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Ginger, a mulher que te faz a barba e te ensina a beber rum

É Embaixadora Sailor Jerry em Portugal, barbeira, cabeleireira e uma conversadora nata. Em tudo o que faz há empenho, sinceridade e honestidade. Tal como há muito aprendeu com uma das suas inspirações: Norman Collins.

Sabes aquelas pessoas que olhas para elas e dizes "isto é mesmo a tua cara". Pois é, a Andreia "Ginger" Mendes é uma dessas pessoas. Barbeira (sim, barbeira), cabeleireira e agora também Embaixadora Sailor Jerry em Portugal. Aquele emprego de sonho dizes tu logo assim de chofre. Beber copos, viajar, conhecer pessoas, falar sobre uma marca incrível, sobre a vida de um homem extraordinário, beber copos, fazer cocktails… enfim. O que é que uma pessoa pode querer mais?

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Bem, agora vinha aquela parte em que ela dizia, "não é bem assim isto de ser embaixadora não é o que as pessoas pensam"… Só que não! É o que as pessoas pensam, porque, para a Andreia, ou melhor para a Ginger, tudo o que faz é feito com tamanho empenho e gozo que não há parte menos glamourosa que não a entusiasme tanto ou mais.

Natural de Lisboa, 33 anos, garante que, enquanto cabeleireira/barbeira todos os clientes que tem são seus amigos. "E quando não são, passam a ser. Quando estão comigo é quase como uma sessão de terapia. Falam comigo, contam-me coisas das suas vidas se quiserem, eu conto da minha se estiver para aí virada, bebemos um copo…", conta à VICE, numa conversa carregada de risos e de uma boa disposição contagiante, sincera e intensa. Como, aliás, sublinha, o era uma das suas grandes inspirações de vida, Norman "Sailor Jerry" Collins.

Ginger, na primeira pessoa, sobre barbas, cabelos, rum, as virtudes da perseverança e do empenho e sobre a como a vida a levou direitinha, mas por caminhos diversos, àquilo que sempre quis ser.


Vê também: "O rock de ginga na anca dos The Twist Connection"


VICE: Como é que vais de cabeleireira a barbeira?

Andreia "Ginger" Mendes: Comecei há 13 anos como cabeleireira, no Facto, depois saí de Portugal e quando voltei estive no So What e eles queriam que eu fosse a primeira barbeira portuguesa, ou pelo menos a primeira de uma nova geração. Tinha tudo a ver com o meu estilo, assim um bocado "tough", e eles achavam que era engraçado que eu fosse barbeira. Tinha imenso medo de cortar cabelos a homem, mas tive dois anos de workshops intensivos e quando estava pronta fui trabalhar para a barbearia do Nuno Gama. Onde estive um ano e meio.

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Gosto mais de cortar a homens. É desafiante. Tudo o que possas fazer de errado vai ver-se no corte. Num corte feminino já dá para disfarçar mais. E depois também gosto mais dos homens como clientes. São mais fieis e se confiam em ti desde o primeiro instante já não se preocupam. As mulheres são mais complicadas. E não são tão desafiantes, a não ser que queiram fazer mesmo uma mudança mais radical.

O que é que foste fazer para o estrangeiro quando decidiste sair de Portugal?

Fui para a Holanda em 2010. Apaixonei-me por um holandês e o amor fez com que alterasse o percurso da minha vida. Queria sair de Portugal, mas ainda não tinha estofo para ir sozinha, ou para me atirar assim de cabeça à aventura. Mas apaixonei-me e fui para uma localidade a 15 minutos de comboio de Amesterdão, de onde ele era. Trabalhei em Utrecht como cabeleireira e foi muito bom foi outra perspectiva. Aprendi muito também.

Depois fui para o Hawaii, em 2011. Três meses em Maui. Fui fazer tranças, tererés e tatuagens temporárias (risos). Foi um tempo fantástico, mas em termos de trabalho, não foi fácil e o primeiro mês foi mesmo horrível, porque a pessoa que nos contratou queria mesmo era explorar-nos. Mas, depois o resto compensou. Pode ser um bocado cliché (é um grande cliché), mas o pôr-do-sol no Hawaii é uma coisa do outro Mundo. E o Hawaii, como dizem os locais é um sítio que, ou te aceita, ou te expele. Eu queria ficar e apesar das dificuldades iniciais insisti.

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Ginger. Foto cortesia Andreia "Ginger" Mendes

É aí que tens o teu primeiro contacto com o universo Sailor Jerry?

Sempre gostei de tatuagens. Fiz a primeira tatuagem aos 18 anos e é uma tatuagem old-school, portanto, de certa forma, já havia alguma ligação. Quando fui para o Hawaii conheci um rapaz que por causa do meu estilo pin up me disse, "olha tenho uma coisa que acho que vais gostar". Era um calendário da Sailor Jerry, do rum. Foi o meu primeiro contacto com a marca e foi daí que depois fiz a ligação com o Sailor Jerry tatuador. Ainda guardo o calendário, claro (risos).

Mas foi assim uma espécie de amor à primeira vista. Pelo rum em si, claro (risos), mas pela pessoa, pela história extraordinária de vida do Norman "Sailor Jerry" Collins. Foi uma pessoa incrível e o seu legado continua.

