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Há YouTubers que fazem qualquer coisa por visualizações e isso é assustador

Depois do caso atroz da “floresta do suicídio” do norte-americano Logan Paul, qual o limite?
YouTube

Este artigo foi originalmente publicado na VICE USA.

O YouTube tornou-se um farol global para toda a gente - especialmente para todos aqueles até mais ou menos aos 25 anos - interessada em ver, de forma obsessiva, conteúdos centrados nos seus temas favoritos. Maquilhagem? Sim. Desembalar brinquedos? Sim. ASMR? Toma lá. É fácil que alguém se torne obcecado com as vidas aparentemente mundanas de outras pessoas que se filmam ad nauseam. No entanto, quando essas pessoas passam dos limites, talvez seja a altura certa para reavaliar a verdadeira utilidade deste ecossistema cultural.

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Apesar de o YouTube ocasionalmente oferecer uma plataforma para jovens fazerem ouvir a sua voz - principalmente quando se trata de construir comunidades para grupos marginalizados e sem representação - estrelas norte-americanas do YouTube, como Alissa Violet, FaZe, Banks, os irmãos Paul, PewDiePie e Jenna Marbles, ganham muito dinheiro a postarem montagens facilmente digeríveis das suas vidas: partidinhas e graçolas ao estilo Jackass, questionários com os melhores amigos, filmagens a enfrentarem “desafios”, ou até a colocarem os seu iPhones de última geração num pau de selfie, para filmarem as suas luxuosas existências. A geração moldada pelo YouTube deve atingir o seu auge mais tarde ou mais cedo e o frenesim do fandom só continuará se o objecto da afeição do fã continuar a dar-lhe o que ele quer.

O que nos leva ao recente caso do vlogger norte-americano Logan Paul. Celebridade loucamente popular do YouTube [tem 15 milhões de seguidores], Paul decidiu nas últimas horas de 2017 postar um vídeo das suas recentes férias em Tóquio, na qual o vemos com alguns amigos aparentemente a contratar um guia local para os levar à Floresta Aokigahara.


Vê: "A floresta dos suicídios no Japão"


Paul diz que ele e os amigos queriam explorar o lado sobrenatural da floresta, mas o local é conhecido, principalmente, como um sítio onde as pessoas vão para cometer suicídio. Bem, sem dúvida não será o melhor spot para levares os teus amigos à caça de fantasmas. Não posso fingir que conheço Paul ou que sei o que lhe passou pela cabeça para fazer isto, mas uma coisa é certa: ele e a sua equipa cruzaram-se com uma pessoa que, aparentemente, se tinha suicidado. O Independent preservou partes do vídeo, agora apagado, onde se pode ver a reacção horrorizada de Paul ao ver o corpo de uma pessoa morta.

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Apesar desta descoberta e da sua reacção de horror, Paul ainda decidiu editar o vídeo e publicá-lo no YouTube. Também promoveu o vídeo como qualquer outro, mostrando uma falta de compaixão e decência realmente assustadora e depois deu duas desculpas insuficientes.

O comportamento de Paul não é surpresa quando vês os seus enervantes vídeos anteriores. Começou como estrela do Vine antes de passar para o YouTube. Até agora, Paul (juntamente com o irmão, Jake) ganhou milhões com uma espécie de apanhados básicos e propaga um comportamento idiota para deleite da sua legião de seguidores - ou, do seu “Logang”, como são conhceidos os fãs. No recente vídeo “Porque é que 2017 foi o melhor ano da minha vida”, recorda as suas numerosas bençãos materiais, incluindo uma mansão de 6,5 milhões de dólares, um Rolex e um carro chamado “The Yeti”.

Mais tarde no vídeo de Melhores de 2017, lembra como fingiu a sua própria morte, enviou um amigo numa mala para outro país e se meteu em trabalhos com as autoridades italianas depois de, em Roma, ele e Jake tentarem voar um drone por cima do Coliseu. Veremos em que medida este último escândalo abalará a sua carreira, mas evidências passadas sugerem que este tipo de comportamento só vai fazer com que as pessoas gostem ainda mais dele. Portanto, que razão terá ele para parar?

Depois de dias de silêncio sobre a história, o YouTube apresentou uma declaração oficial no início desta semana, condenando o comportamento de Paul. “Muitos de vocês estão frustrados com a nossa recente falta de comunicação. E com razão. Suicídio não é uma piada, nem deveria ser algo para conseguir visualizações. O canal violou as nossas directrizes, agimos em conformidade e estamos a analisar outras consequências. Demorámos muito tempo a responder, mas estamos a ouvir o que toda a gente tem a dizer. Sabemos que as acções de um criador podem afectar toda a comunidade, portanto teremos mais para partilhar em breve sobre os passos que estamos a dar, de forma a garantir que esse vídeo nunca mais circule”.

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Desde então, Paul sofreu mais consequências sérias pelas suas acções: foi removido do popular programa do YouTube, Red Foursome, e do programa Google Preferred (que vai afectar a forma como as marcas fazem publicidade no seu canal) e o YouTube colocou em pausa qualquer futuro projecto de Paul.

E esta não é única adorada estrela do YouTube com muitos seguidores envolvido em escândalos profundamente sérios. O suíço PewDiePie, com 59 milhões de seguidores no YouTube, tentou desculpar-se por usar linguagem racista e anti-semita durante os seus vídeos; no começo da semana, o popular YouTuber norte-americano Shane Dawson enfrentou alegações de pedofilia depois do ressurgimento de um podcast antigo, onde sugere que uma criança de seis anos é “sexy”; e outro YouTuber norte-americano de sucesso, DaddyOFive, construiu uma marca a pregar partidas aos filhos, com muita gente a questionar se os seus vídeos não eram mais abuso infantil do que mero entretenimento [em Portugal é conhecida a recente polémica entre Nuno Markl e Ana Galvão e a comunidade youtuber].


Vê: "Conhece as estrelas espanholas do ASMR"


Paul, no entanto, foi o que sofreu as consequências mais severas imediatamente depois do seu escândalo e as respostas anteriores do YouTube relativas a transgressões cometidas pelos seus criadores de conteúdo são ambíguas. Depois dos comentários racialmente carregados de PewDiePie, a sua parceria com o estúdio Maker da Disney e o seu reality do YouTube, Scare PewDiePie, foram cancelados; o YouTube ainda não se pronunciou oficialmente sobre a polémica envolvendo Shane Dawson; DaddyOFive perdeu a custódia de dois dos seus filhos depois de ele e a esposa enfrentarem acusações de negligência de menores, mas o YouTube nunca se pronunciou oficialmente sobre os lives dos canais MommyOFive e DaddyOFive.

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No geral, a cultura do YouTube não parece estar a ser alvo de um "policiamento" apropriado por parte da plataforma - se é que há algum - até ser já demasiado tarde. Quando o conteúdo a ele associado vai contra os níveis básicos de decência humana que deveriam ser passados a jovens adultos, temos de nos questionar se deveria mesmo existir. Pensa assim: se alguém te mostrasse um cadáver na vida real, chamarias a polícia, não carregarias no “rec”. Porque é que não temos de exigir aos YouTubers que se guiem pelo mesmo padrão?


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