de partidos políticos do extremo radical do espectro. Syriza, ou Coalizão da Esquerda Radical, foi de 3,9% dos votos nas eleições gerais gregas de 2004 para 26,9% em 2012, tornando-se o maior partido de oposição do país.

Sob a sombra do mal-estar econômico na Grécia, o movimento de extrema-direita Aurora Dourada se levantou em oposição ao Syriza e contra o resto dos partidos também. O símbolo deles é um meandro grego, que parece muito com uma suástica. Desde sua ascensão, o grupo vem sendo ligado a um ligeiro aumento no número de mortes e espancamentos de imigrantes, gays e esquerdistas.

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No dia 27 de setembro de 2013, cerca de 30 capangas da Aurora cercaram o rapper antifa Pavlos Fissas (Killah P.) num café em Atenas e o esfaquearam até a morte. Dezenove membros do partido foram presos e acusados de comandar uma organização criminosa. Ainda assim, com muitas pistas de que o Aurora tinha se infiltrado na polícia grega, permanece a dúvida de quão grosso é o sangue que corre entre as forças da lei e os fascistas.

Apesar de sua inclinação à violência, as urnas mostraram que mais de 11% dos gregos apoiavam o partido, e seu porta-voz, Ilias Kasidiaris, afirmou que seu desejo era o de espalhar células “onde quer que existam gregos”. Hoje, eles têm ramificações estabelecidas em Melbourne, Montreal, Nurembergue e Nova York.

Antes de arranjar um encontro com a célula de Nova York do Aurora, um cara que disse se chamar Georgio me interrogou pelo telefone. Depois de um longo interrogatório, Georgio começou a se abrir.

Perguntei sobre o sotaque dele. “Eu esperava alguém que soasse grego”, eu disse.

Ele riu.

“Eu não tenho um sotaque do tipo 'Oi, sou da Grécia'”, disse Georgio. “Mas temos caras que são assim. Eles acabaram de chegar. Temos alguns gregos que estão aqui desde os anos 1970 e temos gregos que nasceram aqui no Queens – Astoria e White Stone. Somos pessoas normais. Fazemos caridade. Mesmo morando aqui, ainda temos laços de família por lá, coisas de sangue.”

Sangue é a palavra-chave. Cerca de dois anos atrás, quando o Aurora Dourada começou a aparecer na comunidade grega de Astoria, muitas pessoas temeram um derramamento de sangue.

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“Eles malham”, disse Nicholas Levis, organizador do Aristeri Kinisi (Movimento de Esquerda) de Nova York. “Eles parecem durões. Eles gostam de marchar por aí.”

A Aurora deu as caras pela primeira vez abordando comerciantes gregos e pedindo doações para ajudar as pessoas na pátria mãe afetadas pela crise. Eles não se identificaram como membros do Aurora no começo. Alguns dias depois, eles voltaram oferecendo camisetas grátis da Aurora para quem ajudasse monetariamente. Os comerciantes ficaram horrorizados.

Mesmo os esforços de caridade do Aurora Dourada estavam manchados de xenofobia, o que é irônico, considerando que eles são imigrantes aqui nos Estados Unidos. Uma caixa pedindo por doações de roupas e comida, colocada sem permissão no Centro Cultural Stathakion no Queens, estava marcada com “Somente Para Gregos”.

“Quase briguei com um deles”, disse Christos Vournos, que trabalha no centro, explicando como os membros do Aurora que vigiavam a caixa de doações resistiram quando ele pediu que eles saíssem do centro. Por fim, eles obedeceram e deixaram o prédio, mas não seria a última vez que o centro veria esse pessoal.

Em maio de 2013, o Stathakion exibiu Greek American Radicals, um documentário sobre o ativismo sindical do século XX entre a diáspora grega e cerca de 200 pessoas compareceram, incluindo quatro membros do Aurora Dourada. Os membros ficaram irritados porque faltava espírito patriótico no filme. “Nenhuma bandeira grega no cartaz promocional”, reclamava o site do Aurora.

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“Eles não fizeram nada até depois de o filme acabar”, lembra Nicholas, que estava na exibição. “Depois, houve uma discussão do filme com os produtores. A primeira pergunta do público estava sendo respondida e eles vieram com um megafone e disseram: 'Nós temos uma pegunta'. Umas cem pessoas caíram em cima deles. Eles foram arrastados para fora do prédio.”

Foto por Peter Rugh.

Os membros do Aurora reclamaram em seu site que “um grupo de 15 ou mais zumbis comunistas tentaram nos silenciar”.

“Eles confundem tudo”, disse Nicholas. “Aristeri Kinisi, para eles, é uma frente para o Syriza, que é uma frente para os judeus, que é uma frente para a conspiração comunista mundial de George Soros.”

