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Música

Fiquei a saber tudo sobre festivais no Talk Fest

Primeira lição: há sempre alguém mais festivaleiro que tu.

Estamos em Março, o sol começa a dar ares da sua graça e os cartazes dos festivais que ocorrem de Maio a Setembro começam a ficar fechados, pelos menos até aos inevitáveis cancelamentos em cima da hora que de novo trarão os Xutos ou os Morcheeba a um palco perto de ti. Nós já sabíamos que esta malta do Talk Fest é festivaleira e por isso fomos a contar com a análise, estudo e discussão dos festivais — ainda que com que alguns pequenos detoursface a este conceito, como a muito publicitada presença de Matt Berninger no ano passado — isto acaba por funcionar em ambos os sentidos: sendo necessária e positiva a necessidade de um fórum de discussão desta indústria, não conseguimos deixar de reparar na semelhança entre  alguns tópicos de conferências entre edições. No primeiro dia cheguei mesmo a tempo do começo da apresentação de Nuno Sousa Pinto, director geral do Rock in Rio, que nos falou da concepção do festival desde a primeira edição, a aposta na internacionalização e os próximos passos para a estratégia do festival. Explicou-nos a importância da forte comunicação, da escolha de Lisboa em 2004 como porta de entrada para a Europa e estímulo para a indústria musical nacional, e foi exibido um vídeo promocional da edição que se segue (2015, em Las Vegas) a sublinhar o impacto do evento nas cidades, com exactamente zero referências às cinco edições de Lisboa. Este foi aliás um ponto colocado na sessão de perguntas e respostas, bem como a questão de haver certas bandas com um estatuto quase residente no Palco Mundo. Às vezes acho que o James Hetfield bem pode agradecer aos portugueses aquela TV gigante na casa de banho. De seguida, com Diogo Beja a moderar, discutia-se a contribuição dos festivais para a sustentabilidade dos artistas em Portugal, num painel com os músicos Frankie Chavez, Fred Pinto Ferreira e Noiserv, e com o agente e fundador da AMAEI Nuno Saraiva e a promotora Raquel Lains. Falou-se num âmbito mais alargado do que puramente o dos festivais — discutindo-se a importância dos discos, meios digitais, do espaço de promoção na imprensa e o financiamento permitido para os artistas através do Spotify ("acho que o Thom Yorke nisso se espalhou ao comprido", dizia o Nuno Saraiva), Youtube ou estratégias de crowdfunding. No que respeita a festivais per se, a conversa levou o auditório a conhecer a importância dos ditos showcase festivals como o Eurosonic ou o SXSW para conseguir agenciamento lá fora e a necessidade de Portugal integrar o European Talent Exchange Program. Conhecemos ainda algumas das experiências mais memoráveis/caricatas dos três músicos em festivais, e soubémos pelo Fred que os nórdicos curtem à brava kuduro. Para diversificar um bocado a tarde, fui para o outro auditório assistir à apresentação — profissional, dizia o programa — do Portugal Festival Awards, onde foi dada a conhecer a génese do projecto que visa distinguir os melhores festivais nacionais nas mais diversas categorias. Numa apresentação bastante divertida, Rita Pires e João Dinis, os fundadores do evento falaram-nos da génese do mesmo, do caminho que levou à primeira cerimónia no ano passado, dos vários  processos de escolha — júri, categorias, etc. — e dos passos em mente para a edição seguinte. Contaram ainda que, das inscrições para os prémios houve um certo festival de metal que escolheu não participar mas, ei, também são do metal e provavelmente não gostam de ninguém. Após duas conferências matutinas às quais não consegui comparecer de novo, arranquei o segundo dia de Talkfest — este denominado o International Day, uma novidade - com uma conversa acerca das fontes de rendimento nos festivais.  Se fora do ISEG uma manif à porta da assembleia da república fazia ecoar os estridentes e chatos megafones dos sindicatos, no auditório CGD nada mais pacífico, com um painel ligeiramente alterado face ao anunciado que contava com Fiona Stewart (directora do Green Man Festival), Ivan Milivojev (director do EXIT Festival), Álvaro Costa (radialista), Pedro Viegas (director da Everything is New) e Fernando Ribeiro (dos Moonspell) e moderado por James Drury (diretor do Festival Awards Ltd) que até então fora também presença constante nos anteriores fóruns do dia. Pedro Viegas utilizou o exemplo do Optimus Alive para referir que no contexto português é impossível suportar os custos de um festival apenas com a venda de bilhete, enfatizando a necessidade de assegurar patrocinadores de peso para o evento, referindo-se ainda à estratégia internacional que é aposta do Alive. Concordou-se em como os festivais, mais do que música, vendem uma experiência e, como o referiu Fernando Ribeiro, alguns estão para os festivaleiros como Meca está para os muçulmanos. No caso português, destacou-se a urgência de promover e associar os festivais como veículo de comunicação do próprio país, sugerindo-se a articulação com as entidades governamentais destinadas a esse propósito. Para fechar o circuito de conversas sobre festivais tivemos um debate sobre o European Festival Census report, moderado pela jornalista Ana Teresa Ventura e com a presença de James Drury ("You're probably so sick of my name by now"), Paulo Junqueiro (director da Sony Music Portugal) Marta Junqueiro (relações públicas do Talkfest), Martim Rodrigues (gestor de operações da Simplicity ou "just the transport guy") e César Couto Ferreira, (director geral de uma cena qualquer na internet chamada VICE — visitem, vão curtir). Após uma introdução sobre a criação e objectivo do estudo, traçou-se o perfil do festivaleiro, a sua postura perante estratégias de naming de festivais (basicamente um bonito ninguém quer saber salvo algumas excepções), e a influência do Facebook e redes sociais na difusão e comunicação dos eventos. Aqui falou-se de tudo que se possa imaginar dentro do tema: dos tolinhos que erguem bem alto o seu iPad no meio da multidão, de drones a distribuírem imperiais pelos recintos, do livestream do Milhões de Festa e até da Hatsune Miku. No final, uma das questões essenciais do Talkfest: serão os festivais bons negócios?  A resposta foi bastante bem sumarizada por James Drury , "I think it's a festival is one of the riskiest things you can do", e que quem os organiza precisa de ser meio louco para o fazer. Merece todo o mérito, também. Que os continuem a fazer, nós cá continuaremos para os discutir.