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Novo relatório sugere 'grande probabilidade da civilização humana chegar ao fim' em 2050

A análise sobre mudanças climáticas foi escrita por um ex-executivo da indústria de combustíveis fósseis e apoiada por ex-chefe do exército australiano.
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Traduzido por Marina Schnoor
Sérgio Felizardo
Traduzido por Sérgio Felizardo
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Imagem: Mark Garlick/Science Photos Library via Getty Images 

Uma análise de cenário angustiante, mostrando como a civilização humana pode entrar em colapso nas próximas décadas com as mudanças climáticas, foi endossada por um ex-chefe da defesa e comandante sênior da marinha real australiana.

A análise, publicada pelo Breakthrough National Centre for Climate Restoration, uma think tank de Melbourne, Austrália, descreveu as mudanças climáticas como “uma ameaça existencial de curto a médio prazo para a civilização humana” e definiu um cenário plausível para onde a abordagem “negócios como sempre” pode nos levar nos próximos 30 anos.

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O artigo argumenta que os “resultados extremamente sérios” em potencial de ameaças de segurança relacionadas com o clima são muito mais prováveis do que o que acreditamos convencionalmente, mas quase impossíveis de quantificar porque “estão fora da experiência humana dos últimos mil anos”.

Na nossa trajetória atual, alerta o relatório, “o sistema planetário e humano vai atingir um 'ponto sem volta' até o meio do século, onde a perspectiva de uma Terra em grande parte inabitável levará à queda de nações e da ordem internacional”.

O único jeito de evitar os riscos desse cenário é o que o relatório descreve como “uma mobilização de emergência numa escala de Segunda Guerra Mundial” – mas desta vez focada em construir rapidamente um sistema industrial de emissão zero que coloque nos trilhos uma restauração do clima seguro.

O cenário alerta que nossa trajetória atual provavelmente vai acabar com pelo menos 3 graus Celsius de aquecimento global, que por sua vez pode desencadear um feedback amplificado de mais aquecimento. Isso levaria ao colapso de ecossistemas-chave, “incluindo o sistema de rifes de coral, a floresta Amazônica e o Ártico”.

Os resultados seriam devastadores. Cerca de um bilhão de pessoas seriam obrigadas a tentar se deslocar de condições impossíveis de sobreviver, e dois bilhões encarariam escassez de água. A agricultura entraria em colapso nas áreas subtropicais, e a produção de alimentos sofreria dramaticamente no mundo topo. A coesão interna de nações como EUA e China seria desfeita.

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“Mesmo com 2º C de aquecimento, mais de um bilhão de pessoas poderão precisar ser deslocadas e em certos cenários, a escala da destruição está além da nossa capacidade de lidar com a grande probabilidade da civilização humana chegando ao fim”, aponta o relatório.

O relatório foi escrito por David Spratt, diretor de pesquisa do Breakthrough, e Ian Dunlop, ex-executivo da Royal Dutch Shell, que já foi presidente da Australian Coal Association.

No prefácio do relatório, o almirante aposentado Chris Barrie – chefe das Forças Armadas Australianas de 1998 a 2002 e ex-vice-comandante da Marinha Australiana – elogia o texto por mostrar “a verdade nua e crua sobre a situação desesperadora dos humanos e do nosso planeta, pintando um retrato perturbador da possibilidade real da vida humana na Terra estar rumando para a extinção, do jeito mais horrível”.

Barrie agora trabalha para o Instituto de Mudanças Climáticas da Universidade Nacional da Austrália, Camberra.

Spratt disse a Motherboard que uma razão-chave para o risco não ser compreendido é que “muito conhecimento produzido por políticos é conservador demais. Como os riscos agora são para nossa existência, uma nova abordagem de clima e segurança é exigida usando análises de cenário”.

Outubro passado, a Motherboard relatou sobre evidências científicas de que o relatório da ONU para governos sobre as mudanças climáticas – cujas descobertas já eram amplamente reconhecidas como “devastadoras” – na verdade era otimista.

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Enquanto o cenário do Breakthrough aborda possibilidades de “maior risco”, geralmente não é possível quantificar sua probabilidade. Como resultado, os autores enfatizam que abordagens de risco convencionais tendem a minimizar cenários de “pior caso”, apesar deles serem plausíveis.

O cenário de 2050 de Spratt e Dunlop ilustra quão fácil pode ser acelerar sem freio na estrada das mudanças climáticas, que leva a um planeta praticamente inabitável em apenas algumas décadas.

“Esse cenário de 2050 encontra o mundo em colapso social e caos total”, disse Spratt “Mas existe uma pequena janela de oportunidade para uma mobilização de emergência global, onde experiências logísticas e de planejamento dos setores de segurança do mundo podem ter um papel valioso.”

Matéria originalmente publicada na VICE EUA.

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