A nova exposição de arte de Harmony Korine é uma ode ao VHS
Images cortesia de Gagosian.

FYI.

This story is over 5 years old.

Entretenimento

A nova exposição de arte de Harmony Korine é uma ode ao VHS

'BLOCKBUSTER' é inspirada na videolocadora perto do Taco Bell favorito do cineasta.

É uma noite nublada de setembro em Nova York, nos EUA, e uma fila está se formando na frente da galeria Gagosian em Upper East Side. Socialites e estudantes de cinema estão em busca de um momento, uma foto ou um autógrafo de Harmony Korine, que chegou atrasado para a inauguração de sua exposição BLOCKBUSTER. Esse fandom é revelador; o roteirista e diretor de clássicos cult como Gummo - Vidas Sem Destino e Trash Humpers agora está em outro nível de fama. Pode ser por causa do seu gangbang de cultura pop de 2012 Spring Breakers. Agora ele experimenta com a comédia em The Beach Bum, estrelando Matthew McConaughey como Moondog, um poeta maconheiro da Flórida que não dá a mínima para senso de estilo. O roteiro quase poderia ser uma página do diário de Korine, que atualmente divide seu tempo entre ficar com a família em Nashville e viver como um Hemingway moderno em Miami.

Publicidade

Desde que fez seu nome nos anos 90 com o roteiro para Kids de Larry Clark, Korine vem aprimorando sua arte como contador de histórias, construindo uma estética e universo próprios. Seus filmes levam o público em viagens surreais pelas entranhas da vida americana. Ele sonha com personagens indeléveis, todos com um certo fascínio de acidente de carro, sobrecarregados pelo destino e decisões ruins, mas ainda assim determinados a continuar. Esses retratos mais perturbadores da cultura jovem refletem a luta pessoal de Korine com a depressão e abuso de drogas. Mas mesmo que o bad boy do cinema americano tenha crescido – ou pelo menos virado a página –, seus filmes, pinturas e realidade continuam conectados. Eles derivam da mesma mente louca, que atualmente parece imersa na leveza do ser.

BLOCKBUSTER também habita esse espaço. A exposição é uma série de pinturas coloridas com fitas VHS e uma quebra clara das abstrações de sons e alucinações que o artista costumava fazer. Os fantasmas de seu passado ainda estão aqui, mas estão contidos em caixas. Ele transformou a sujeira e o desamparo em algo significativo. E ainda há ambição por trás de tudo que ele faz: encontrar beleza na realidade, por mais cruel e irreverente que seja.

A i-D se encontrou com Korine para falar sobre a arte imitando a vida, alcançar o nirvana e sua paixão por Taco Bell.

i-D: Você tem sido muito produtivo como artista nos últimos anos. Por que focar na arte e não no cinema?
Harmony Korine: Gosto mais de fazer arte hoje em dia. Também gosto de pescar. Em Key Largo eu comprei um barco com uma máquina eletrônica de pôquer. Eu coloco um cavalete perto da máquina e geralmente fico fazendo uma coisa ou outra durante o dia. Levo uma caixa de Mountain Dew e fico navegando. É uma rotina muito legal.

Publicidade

BLOCKBUSTER parece mais direto que seus trabalhos anteriores. Foi uma escolha consciente?
Não. Geralmente eu só como Taco Bell no café da manhã e almoço, e o Taco Bell que frequento fica do lado de uma videolocadora. Eu ia ver a vitrine deles todo dia. Eu adorava ver as caixas de VHS todas juntas, como uma instalação gigante. Nunca tinha ninguém na loja e a poeira cobria as caixas como uma névoa branca bonita. Isso me fez querer pintar por cima delas. Gosto da ideia do que tem dentro da caixa e como posso transformar a narrativa.

É assim que você trabalha como diretor também, não? Deixando o visual comandar a narrativa, trocando roteiros e fazendo os atores improvisarem?
Sim. Também bebo água mexicana.

Por que você levou tanto tempo para lançar outro filme?
Sou lento. Aproveito a vida. Fazer filmes é um saco. Moro na Flórida. Tento fazer algo novo todo dia, mas também admiro pessoas que não tem ambição. É um ato de desafio não ter ambição. E também é um bom estilo de vida. Conheço um cara que só bebe cerveja e dirige seu barco o dia inteiro. Ele costuma desmaiar bastante, mas quando está acordado ele está feliz.

Foi esse cara que inspirou Moondog? Como você pensou em The Beach Bum?
Principalmente andando por Key West e vendo as pessoas lá.

Seus filmes muitas vezes deixam as pessoas se sentindo desconfortáveis. Você quer a mesma coisa com esse novo longa?
Não, espero que as pessoas se sintam bem depois de assistir.

Publicidade

Você sempre tem os dedos no pulso do zeitgeist. Como você se mantém atualizado com o que está acontecendo?
Só me empolgo com as coisas que a garotada faz. Sempre presto atenção.

No que mais você está trabalhando agora?
Principalmente pintando. Também estou comendo muito Fruity Pebbles. Isso me faz sentir bem. Todo dia eu vou pro Taco Bell e peço a mesma coisa, Cheesy Gordita Crunch. Nos finais de semana, para variar, peço o Triple Double Crunch Wrap. Ouço City Morgue e Vybz Kartel enquanto como. Depois disso posso escrever um poema e viajar. Esse é o futuro.

Como artista multidisciplinar, tem alguma coisa que você ainda gostaria de experimentar?
Acho que já fiz de tudo. Eu diria ópera, mas não gosto de ópera.

Você se sente nostálgico sobre o passado?
Não, não dou a mínima. Gosto do futuro. No futuro posso comer Cocoa Puffs e fumar um o dia inteiro. Posso andar de jet ski com um ladrão de diamantes. O tempo é arbitrário agora. A internet nivelou o tempo. Por isso ando em direção à luz.

BLOCKBUSTER fica em exposição na galeria Gagosian até 20 de outubro de 2018. The Beach Bum chega aos cinemas nos Estados Unidos em 22 de março de 2019.

Siga a VICE Brasil no Facebook , Twitter , Instagram e YouTube.