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Os carinhas que gravaram vídeo machista poderão responder processo na Rússia

O papelão machista dos brasileiros já ganhou o título de maior besteira da Copa do Mundo de 2018.

O caso dos brasileiros que gravaram os vídeos na Rússia antes do primeiro jogo do Brasil pedindo à uma mulher estrangeira falar sem entender frases grotescas não vai acabar muito cedo. No último domingo (17), após o vídeo viralizar nas redes sociais entre internautas brasileiros, começou uma caça implacável para descobrir a identidade dos homens responsáveis pelo assédio. A internet, mais uma vez, não perdoou.

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O primeiro homem a ser identificado foi o advogado pernambucano Diego Valença Jatobá, ex-secretário de Turismo de Ipojuca (PE), à época no PSB. Em pouco menos de 48 horas, foi descoberto que Diego já foi punido por dever mais de 37 mil reais de pensão alimentícia à ex-mulher. Em 2012, o advogado também foi condenado por mau uso do dinheiro público enquanto comandava a pasta de Turismo de Ipojuca, município onde está localizada a praia de Porto de Galinhas. Os dois processos ainda correm na justiça.

Os antigos colegas e funcionários da Secretaria de Turismo, Cultura e Esporte, em Ipojuca, chegaram a afirmar para a imprensa que não se espantaram com o comportamento do ex-secretário. A OAB-PE publicou uma carta de repúdio lamentando o ocorrido e levantando a possibilidade do advogado sofrer alguma penalização pela sua atitude na Rússia.

A partir de Diego, foi fácil descobrir a identidade dos outros homens que aparecem nos vídeos pedindo para que a mulher repetisse frases como “Buceta Rosa!” e “Essa é bem rosinha” sem saber do real significado das palavras.

O engenheiro Luciano Gil foi um dos homens identificados nos vídeos. Em uma entrevista, afirmou que o clima geral era de brincadeira e que a mulher sabia o que estava repetindo. Além disso, Gil disse ter ficado surpreendido com a repercussão do vídeo. “Somos pais de família, trabalhadores e vocês estão acabando com a vida da gente… Quem está brincando carnaval exagera um pouquinho na bebida e às vezes passa do ponto. Peço desculpas às mulheres que possam ter se sentido ofendidas, mas estão transformando um copo d’água em uma tempestade”, disse.

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O engenheiro, que já foi alvo de uma operação em 2015 em conjunto com a Polícia Federal e a Advocacia Geral da União (AGU), acusou os brasileiros de estarem instigando violência contra eles. “Estão instigando os russos contra nós. Até agora eles foram muito solícitos, principalmente as russas. Carinhosas, afetivas. Os brasileiros estão instigando a violência aqui.”

Depois de Gil, dois outros homens foram identificados. Um deles, Eduardo Nunes, tenente da Polícia Militar de Santa Catarina e Felipe Wilson, que participou de outro vídeo similar assediando mulheres russas a falarem palavras em português de baixo calão. Na manhã de quarta-feira (20), a LATAM Airlines anunciou pelo Twitter que Felipe foi desligado do seu quadro de funcionários por causa da sua participação no vídeo. O tenente que serve na cidade de Lages (SC) será alvo de um processo disciplinar assim que voltar de viagem, segundo a PM catarinense.

E não acaba por aí. Após as cenas lamentáveis causadas pelos brasileiros ganharem atenção, a jurista russa Alyona Popova fez uma denúncia às autoridades do país contra os atos sexistas praticados pelos brasileiros por violência e humilhação pública à honra e à dignidade de outra pessoa.

As penalidades podem variar desde o pagamento de multa até restrições na Rússia. A jurista também exigiu na denúncia que os envolvidos peçam desculpas publicamente para a mulher assediada e a sociedade russa pela cagada mais famosa da Copa do Mundo de 2018.

A história toda dos vídeos lamentáveis gravados pelos brasileiros prova algumas coisas. A primeira é um claro sinal de que os tempos mudaram e atitudes preconceituosas que antes seriam consideradas apenas como brincadeiras inocentes agora recebem a preocupação que merecem. E a outra coisa é que o homem privilegiado brasileiro é tão certo da própria impunidade perante ao sexismo e outros preconceitos que sequer consegue reconhecer quando caga no maiô em âmbito internacional.

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