Este artigo foi originalmente publicado na VICE USA.
Este vídeo arrebatador de “This Is America”, de Childish Gambino, recriado num velho Macintosh, é a melhor coisa que vais ver hoje.
Mesmo com a tecnologia de ponta de hoje em dia, a animação é um processo que requere quantidades de tempo inacreditáveis. Filmes como Isle of Dogs e The Incredibles 2 necessitaram de um exército de animadores com computadores super potentes e milhões de dólares ao longo de anos de trabalho. Uma pessoa sozinha pode demorar o mesmo tempo para fazer um curtíssimo filme de animação.
Pinot Ichwandardi, indonésio de nascença, está a fazer uma versão animada do vídeo de Glover num computador que quase nem chega a ser millennial. Nos últimos tempos, ele tem passado entre duas a três horas por noite a "costurar a pixel" - como apelida o seu método de ilustração zen - cada frame do vídeo, através de uma placa Summagraphics de 1970, ligada a um Macintosh 128k de 1984, com o programa MacPaint.
Depois, esta lenda absoluta transfere os frames através de um sacana de um floppy disk para um Macintosh SE de 1987, onde faz a animação com o software MacroMind VideoWorks. Isto parece mais uma qualquer forma elaborada de masoquismo artístico, mas Ichwandardi não vê as coisas dessa forma.
“É como guiar um carro clássico", diz à VICE. E acrescenta: “A limitação [da tecnologia] torna-se um novo valor, uma nova arte. Qualquer falha, do tipo 'memória insuficiente', é admissível… com este método o processo em si torna-se mais importante que o resultado. O processo é a história. É essa a razão que me levou a publicar o processo no Twitter. Sem esse processo, o resultado seria apenas mais uma peça de 'pixel art', gerada por máquinas modernas".
Desde o lançamento explosivo de “This Is America”, Ichwandardi juntou quase 500 frames, num total de 38 segundos. Por cada hora que passa a animar, passa outra hora a estudar a "dança voodoo" coreografada por Sherrie Silver.
A animação não é propriamente um remake frama a frame do vídeo, mas sim uma representação 2D da coreografia, o que significa vários desafios extra, como tentar adivinhar em que posição estão os pés de Glover quando na imagem só se vê a parte superior do seu corpo. “Suficientemente perto", escreveu no Twitter a semana passada.
Ichwandardi faz filmes desde que, em criança, o seu pai o introduziu ao mundo da animação em película e utiliza Macs desde meados dos anos 80. Começou a sua colecção de ferramentas vintage em feiras de rua quando a família vivia no Kuwait e completou-a depois em Nova Iorque e através do eBay. O seu objectivo não é meramente exaltar a nostalgia, mas sim "educar a Internet" - e os seus filhos - sobre a chamada "tecnologia obsoleta". "A nossa casa torna-se um laboratório pessoal, uma sala de aulas dedicada à arte e à tecnologia. Ao darmos acesso às nossas crianças à tecnologia antiga, elas desenvolvem novas ideias, baseadas na sua própria perspectiva", justifica.
Ou seja, o animador não está a tentar ser o próximo Nicole Arbou. Em vez disso, está focado no que é mais acessível para ele e para a sua família. "Sou pai de três crianças e o vídeo chamou-lhes a atenção, embora a mensagem e a canção não sejam propriamente para elas. Portanto, eu e a mina mulher criámos uma distracção para que elas se focassem num aspecto diferente: a coreografia da dança. Eu não sei dançar, mas pelo menos consigo fazer uma animação da dança".
Apesar de, provavelmente, nunca chegar a poder publicar o vídeo na sua totalidade devido a questões de direitos autorais, Ichwandardi pensa que poderá, pelo menos, mostrá-lo em formato GIF quando terminar. Para já, a sua tarefa de paciência nocturna, é apenas uma forma de relaxar.
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