Por que alguns cães gostam de comer cocô?

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Por que alguns cães gostam de comer cocô?

Em trabalho inédito, acadêmico explica por que é tão difícil evitar o comportamento ancestral.

"Socorro, meu cão come cocô!" Esse talvez seja um dos medos mais repulsivos que passa pela cabeça dos donos de caninos domésticos.

Embora a gente saiba que animais têm comportamentos meio esquisitos (quem nunca foi objeto involuntário da lascívia canina?), ver o peludinho mastigando charutinhos de merda é nojento e pouco decepcionante. O choque pode ser tão grande que algumas pessoas desalmadas consideram abandonar o melhor amigo. E tudo porque o bicho curte comer uns cocôs.

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Por isso, Benjamin L. Hart, pesquisador da Escola de Medicina Veterinária da Universidade da Califórnia, nos EUA, decidiu pesquisar esse comportamento nojento e chocante (para os humanos). Com outros quatro colegas seus, Hart publicou o artigo "The paradox of canine conspecific coprophagy" ("O paradoxo da coprofagia conspecífica canina"). "Conspecífica", aliás, significa "da mesma espécie". Em termos científicos, significa que o estudo analisou apenas o consumo de toletes caninos; os de outras espécies, como os de gatos, ficaram de fora.

Em primeiro lugar, é preciso deixar claro que o consumo de fezes não é visto como uma anormalidade e não causa danos de saúde aos cães. Segundo, a coprofagia não significa que seu cão esteja com algum problema gastrointestinal, deficiência nutricional ou distúrbio comportamental - ao contrário do que sugerem diversos textos sobre o assunto encontrados na internet.

Hart e seus colegas estimam que entre 16 e 23% dos cães pratiquem a coprofagia. Comparando animais que comem e não comem cocô, os pesquisadores afirmam que sexo, castração, idade, dieta, facilidade treinamento para fazer as necessidades no local correto e comportamento compulsivo não preveem a coprofagia. Uma característica particular dos papa-bosta é a voracidade ao comer, segundo dados de questionários respondidos pelos "tutores".

Então por que (des)cargas d'água os doguinhos comem dejetos? Uma pista está no fato de que a esmagadora maioria só manda para dentro toletes "frescos", de até dois dias. Segundo o artigo, o lobo, parente direto do cachorro doméstico, faz a mesma coisa. A coprofagia poderia ser, então, um comportamento herdado. A pesquisa, frisam os autores, não comprova essa hipótese, mas sugere que ela seja considerada no futuro.

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Os lobos, explicam, consomem fezes para manter suas áreas de descanso "limpas", ou seja, livre de parasitas intestinais que poderiam desenvolver larvas infecciosas se ficarem dando sopa por mais de dois dias. Também por isso, talvez, os cães domésticos coprofágicos sejam mais ávidos ao comer. "Para os lobos, a comida é geralmente mais escassa e, às vezes, quando eles matam uma presa, outros lobos podem tentar roubá-la. Ser ávido vale a pena", afirma Benjamin L. Hart.

Essas conjecturas podem ser úteis para explicar por que a taxa de sucesso de produtos que prometem acabar com esse comportamento foi muito baixa. A pesquisa considerou 11 marcas vendidas em pet shops gringos e nenhuma dela teve sucesso em interromper de maneira significativa o banquete de merda canino. Segundo Benjamin L. Hart, "no presente momento, não há maneira conhecida" de acabar com a coprofagia.

Considerando a hipótese da herança evolutiva, Hart diz que uma possibilidade seria "não usar comedores [de fezes] ao cruzar cães de raça poderia reduzir o comportamento no futuro". Segundo ele, assim seria possível "confirmar que os animais resultantes não são comedores [de fezes]".

Segundo Hart, boas novas para os papais e mamães podem aparecer em breve. "Nosso próximo passo é testar uma estratégia para curar cães coprofágicos. Espero que tenhamos novidades em seis meses."

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