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Música

Discos: George Crumb

O horóscopo de hoje diz para descobrir um disco novo.

Makrokosmos, vol. II

Song & Co., BounDEE

“Twelve Fantasy-Pieces after Zodiac for Amplified Piano”. Não, não tem nada a ver com a Maya ou uma ciência que desconhece o que não deve negar à partida. Esta frase, que aliás é uma delícia escrever, define o primeiro e segundo volumes de uma obra musical de quatro, que poucos estão habilitados a escrever: as séries Makrokosmos de George Crumb. Um rapaz que antes dos 40 anos já ganhava o Prémio Pullitzer para Música (sim, também há). Este segundo Crumb fixe no universo (ver Robert Crumb), quis com esse nome aludir a um dos seus compositores preferidos, o húngaro Béla Bartók, que criou uma colecção de peças clássicas igualmente para piano chamadas Mikrokosmos. Ironicamente, a inversão Makro do Mikro não implicou volume de notas ou abundância melódica; o minimalismo encontra muito espaço para caber neste cosmos estranho. Mas também não há parecenças com Steve Reich, Cage ou Feldman por aqui; às vezes podia ser Brahms, Lizt, Chopin, muito Debussy, mas tudo assim com um cariz quase gótico que surpreende e faz o filho com piercings ouvir o CD do papá. E atenção, o meu papá não tem discos assim. Mas se calhar o papá da Maria de Medeiros tem (um abraço maestro!).

Voltemos à rapsódia em negro. O último e quarto volume acabou em 1979, mas o que nos interessa, aqui e hoje, é que foi criado em 1973, um ano depois do primeiro. Aliás, segue muito do primeiro, partilhando o tal mesmo subtítulo, a tal frase que adorei escrever, e muita da música para piano amplificado que gostei de ouvir. Crumb alega que as duas obras juntas formam uma sequência de 24 peças de fantasia. No caso particular do CD que tenho em mãos, temos peças dedicadas a cada um dos signos, sendo que como Sagitário, não desdenho “The Mystic Chord” dedicada a malta de final de Novembro até ao meio de Dezembro. Mas neste caso até preferia ser Escorpião, com “Tora!Tora!Tora! (Cadenza Apocalittica), ou Virgem com “Ghost-Nocturne: for the Druids of Stonehenge (Night-Spell II)". Duas peças que demonstram o poder da música contemporânea, que consegue tornar um piano cordeiro num piano lobo, notas de cristal a cair no chão com a ponta dos dedos, ainda para mais com uma voz espartana e uma percussão metálica ocasional para ajudar à festa, num horror bom quase psicadélico. Quase não, mesmo. São bandas sonoras de filmes de terror. Feitas por um senhor que se procurarem a foto na net parece um avozinho simpático. Se calhar até era, mas quando compunha esta música tão pura quanto maléfica-como-uma-aula-de-matemática, devia estar num dia em que leu num qualquer horóscopo que o governo lhe ia cortar a reforma. Bem, e agora vou rever o

Shinning

em DVD.