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Desporto

O país devia dar mais atenção ao Neno

Olhai para um dos maiores cantores do nosso país.

Quando somos novos e começamos a desenvolver uma pontinha de devoção ao futebol por intermédio dos nossos pais (ainda que, nem sempre, aquilo em que eles acreditam passe a ser aquilo em que nós acreditamos — hoje seria uma pessoa ainda mais deprimida se tivesse seguido os conselhos do meu pai e me tivesse tornado sportinguista), os nossos pequenos bromances incidem quase sempre sobre um único jogador, para o tipo do qual guardamos os posters, os cromos da Panini, a alcunha ou o nome quando a malta da rua quer jogar uma partida; se para muita da miudagem de hoje essa escolha é inevitavelmente entre o Messi e o Ronaldo, há vinte anos atrás o leque de opções era extraordinariamente maior; o meu, por exemplo, ia para o Caniggia, algo de que me envergonho hoje — não porque o mano argentino fosse mau jogador, que não era, mas por ser do Benfica. Uma mancha infecta naquela que de outro modo é a minha alma pintada a tons de azul.

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Mas, depois existem aqueles jogadores que só passados alguns anos encontram o seu reconhecimento entre a população que aprecia futebol e a malta que encara o desporto como um dos braços (ou das pernas) de Deus. Veja-se o caso do Neno, guarda-redes que fez a maior parte da carreira entre o Benfica e o Vitória de Guimarães, que, na altura, era criticado por não ser talvez a melhor pessoa a sair aos cruzamentos, mas hoje é olhado com carinho, à semelhança do Paulo Futre. Acho que percebem onde vou chegar. Ninguém liga assim grande coisa ao Neno ex-futebolista, mas ao Neno cantor? Tinha potencial para arrastar multidões. Tem circulado desde ontem um vídeo onde o próprio, num programa do Porto Canal co-apresentado (lá está) pelo Futre se atira à “Slave To Love”, do Bryan Ferry, e à “Mulheres”, do Martinho da Vila, duas versões que têm tanto de genialidade outsider como de desastre de automóvel. Considerando que o grande ídolo do ex-guarda-redes é o Julio Iglesias… Nah, nem vale a pena fazer uma comparação. É demasiado bom para isso.

Chegamos então à razão principal para ter lançado um artigo destes: este tipo tem de se tornar (ainda) mais conhecido, em vez de estar consignado a ser uma memória porreira dos anos 80/90. Não pode ficar perdido na história como o simples suplente do Preud'homme. Por isso, comecem a fazer o vosso trabalho; tanto aqueles que detêm

uma cópia do disco que ele lançou

em 1996 (se são uma dessas pessoas enviem-me um mail, que eu adorava entrevistar-vos, pedir um rip do CD e perguntar simplesmente “porquê?”), como aqueles que criaram um

blogue/religião

por sua causa, ou só como aqueles que, ontem no Facebook, se depararam com um vídeo hilariante no vosso feed. O Neno não pode morrer. Não enquanto tiver esta propensão para nos alegrar o dia e a vida. Foda-se, vou ainda mais longe: quero este tipo a actuar na piscina do Milhões de Festa 2013.