Nicholas e outros ativistas com quem conversei contaram como um grupo de expatriados simpáticos ao Syriza tinha planejado uma reunião em outubro passado, no porão de um complexo de apartamentos em Astoria. O Aurora Dourada ouviu falar disso e apareceu lá uma noite antes, jogando pedras nas janelas. No dia seguinte, os moradores encontraram faixas com a insígnia tipo suástica do Aurora no exterior do prédio.

Embora a maioria da comunidade de Astoria esteja cansada de confrontos com o Aurora, as provocações do grupo ativaram círculos da diáspora de esquerda de Nova York. No dia 22 de março, do lado de fora do Consulado Grego no Upper East Side, cerca de 50 pessoas apareceram para marcar o dia mundial contra o fascismo. Velina Mandova, com a Bulkan Queer Initiative, disse ter se juntado ao protesto, mesmo sendo búlgara, porque grupos fascistas estão em ascensão na Europa. Eles podem ganham tração nos Estados Unidos se as pessoas não começarem a considerá-los uma ameaça.

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“Isso é tolerado pelo governo aqui”, disse Velina. “Isso é representado como uma coisa extrema, radical mas marginal, quando, na verdade, isso está juntando todo esse sentimento nacionalista em tempos de economia precária.”

A presença do Aurora Dourada em Nova York tem sido anunciada nos cantos escuros da internet supremacista branca e recebida com receio pela maioria dos greco-americanos. Mas pouco se sabe sobre suas atividades na cidade, apenas que eles afirmam estar conduzindo operações de caridade.

O grupo de Nova York nunca falou com a imprensa e seus membros nunca se deixaram fotografar publicamente com acessórios do Aurora. Quando fui para Howard Beach, meu objetivo era apenas saber quem são essas pessoas, mas sem que isso significasse enfiá-los de cabeça para baixo num espeto, cortados em pedacinhos e enfiados num gyro.

Georgio já estava 15 minutos atrasado para nosso encontro na Taverna Greek Grill quando decidi ligar para ele. Ele disse que os caras estavam enrolados na reunião semanal do grupo e que logo chegariam. Quarenta e cinco minutos se passaram. Eu já tinha acabado com o jantar, um prato de spanakopita (torta de espinafre) e ainda nenhum sinal do Aurora Dourada. Indo em direção à porta, liguei mais uma vez para o Georgio e perguntei por que ele tinha me feito perder tempo. Ele começou a ferver.

“O Aurora Dourada não dá entrevistas!”, ele gritou. “Vocês são comunistas. Vocês são o inimigo. Você achou mesmo que eu ia te deixar falar conosco? Isso é o Rocky IV; você é o Ivan Drago.”

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Georgio desligou, mas no caminho para casa recebi, uma chamada de um número bloqueado.

“É o Peter?”, uma voz de grego velho queria saber.

“Quem fala?”

“É o Beano. Onde você está, Peter? Você está no restaurante?”

“Não.”

“Você não quer entrevistar o Aurora Dourada? Por que você não vai para o restaurante?”

“Eu fui ao restaurante. Ninguém apareceu.”

“Ninguém foi te encontrar? Isso é um engano. O que aconteceu? Por que você não volta para o restaurante? Espere e vamos te encontrar.”

Algo me dizia que se eu voltasse ao restaurante, eles iam me pegar do mesmo jeito que seus irmãos pegaram Pavlos Fissas lá em sua terra natal. Beano continuou tentando me fazer dar a volta até eu desligar. Quando cheguei em casa, notei que tinha uma ligação perdida. Havia uma nova mensagem esperando por mim.

“Peter, me diga o que está acontecendo com vocês?” Era o Beano. “Se você quer que eu te diga alguma coisa, posso dizer o que você quiser. Mas você é tipo essas bichas e comunistas, tipo Syriza da Grécia? Não sei, cara. Não sei o que acontece com vocês, caras. Talvez você goste de levar na bunda, sabe? Espero que não, porque você é um homem, sabe? Certo, Peter, certo. Espero que se você pode levar um pinto na bunda, também possa levar um pinto na boca, sabe?”

Ouvir a mensagem ridícula do Beano me fez pensar no principal objetivo da célula do Aurora Dourada em Nova York: trazer legitimidade para o que o grupo está fazendo lá fora. Mas com gente boçal como o Beano no comando do braço americano do grupo, vai ser difícil. No entanto, se a ascensão do grupo na Grécia demonstra alguma coisa, é que, dado uma série de eventos desagradáveis, a marca de xenofobia e ódio do Aurora Dourada pode se tornar bastante atraente para uma porção da população. Vamos esperar que nos Estados Unidos, onde um programa de austeridade também está em andamento – incluindo um corte de $8,7 bilhões nos cupons de alimentação em fevereiro – essa política virulenta e controversa continue marginal.

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