As 24 horas de Moullinex no MAAT vão ser uma "Zona Autónoma Temporária" de festa, brilho, sujidade, hedonismo e reflexão
Foto por Nash Does Work

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Música

As 24 horas de Moullinex no MAAT vão ser uma "Zona Autónoma Temporária" de festa, brilho, sujidade, hedonismo e reflexão

É o lançamento de "HYPERSEX", mas não é só um concerto. Também é uma rave, mas não é só uma rave. É uma exposição, que não é só uma exposição. Vais perder?

Mais do que uma festa de lançamento de HYPERSEX, obra maior na carreira de Luís Clara Gomes na pele do seu alter ego Moullinex, o que o músico leva amanhã, 4 de Outubro, ao Project Room do MAAT - Museu de Arte, Arquitectura e Tecnologia, em Lisboa, é uma celebração colectiva e grandiosa da pista de dança, da club culture, embrulhada em música, artes visuais e performances.

E uma celebração que pretende também contornar as regras do efémero que são naturalmente impostas a qualquer espectáculo produzido perante uma audiência. No dia em que o MAAT celebra o primeiro aniversário, 5 de Outubro, as portas do Museu abrem-se de forma gratuita ao público e no Project Room, entre os despojos da noite anterior transformada em manhã de Feriado Nacional, há três filmes projectados ao longo dia, especialmente escolhidos para a ocasião e realizados Michael Smith&Mike Kelley ( A Voyage of Growth and Discovery, 2009), Luiz Roque ( Ano Branco, 2013) e Edgar Pêra ( Delírio em Las Vedras, 2017).

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O Project Room será assim convertido num espaço multidisciplinar e alternativo - uma pista de dança improvável, ocupada por uma série de objetos artísticos e documentais produzidos por vários artistas, designers gráficos e ilustradores: Bráulio Amado, Tiago Evangelista, João Pedro Vale e Nuno Alexandre Ferreira, Carolina Pimenta, Lorde Mantraste, Gonçalo Duarte, Sonja, Rudolfo, Oscar Rana, Hell Yeah, Mauro Ventura, entre outros.

Como já deves ter percebido, esta apresentação de HYPERSEX está posicionada naquela categoria de "fim do Mundo (s)em cuecas". Um happening como se diz no estrangeiro. "Será uma celebração colectiva, que terá como ponto de partida uma reflexão crítica e criativa sobre a Club Culture, enquanto epicentro de um universo de pluralidade cultural e identitária, mas também sobre a forma como a música eletrónica tem sido um grande catalisador e difusor de muitos dos fenómenos culturais, sociais e políticos que marcaram a cultura ocidental dos séculos XX e XXI". Isto diz Moullinex num comunicado à imprensa, mas, na verdade, já o tinha dito à VICE há uns meses, numa conversa informal regada a cocktails de autor, à beira de uma piscina habitada por flamingos cor-de-rosa (é mentira, foi mesmo numa mesa de café a beber uma imperial).

HYPERSEX não é só música. É um tratado. Uma carta de intenções. Uma resenha histórica. Um caldeirão de cultura popular a fervilhar de ideias. Tantas, que tudo o que implicasse menos do que aquilo que vai acontecer no MAAT a 4 de Outubro, ficaria aquém da inventividade genial que tem rodeado este disco desde que lhe começámos a conhecer os primeiros acordes, embrulhados nalguns dos melhores videoclips que este País viu nascer nos últimos anos.

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Capa de HYPERSEX, por Bráulio Amado

É também por isso, por essa necessidade de confrontar a grandiosidade musical com um cenário físico impactante, que dificilmente haveria melhor sítio que o MAAT para albergar uma rave que não é só uma rave, um concerto que não é só um concerto, uma exposição que não é só uma exposição.

"É uma zona autónoma temporária. Até porque Bráulio Amado, um dos mais prolíficos e internacionalizados designers nacionais, está metido ao barulho, dando corpo e forma visual a HYPERSEX com toda a elegância, sujidade e aparato que este projecto merece. Além de toda a componente gráfica do álbum, Bráulio traça a narrativa estética deste modus-operandi HYPERSEX, que além de musical é óbvia e estupidamente visual", reflecte o director criativo da empreitada e "Guardião do Conceito", Sebastião Faro a.k.a. God The Creation Director.

O "Guardião" acrescenta: "A galeria de arte ou o museu são, de alguma forma, antagonistas do espaço nocturno, da 'cultura da noite' ou das cenas underground e experimental. O modelo modernista do chamado 'cubo branco' apresenta-se como um espaço sagrado de contemplação silenciosa e solitária, enquanto a discoteca aparece como um espaço de excesso sem limites, de sexualidade e desejo, uma zona de refúgio e despersonalização onde o real se confunde com o imaginário e o fantástico".

E é por isso que HYPERSEX é também, continua Faro, "uma reflexão sobre a forma como os artistas têm trabalhado o tema da cultura da noite e da música electrónica, olhando para ela como uma manifestação de escapismo, de um desejo utópico de resistência, evasão da monotonia da vida quotidiana, às violências da discriminação sexual, de classe e de género". "Por tudo isto, a realização desta acção no MAAT é particularmente relevante e inovadora no contexto artístico nacional", garante, por sua vez, a curadora do Museu, Inês Grosso, que para além da abertura do espaço ao evento tem nele um contributo curatorial imprescindível.

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Voltando à música, no espectáculo de Moullinex, e entre um rol infindável de convidados, Ghetthoven vestirá a pele de vários personagens, "num momento que cruza a tecnologia de Realidade Virtual e Realidade Aumentada com a história da pista de dança, acompanhado de João Pedro Vale e Nuno Alexandre Ferreira com os seus canhões fálicos operados por Aurora Pinho e cobertos de glitter", que vão disparar confetti durante a maratona de 10 horas de DJ sets que se seguem ao concerto, num cartaz totalmente secreto, "mas garantidamente incrível".

Esta ideia de promiscuidade criada na pista de dança materializa-se também numa fanzine, tão colaborativa e diversificada como o álbum e que contará com pesos-pesados da ilustração e design gráfico como Gonçalo Duarte, Lord Mantraste, Sonja, Germes Gang, Oscar Rana, Sollidha, Simão Simões, Rita Matos, Francisco Ferreira e Rudolfo, que exploram graficamente a sua relação com o tema e ainda com os videos de Bruno Ferreira, João Pedro Vale e Nuno Alexandre Ferreira, entre muitos outros.

"É algo que se pretende que exista num grande formato e à escala humana e é assim que serão exibidas estas homenagens ao lado mais DIY e espontâneo da Club Culture, em paralelo com a curadoria de arte contemporânea feita pelo MAAT e uma amostra do nosso 'gabinete de curiosidades' recolhidas nas filmagens de alguns dos videoclips que acompanham os singles, cada um deles assente na colaboração entre agentes improváveis ou colocados em zona de desconforto", conclui Sebastião Faro.

HYPERSEX @ MAAT arranca às 23h00 de 4 de Outubro, no Museu de Arte, Arquitectura e Tecnologia. Mais detalhes aqui.