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Feminisme

Atores falam o que pensam de trabalhar com Woody Allen

Alguns astros de filmes de Allen expressam seu sincero arrependimento diante das denúncias de Dylan Farrow, filha adotiva do cineasta que afirma ter sido abusada por ele. Outros nem tanto.
Colagem por Callie Beusman.

Matéria originalmente publicada no Broadly.

Em dezembro de 2017, Dylan Farrow fez uma pergunta simples para Hollywood: “Por que a revolução #MeToo poupou Woody Allen?” Num artigo de opinião no Los Angeles Times, ela reiterou as acusações de que seu pai adotivo teria ausado sexualmente dela quanto criança — e apontou que atrizes como Kate Winslet, Blake Lively e Greta Gerwing tinham trabalhado com o diretor.

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As alegações contra Allen emergiram em 1992, mas Farrow só falou publicamente sobre o assunto em 2014, depois que Allen aceitou o Prêmio Cecil B. DeMille no Golden Globes. “Quanto eu tinha sete anos, Woody Allen me pegou pela mão e me levou para um sótão escuro no segundo andar da nossa casa”, ela escreveu na carta aberta publicada pelo New York Times. “Ele me disse para deitar de barriga para baixo e brincar com o ferrorama do meu irmão. Aí ele me atacou sexualmente.”

Em seu artigo mais recente para o LA Times, Farrow questionou por que Allen continua trabalhando enquanto Harvey Weinstein e outras celebridades acusadas foram “banidos por Hollywood”.

“Não é só poder que permite que homens acusados de abuso sexual mantenham suas carreiras e segredos”, escreveu Farrow. “Também são nossas escolhas coletivas para ver situações simples como complicadas e conclusões óbvias como uma questão de 'quem vai saber?' O sistema funcionou para Harvey Weinstein por décadas. E ainda funciona para Woody Allen.”

Allen sempre negou veementemente as acusações de Farrow, e se recusou a comentar o caso ao LA Times diante da coluna de sua filha adotiva. Frank S. Maco, o promotor estadual norte-americano que investigou as alegações criminais na época, se recusou a levar o caso adiante porque Dylan parecia muito “frágil” para testemunhar no tribunal.

Mas as alegações contra Allen se tornaram tão conhecidas que agora os atores precisam justificar por que continuam envolvidos com o diretor — especialmente depois dos movimentos #MeToo e #TimesUp. Reunimos aqui o que 15 atores disseram sobre trabalhar com Allen.

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Mira Sorvino ( Poderosa Afrodite, 1995)

A atriz de Romy e Michele Mira Sorvino ganhou um Oscar por seu papel na comédia de Woody Allen Poderosa Afrodite. Quando pressionada pelo Guardian a falar o que achava das acusações de abuso sexual em 2014, ela disse: “Não posso comentar sobre isso. Tudo que posso dizer é que ele é um homem maravilhoso com quem trabalhar.” Ela disse ter se tornado uma “acólita instantânea” de Allen depois de ler seu livro Sem Penas quando tinha doze anos.

Ainda assim, numa carta aberta à Dylan Farrow publicada pelo Huffington Post no dia 10 de janeiro, Sorvino admitiu que estava errada. “Confesso que na época em que trabalhei com Woody Allen eu era uma jovem atriz ingênua”, escreveu. “Engoli o retrato da mídia da sua acusação de abuso contra seu pai como um problema de uma batalha complicada de custódia entre Mia Farrow e ele, e não pensei mais na situação, e por isso peço desculpas. Por isso também devo desculpas a Mia.”

Em dezembro, Sorvino compartilhou sua experiência de ser assediada sexualmente por Harvey Weinstein com Ronan Farrow [filho de Mia e Allen e jornalista do NYT que desbaratinou o caso de Harvey Weinstein], e disse que isso a fez perguntar a ele sobre as acusações contra Allen. “Ele me apontou detalhes públicos sobre o caso que eu infelizmente nunca tinha ouvido, o que me fez sentir que as provas apoiam sua história”, disse ela a Dylan. “Que você sempre esteve dizendo a verdade.”

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“Esse tipo de abuso não pode ter permissão para continuar”, ela acrescentou. “Se isso significa derrubar todos os velhos deuses, que seja.”

