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Música

Por que a galera no Notting Hill Carnival está boicotando o Boiler Room

O envolvimento cada vez maior da gigante de streaming no evento foi duramente criticado pela comunidade londrina.
Screencap via YouTube

Matéria originalmente publicada na VICE UK.

E ai pai, qual a boa? Em qualquer lugar menos na sede do Boiler Room.

Qual o pé da fita? Os gigantes do streaming receberam duras críticas por conta de seu envolvimento cada vez maior com o Notting Hill Carnival em Londres— em grande parte por conta da grana que recebem para fazer a cobertura do evento.

No ano passado, o Boiler Room se juntou à Guinness para fazer transmissões ao vivo de oito diferentes soundsystems. Neste ano o número aumentuo e os caras ainda fizeram diversos vídeos curtos que foram ao ar antecipando o evento. Com sua influência cada vez maior, muitos sentem que o Boiler Room estaria lucrando em cima da cultura caribenha, além de dar uma cara corporativa ao evento, tudo isso da forma mais nociva possível, o que rendeu até umas pichações pelo bairro.

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As tensões aumentaram na semana passada, quando foi revelado que o Boiler Room havia recebido uma bolsa de £297,298 do Conselho de Artes da Inglaterra para cobrir o evento no ano que vem. Levando em conta que a responsável pelo evento, London Notting Hill Carnival Enterprises Trust (LNHCET), recebe em comparação pífios £100,000 dos conselhos de Kensington e Chelsea para tocar o carnaval inteiro, muita gente ficou sem entender como foi feita a distribuição dessa grana.

Dito isso: o problema não é só dinheiro. Os críticos também reclamam da intrusão destas transmissões — muitas vezes filmando gente doidaça e sem qualquer tipo de consentimento prévio e formal. Uma coisa é ir num evento do Boiler Room e aparecer ali no meio da multidão, já o rolê de Notting Hill dura dois dias, e cerca de dois milhões de pessoas vão pra rua. Ninguém quer ser transmitido ao vivo depois de 36 horas de curtição sem limites.

Um artigo de autoria anônima intitulado Babylon Room foi publicado neste sábado, cristalizando muitos destes argumentos, afirmando veementemente que o Boiler Room estaria "embranquecendo a cultura negra de forma a transformá-la em um produto palatável". Resumindo: "O Boiler Room não é bem-vindo à festa."

A empresa respondeu às críticas em uma detalhada declaração, que relata integralmente onde a grana será gasta. De forma abrangente, eles definem seus objetivos como mudar percepções negativas sobre o Notting Hill Carnival na mídia, criando um registro visual do final de semana e garantindo um futuro sustentável para a festa. Em meio aos planos, há finanças alocadas para programas de treinamento e mentoria em torno da festa, bem como £54,000 destinadas à BASS (Associação Britânica de Soundsystems). O Boiler Room também promete oferecer consultoria a diversos soundsystems para ajudá-los a obterem patrocínio e financiamento público.

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Quanto ao porquê de terem recebido o dinheiro no lugar dos idealizadores do festival, foi dito o seguinte: "O Boiler Room entende que não tem como solucionar os problemas de financiamento do Notting Hill Carnival: não podemos pedir por financiamento em nome da LNHCET ou das produtoras individuais que constituem o evento. O que podemos fazer e é para isso que serve esta bolsa, é desempenhar um papel contra as percepções midiáticas negativas da festa e ajudar por meio de consultorias e oficinas as principais organizações do Notting Hill Carnival a obterem financiamento público e privado."

Tantos outros defenderam o Boiler Room, afirmando que o problema não é tão grave assim. O Notting Hill Carnival, dizem, é um grande evento no Reino Unido e sendo assim, a presença do Boiler Room é compatível como em qualquer festival de música. Mesmo assim, a declaração da empresa não ajudou muito.

Ainda não se sabe exatamente como o Boiler Room poderia aftar a percepção da mídia em meio ao público que acredita nos estereótipos negativos da festa — em sua maior parte suburbanos leitores do Daily Mail. Muitos acreditam ainda que a facilitação de patrocínio privado acabará tirando a festa das mãos da comunidade. Em resposta a isso, o Boiler Room disse: "Patrocinadores participam do NHC há anos, mas acreditamos que a forma como facilitamos o envolvimento de marcas no evento tem maior propósito, compromisso e traz mais benefícios ao Carnival…"

No final, tudo isso vai além das intenções do Boiler Room. A grana que eles receberam levanta sérias preocupações sobre o futuro da festa, mesmo que seu desejo de enriquecê-la seja completamente altruísta, não há uma resposta definitiva que explique porque uma empresa de mídia externa acabou com tanta influência financeira e autoridade cultural. Levando em conta que o perigo de cancelamento do Notting Hill Carnival só tem aumentado ao longo dos últimos anos — em grande parte pela falta de apoio do conselho local e porradas frequentes da imprensa — é justo afirmar que muitos dos problemas encontrados na tal bolsa são bem reais.

Resta saber se é uma empresa como Boiler Room que irá resolver isso.

@a_n_g_u_s