Um balanço do Festival Path 2018
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Um balanço do Festival Path 2018

O maior evento sobre inovação e criatividade do Brasil reuniu mais de 20 mil pessoas no último fim de semana. A VICE esteve lá com filmes e palestras sobre jornalismo na música e nas ruas.

Diversos pontos do bairro de Pinheiros, em São Paulo, receberam no último fim de semana uma série de atrações como parte do Festival Path. O evento, que em sua sexta edição já se impõe como o maior do país dedicado a discutir inovação e criatividade, atraiu cerca de 20 mil pessoas nos dois dias, segundo informações da assessoria de imprensa. Foram mais de 300 palestras e atividades gratuitas. Entre as atividades, rolaram debates, mostra de filmes da VICE e workshops.

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Entre os destaques deste ano, Ian SBF, do Porta dos Fundos, e Deive Pazos, do site Jovem Nerd, debateram sobre a trajetória de crescimento do canal Porta dos Fundos dentro do YouTube e a respeito de como tal formato midiático colaborou para influenciar uma nova linguagem de humor na era millennial, reverberando até nos formatos televisivos, que já absorvem a dinâmica iniciada por eles e outros canais nos últimos seis anos. "No começo, tudo o que queríamos era um espaço na TV", confessou Ian durante o bate-papo, "mas logo percebemos que a melhor plataforma era mesmo a internet."

Outro debate interessante foi conduzido por Fernando Grostein e Guilherme Melles, do Quebrando o Tabu. Eles falaram sobre como um documentário acabou se convertendo em comunidade de trocas de ideias livres nas redes e projetos voltados à TV a cabo — eles vão estrear em breve uma parceria com o GNT, que prevê uma série em 10 episódios. De acordo com Grostein, isto se deve ao fato de que o documentário foi um divisor de águas no debate acerca do combate às drogas no Brasil, com repercussão internacional. Já Guilherme, compartilhou a experiência de empreender uma das mais influentes redes de conteúdo focado na defesa dos Direitos Humanos.

Mais destaques incluíram a gravação aberta ao público de um podcast com o músico Tom Zé, sendo entrevistado pela jornalista Roberta Martinelli, no Tomie Ohtake; a palestra do botânico Ricardo Cardim, “Cidades Verdes de 3ª Geração no Brasil”, sobre como o paisagismo nas cidades pode ajudar a resgatar a mata nativa brasileira, no Ginásio ACM; e o papo com o professor de economia da USP Ricardo Abramovay, que discorreu sobre a importância do desenvolvimento tecnológico para a garantia de um futuro sustentável, no Centro Cultural Rio Verde.

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Um dos maiores espaços da programação, o teatro do Tomie Ohtake, com capacidade para 600 pessoas, lotou e deixou uma muvuca de gente para fora em ambas as palestras "Não tenho mais idade!", com Regina Casé, e "Siga em frente - Como fazer sentido em tempos modernos", com o mestre em meditação Akash Barwal, da Associação Internacional Arte de Viver.

A VICE Brasil marcou presença no festival com uma mostra de documentários latino-americanos, em que foram exibidos os títulos Caiu na Rede, sobre pornô de vingança; Por Dentro do Templo de Lúcifer da Colômbia, sobre o cara que afirma ser filho do diabo e que abriu um templo dedicado a Satanás na Colômbia; Modo Sexo: Latin Spanking, retrato do universo BDSM e fetiche das palmadas; El Naya: Colombia’s Hidden Cocaine Route, mostrando de perto a rotina dos trabalhadores da indústria da coca no país; El Temblor, repercussão do terremoto mais catastrófico da história do México e a volta dos tremores; Carnaval de Máscaras de Leme; Famílias Diversas, um retrato dos espaços que abrigam jovens LGBT na Cidade do México; Furries, que explica a cena antropomórfica brasileira; e Transamazônicas: Las Reinas de La Selva, uma abordagem sobre a coroação da rainha LGBT da Amazônia colombiana.

Assista aos documentários da VICE Brasil que estiveram em cartaz:

Carnaval de Máscaras de Leme


Caiu na Rede


Furries


Além disso, o nosso editor de música Eduardo Roberto e a repórter Amanda Cavalcanti, do Noisey, debateram a existência de um jornalismo musical millennial no teatro do Tomie Ohtake. Ao levar a público discussões presentes no dia a dia da redação, conclusões como a perda de influência da crítica especializada junto às novas gerações foram lançadas na roda. “Quando saiu o emo colorido a gente não soube o que fazer, não conseguiu ver onde estava o próximo trend”, exemplificou Roberto citando sua passagem pela MTV. “A crítica virou essa coisa da opinião das pessoas de uma forma geral. Mas ela existe”, afirmou. “As pessoas da minha geração que se interessam por jornalismo ainda veem uma importância simbólica da crítica”, comentou a jornalista de 21 anos, “mas talvez só a gente”.

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O editor de música da VICE Brasil Eduardo Roberto e a repórter Amanda Cavalcanti discutem jornalismo musical millennial no Teatro do Instituto Tomie Ohtake. Foto: Ivana Carvalho/VICE

No domingo (20) pela manhã, uma galera enfrentou a chegada da frente fria na Praça dos Omaguás para um debate com o editor-chefe André Maleronka, a repórter Débora Lopes e o editor de foto Felipe Larozza, sobre a cobertura da VICE nos protestos de 2013 e as decorrentes consequências ainda sentidas em 2018. “Os setores de direita conseguiram perceber a força dos movimentos antes da esquerda, e acabaram dominando as manifestações”, concluiu André numa análise geral dos acontecimentos. “Foi doido porque conseguimos ver isso em tempo real, outros veículos e setores da sociedade não conseguiram."

Débora Lopes, Felipe Larozza e André Maleronka posam para retrato ao final do debate. Foto: Deividi Correa

“Eu lembro que, no primeiro ato, no Teatro Municipal, tinha um tiozinho vestido de Chaves, fazendo umas palhaçadas, e uma galerinha muito nova com camiseta do Passe Livre. De repente começou a encher, e o pessoal seguiu marchando pelas ruazinhas do Centro, pixando (A) de anarquia…”, relembra Débora. “Quando chegamos na avenida Nove de Julho, eu pensei: ‘Vai dar merda!’. Aquilo tinha muita energia, uma força que eu não sei se na época entendíamos o que estava rolando. Foi o início da polarização política que vivemos hoje”.

“Foi ali que começou o fenômeno da multiplicação de uma galera jovem com câmera na mão. Cada vez mais e mais gente começou a querer registrar os acontecimentos. Em todos os protestos se tornou comum ter uma banca de gente com câmera na linha de frente. E nisso surgiu também essa nova linguagem, dos vídeos curtos, e do registro imersivo, que privilegia mais os acontecimentos e menos o foco e o enquadramento planejado”, observou Larozza em sua fala. “Muitos profissionais de vídeo e foto de prestígio da nova geração surgiram ali. Hoje, alguns viraram até renomados fotógrafos de guerra."

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