Greta Gerwing ( Para Roma, Com Amor, 2012)

Greta Gerwing interpretava uma intercambista norte-americana num triângulo amoroso no filme de 2012 de Allen Para Roma, Com Amor. No Golden Globes deste ano, a diretora de Lady Bird se esquivou da pergunta de um repórter sobre as acusações. “É algo em que penso muito, e me importo muito”, disse Gerwing. “Não tive oportunidade ainda de ter uma discussão profunda onde eu saia de um lado ou de outro.”

Ela já tinha contornado uma pergunta similar de Terry Gross durante uma entrevista à NPR, ao dizer: “Sabe, é muito difícil falar sobre isso… Acho que estou vivendo num espaço de medo, de me preocupar sobre como falar sobre isso e o que dizer”.

Soon-Yi Previn e Woody Allen no Festival de Cinema de Tribeca em 2009, na estreia de Tudo Pode Dar Certo . Foto por David Shankbone via Wikimedia Commons.

Ainda assim, na última terça-feira (9), Gerwing disse numa mesa redonda de cinema para o New York Times que não trabalharia mais com Allen. “Só posso falar por mim mesma e cheguei a essa conclusão: se eu soubesse na época o que sei agora, não teria atuado no filme. Não trabalhei com ele desde então, e não vou mais trabalhar com ele.”

Ela se referiu aos dois artigos que Dylan escreveu sobre as alegações — incluindo aquele em que ela mencionou Gerwing por apoiar Allen — e disse que eles a fizeram mudar de ideia.

“Os dois textos de Dylan Farrow me fizeram perceber que eu tinha aumentado a dor de outra mulher, e fiquei de coração partido com isso”, disse Gerwing. “Cresci com os filmes dele, e eles me informaram como artista; não posso mudar esse fato agora, mas posso tomar decisões diferentes daqui para frente.”

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Blake Lively ( Café Society, 2016)

Enquanto promovia o filme de Allen Café Society em 2016, Blake Lively disse que não prestava atenção na cobertura da impressa sobre as alegações contra o diretor. “É muito perigoso julgar coisas sem saber nada sobre o caso”, disse ela ao LA Times. “Só posso falar da minha experiência. E minha experiência com Woody é que ele empodera as mulheres.”

No Festival de Cannes daquele ano, Lively também falou sobre a suposta piada que o comediante francês Laurent Lafitte fez sobre as alegações de abuso sexual contra Allen. “Acho que qualquer piada sobre estupro, homofobia ou Hitler não é piada”, ela disse a Variety .

Mais tarde, Lafitte esclareceu que a piada se referia a Roman Polanski.

Alex Baldwin ( Para Roma, Com Amor, 2012; Blue Jasmine, 2013)

Alec Baldwin apareceu em dois filmes de Allen, incluindo o vencedor do Oscar Blue Jasmine. Quando um usuário do Twitter perguntou se ele devia desculpas a Dylan Farrow depois que o New York Times publicou a carta dela, em que detalha o suposto abuso de Allen, ele respondeu: “O que tem de errado com você para achar que todo mundo precisa comentar sobre a luta pessoal dessa família?”

Ele disse a outro usuário: “Você sabe quem é culpado? Quem está mentindo? Você, pessoalmente, sabe isso?”, acrescentando: “Você está enganado se acha que há lugar para mim, ou qualquer um de fora, nesse problema de família”. (Baldwin parece ter deletado os tuítes, mas eles foram amplamente cobertos pela mídia na época.)

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Ellen Page ( Para Roma, Com Amor, 2012)

Ellen Page estrelou Para Roma, Com Amor ao lado de Baldwin e Gerwing, e desde então disse que se arrepende de ter aceitado o papel. “Fiz um filme do Woody Allen e esse é o grande arrependimento que tenho na minha carreira”, disse Page numa postagem longa no Facebook, que também discutia as alegações contra Roman Polanski, Bill Cosby e Harvey Weinstein. “Tenho vergonha de ter feito isso. Eu ainda precisava encontrar minha voz, eu não era quem sou hoje e me senti pressionada, porque 'claro, você tem que dizer sim para um filme do Woody Allen'. Mas no final das contas, é minha escolha decidir que filmes faço e fiz a escolha errada. Cometi um erro terrível.”

