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A "economia recordista" de Trump está a deixar muitos norte-americanos descontentes

Excepto os ricos, que estão felizes da vida.
ilustração de Trump de polegares esticados rodeado de notas de dólar
Ilustração a partir de uma foto original de Nicholas Kamm/AFP/Getty.

Este artigo foi originalmente publicado na VICE US.

Depois de levar a cabo uma campanha fundamentada na ideia de que os Estados Unidos eram um terreno baldio empobrecido, Donald Trump tem passado a sua presidência a gabar-se da expansão económica que começou com Barack Obama, mas a que deu continuidade. Embora o possamos ver como um autêntico guloso por reconhecimento, Trump não está propriamente errado quando celebra a “economia recordista” nos seus tweets: o desemprego nos Estados Unidos é o mais baixo dos últimos 50 anos, a bolsa de valores está em altas e o PIB está a crescer rapidamente. Sondagens recentes concluíram que as pessoas estão confiantes no estado da economia.

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Mas, isso não significa que os norte-americanos realmente acreditem que na globalidade haja mesmo uma economia florescente a melhorar as suas vidas. Uma sondagem da Monmouth divulgada na última segunda-feira, 29 de Abril, mostra que esta recuperação económica não está a elevar a população de forma igual. Dos 801 adultos norte-americanos entrevistados, apenas 12 por cento acreditam ter "beneficiado muito com o crescimento recente da economia dos EUA". E, embora 31 por cento indiquem que "receberam algum benefício da recuperação económica", 27 por cento dizem que não foram "muito" ajudados e outros 27 por cento que não foram ajudados "de todo".

Apenas 18 por cento dos entrevistados garantem que as políticas de Trump ajudaram muito as famílias de classe média e os mais ricos são os mais propensos a afirmar que a economia em ascensão lhes deu um "empurrão": 58 por cento das pessoas que ganham 100 mil dólares ou mais por ano dizem ter sido beneficiadas, enquanto apenas 34 por cento das pessoas que ganham menos de 50 mil dólares por ano e 42 por cento das que ganham entre 50 e 100 mil dólares reportaram ter sentido um benefício.


Vê: "A Terceira Revolução Industrial: uma nova e radical economia de partilha"


Os números não são necessariamente chocantes. Nem são muito diferentes de 2018 ou 2017, em que os dados diziam respeito a pouco antes de Trump tomar posse. Isto sugere que os medos dos norte-americanos pobres e de classe média, que ajudaram Trump a ser eleito, estão longe de terem sido aliviados. Curiosamente, alguns eleitores de Trump dos chamados "estados indecisos" sentem-se frustrados, porque as suas promessas de trazer de volta a manufactura não se materializaram. Isso significa que o populismo económico poderá ainda ser uma mensagem forte em 2020, apesar de todos estes indicadores estarem a apontar para cima.

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A sondagem da Monmouth descobriu também que as pessoas estão muito preocupadas com a acessibilidade aos serviços de saúde, com 19 por cento dos entrevistados a citarem-na como uma das principais preocupações, quando no ano passado tinham sido 13 por cento. Isto explica, em parte, porque é que candidatos presidenciais do Partido Democrata mais à esquerda, como Elizabeth Warren e Bernie Sanders, pedem Medicare para todos, juntamente com a eliminação da dívida estudantil e um ensino superior gratuito.

Essas políticas parecem destinadas a eleitores que ainda estão preocupados com a sua sobrevivência no dia-a-dia, mesmo quando a economia como um todo parece singrar. Os salários estão agora a subir, mas ainda não são suficientes para eliminar os danos causados pela desaceleração da última década. Os norte-americanos também têm que lidar com custos exorbitantes em relação a aspectos essenciais da vida: educação , saúde e habitação. A decisãoa legislativa de Trump mais marcante, a lei de cortes de impostos de 2017, beneficiou principalmente os ricos e alguns contribuintes ficaram indignados quando obtiveram restituições menores este ano, apesar de, em muitos desses casos, isso ter acontecido porque os seus rendimentos regulares subiram.

O que o estudo da Monmouth mediu não foi se uma economia em crescimento está a beneficiar as pessoas comuns, mas se essas pessoas se sentem beneficiadas. Talvez os norte-americanos estejam, em média, numa situação melhor do que há alguns anos, mas talvez estejam também mais conscientes da desigualdade ou tenham a sensação de estar a ser enganados. A mensagem de Trump em 2016 era, em parte, sobre como as estatísticas económicas mascaravam a dor das pessoas reais - chegou a chamar a essas estatísticas, como os números do desemprego, de “falsas”. Isso, evidentemente, teve eco entre eleitores-chave em certos estados do Midwest. Mas, agora, é Trump que tem que defender que a América está muito bem e que a economia está, realmente, a beneficiar todos. A questão é: será que as pessoas acreditarão nele?


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