“Quero ver esses homens encarando o que fizeram”, ela acrescentou. “Quero que eles não tenham mais poder. Quero que eles se sentem e pensem em quem são sem advogados, sem seus milhões, seus carros de luxo, suas muitas casas, seu status de 'playboy' e swag. O que mais quero é que isso resulte em cura para as vítimas. Que Hollywood acorde e comece a se responsabilizar por como todos tivemos um papel nisso.”

Cate Blanchett na Comic Con de San Diega em 2017. Foto por Skidmore via Wikimedia Commons.

Cate Blanchett ( Blue Jasmine, 2013)

Cate Blanchet ganhou o Oscar de Melhor Atriz por seu papel como uma socialite neurótica em Blue Jasmine. Quando um repórter pediu seu comentário sobre a carta de Farrow, ela respondeu: “Obviamente é uma situação longa e dolorosa para a família, e espero que eles encontrem conclusão e paz”.

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Kristen Stewart ( Café Society, 2016)

A atriz de Crepúsculo Kristen Stewart estrelou ao lado de Jesse Eisenberg em Café Society, o filme de 2016 de Allen. Ela disse a Variety que tinha consciência das alegações contra Allen e as discutiu com Eisenberg antes da filmagem, mas os dois escolheram seguir em frente e trabalhar com o diretor.

“Eu disse 'O que você acha? Não conhecemos as pessoas envolvidas. Posso personalizar situações, o que seria muito errado'”, disse Stewart sobre a conversa com o colega. “No final do dia, Jesse e eu falamos sobre isso. Se fôssemos perseguidos pela quantidade de merda dita sobre nós que não é verdade, nossa vida acabaria. Minha experiência fazendo o filme foi muito fora disso, foi produtivo para nós dois continuarmos.”

Jesse Eisenberg ( Café Society, 2016)

O ator de Café Society disse ao Huffington Post em 2016 que era tão “obcecado” com Allen que escreveu um roteiro sobre a vida do diretor quando tinha 17 anos. Ele disse que as alegações contra seu ídolo de infância “não influenciaram minha opinião”.

Ele acrescentou: “Não acho que é apropriado julgar pessoas na imprensa. Já fui julgado pela imprensa por coisas pequenas que disse ou porque fui sarcástico ou algo assim, então entendo como é porque estou na mira do público, e é muito doloroso”.

Kate Winslet ( Roda Gigante, 2017)

A atriz de Titanic Kate Winslet estrela Roda Gigante com Justin Timberlake. “Acho que em algum nível Woody é uma mulher”, brincou Winslet em novembro de 2017 para o Sydney Morning Herald quando perguntada sobre as mulheres nos filmes dele. “Acho que ele está num contato muito próximo com esse lado dele. Ele entende as personagens que cria excepcionalmente bem.”

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Em setembro, o New York Times perguntou a Winslet sobre as alegações contra Allen. “Claro, a pessoa pensa sobre isso”, respondeu ela. “Mas ao mesmo tempo, eu não conhecia Woody Allen e não sei nada sobre sua família. E como atriz num filme dele, você tem que se afastar e dizer 'não sei nada', se isso é verdade ou mentira. Pensando em tudo, você coloca isso de lado e trabalha com a pessoa. Woody Allen é um diretor incrível. Como Roman Polanski. Tive experiências extraordinárias trabalhando com os dois, e essa é a verdade.”

Em dezembro, ela continuou elogiando Allen numa mesa redonda com as atrizes de rosto impassível Margot Robbie, Saoirse Ronan e Jessica Chastain. (Em outubro, Chastain tuitou que nunca trabalhou com Allen, e compartilhou em janeiro uma matéria do Washington Post intitulada “Li décadas das anotações privadas de Woody Allen. Ele é obcecado com garotas adolescentes”: “Ugh. Crime disfarçado de arte”.)

“Woody Allen é um roteirista extraordinário”, disse Winslet na mesa redonda. “Ele é obviamente conhecido por criar papéis extraordinários, muito, muito poderosos e complicados para mulheres por muitos, muitos anos.”

David Krumholtz ( Roda Gigante, 2017)

O ator de The Deuce e The Good Wife disse que “se arrepende profundamente” de ter trabalhado com Woody Allen em Roda Gigante. “É um dos meus erros mais sentidos”, ele disse no Twitter. “Não podemos mais deixar esses homens nos representarem na política do entretenimento, ou em qualquer outra coisa. Eles estão abaixo de homens de verdade.”

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Quando o executivo de Curb Your Enthusiasm Bob Weid tuitou para ele “relaxar”, Krumholtz não recuou. (Weide produziu e dirigiu o especial da PBS Woody Allen: A Documentary, e escreveu em defesa de Allen para o Daily Beast.)

Na resposta para Weide, Krumholtz disse sobre Allen: “Ele era um herói. Então eu era fascinado e não acreditava. Me desculpe, Bob. Mas escolhi dar prioridade para a versão de Dylan. Junto com a matéria do @washingtonpost e sua ânsia em produzir outro filme insensível”.

Scarlett Johansson numa entrevista coletiva. Foto via usuário do Flickr Gage Skidmore.

Scarlett Johansson ( Match Point, 2005; Scoop: O Grande Furo, 2006 e Vicky Cristina Barcelona, 2008)

Scarlett Johansson estrelou três filmes de Woody Allen e foi mencionada por Dylan Farrow em sua carta aberta de 2014 por trabalhar com o diretor. Quando pressionada sobre a questão no Guardian, a atriz respondeu naquele ano: “Acho irresponsável ter um monte de atores no alerta do Google e de repente jogar o nome deles numa situação onde nenhum de nós poderia comentar. Parece irresponsável para mim”.

“Não é como se alguém tivesse sido julgado e condenado por alguma coisa, e você dizer 'Não apoio o estilo de vida dele' ou algo assim”, ela acrescentou. “Quer dizer, é tudo adivinhação.”

Quando perguntaram se aquilo tinha afetado a forma sobre o que achava sobre o diretor, ela disse: “Não sei nada sobre isso. Seria ridículo para mim fazer qualquer suposição de um jeito ou de outro”.

Griffin Newman ( A Rainy Day in New York, 2018)

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O ator de The Tick Griffin Newman está no filme de Allen que estreia em breve A Rainy Day in New York, com Selena Gomez e o astro de Me Chame pelo Seu Nome Timothée Chalamet. Em outubro de 2017, ele expressou seu arrependimento em trabalhar com o diretor numa série de tuítes. “Preciso tirar isso do meu peito”, ele escreveu. “Trabalhei no próximo filme de Woody Allen. Acredito que ele é culpado. Doei meu salário inteiro para o RAINN.”

Ele disse que sua participação é de uma cena apenas e que ele passou um mês debatendo se deveria sair do projeto. “Me arrependo profundamente da minha decisão final”, tuitou. “Foi uma experiência educativa por todas as razões erradas. Aprendi de maneira conclusiva que não posso colocar minha carreira na frente da minha moral de novo.”

“Passei a década passada lutando para continuar atuando, e aprendi a colocar minhas visões de lado porque pensar em fechar qualquer porta era aterrorizante”, ele acrescentou. “Não posso continuar operando profissionalmente de um lugar de medo. É hora de mostrar uma coragem nas minhas ações espelhando minhas palavras sem concessões.” Newman também postou um link de doação para o RAINN.

Timothée Chalamet ( A Rainy Day in New York, 2018)

Em novembro de 2017, o LA Times perguntou a Timothée Chalamet como ele se sentia trabalhando com Allen diante das alegações de assédio e abuso em Hollywood. “Entendo a pergunta, claramente; não vai ser apenas importante como imperativo falar sobre isso”, ele disse. “Estou hesitante em falar sobre isso agora porque estou aqui por Me Chame pelo Seu Nome.” Ele ainda não elaborou sobre esse comentário.

Selena Gomez ( A Rainy Day in New York, 2018)

Gomez, que estrela A Rainy Day in New York ao lado de Chalamet e Newman, disse a Billboard que não sabe como responder às críticas dirigidas a ela por estrelar num filme de Allen. “Sendo honesta, não sei como responder — não porque estou tentando me afastar disso. [As alegações contra Harvey Weinstein] surgiram logo depois que começamos a filmar. Elas apareceram no meio disso”, ela disse. “E sim, isso é algo que tenho que encarar e discutir. Dei um passo para trás e pensei 'Uau, o universo trabalha de maneiras interessantes'.”

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