E como é que chegas a embaixadora Sailor Jerry em Portugal?

É assim, além da minha profissão como cabeleira/barbeira, desde muito cedo que entrei no mundo do bartending. E, apesar de no último ano ter estado mais desligada, nunca estive completamente fora e foi por isso que surgiu, numa primeira fase, o convite para trabalhar como promotora Sailor Jerry, porque, lá está, o meu estilo de vida, a minha imagem têm uma certa ligação com a marca, mas de uma forma natural. Isto sou eu e a ligação é óbvia. De promotora a embaixadora, foi um salto. Fizeram-me o convite e eu aceitei imediatamente.

Ser embaixadora de uma bebida, ainda para mais uma como a Sailor Jerry, é tudo aquilo que se imagina à partida? Festa e rock n'll em modo non stop?

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Bem, é (risos). Mas não é só isso! É até bastante mais que isso. Eu gosto muito de pessoas, da ligação com as pessoas e, por causa disso, tenho um à vontade muito grande para interagir, para falar, mas também muito para ouvir. E esta função tem muito disso. Não estou só a ensinar a beber rum, também estou a aprender e a contar uma história que está na génese da bebida e da marca. Que é, aliás, uma história em que me revejo muito e adoro contar. Mas, também há toda uma parte de "escritório" digamos. De organização. Tudo isso é um desafio.

É muito mais do que beber copos. Também é, mas não se iludam, porque não é só. (risos) E quando digo também é, na verdade não é beber só porque sim. Quando vais apresentar a marca, quando vais ensinar a fazer cocktails, tens de saber o que estás a fazer, tens de provar, tens de conhecer os sabores, o ponto certo das combinações, tens de saber dizer, porque é que um "Sailor Spiced Mojito" leva quatro gomos de lima e não dois, porque é que um "Pineapple Pearl" leva 50 ml de Sailor Jerry e cinco folhas de manjericão e é assim e não é de outra maneira…

E depois, culturalmente, por causa de tudo o que está por detrás da marca, da inspiração da vida de Sailor Jerry, da música, das tatuagens, do desenho, é uma experiência incrível. Conheces artistas, universos de criação que não conhecias e que tens de aprofundar para saberes o que é que está a ser feito, quem é que ele são e como vivem a vida. Tudo isso é imprescindível para ser uma embaixadora em pleno.

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A história de Norman "Sailor Jerry" Collins é inspiradora. O que é que mais te inspira a ti pessoalmente?

Logo numa das primeiras reuniões que tive com a Primedrinks, que é quem gere e distribui a marca em Portugal, disse-lhes uma coisa que sempre me inspirou na história de vida do Norman Collins e era algo que ele defendia: não precisamos de ser muito grandes, para conseguirmos mudar alguma coisa no Mundo. Desde que sejamos autênticos, por mais pequenos que sejamos, podemos fazer a diferença. E temos de acreditar no que fazemos. É simples. Ou pelo menos parece simples. Ele nasceu em 1911 e alguém que nasce numa época como aquela e que faz o que ele faz, mantendo-se sempre fiel às suas ideias, é extraordinário e, sim, inspirador.

O seu legado continua a marcar as novas gerações no universo da tatuagem. Ele inventou uma cor, inventou novos métodos de tatuar, foi o percursor dos métodos de higiene e segurança que hoje existem, novas formas de tratar o cliente… o folheto que ele dava aos clientes depois de tatuar, que hoje parece ser um procedimento básico, com as regras a seguir ara que tudo corresse bem, naquela altura, nos anos 1940, foi uma inovação… sinceridade, honestidade, sempre. Isso é o que Sailor Jerry, o homem, nos deixou a todos.

Quantas tatuagens tens?

Tenho seis.

Tens alguma favorita?

Tenho. A minha Ginger. A tatuagem que fiz aos 18 anos quando decidi que ia começar a pintar o meu corpo. Pode não ser a melhor idade para se começar (risos), mas tive sorte e gosto de todas as minhas tatuagens, mesmo as mais antigas. Sempre quis ser assim e esta pessoas que sou hoje é quem sempre quis ser e as tatuagens são parte integrante dessa pessoa.

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A Ginger é uma pin-up. E tem vários significados. Um deles é o facto de eu sempre ter adorado a Ginger Rogers… e depois,. claro, quando comecei a trabalhar como cabeleireira, houve uma espécie de votação no Salão para começar eu própria a ser chamada Ginger. Ficou (risos). Quando retoquei tatuagem, aos 23 anos, coloquei Ginger na tatuagem. Eu sou a Ginger, não vale a pena fugir a isso (risos).

Foto via Flow Records. Cortesia Andreia "Ginger" Mendes

O que é que te apetece tatuar entretanto?

Muita coisa (risos). As próximas serão alusivas às minhas duas profissões. Ao facto de ser embaixadora Sailor Jerry e cabeleireira/barbeira.

Sentes que ainda há aquele estigma "uma mulher num mundo de homens", no que respeita à tua actividade como barbeira e como embaixadora de uma bebida, ou isso já é conversa ultrapassada?

Ainda não é conversa ultrapassada. Acho é que é uma questão de atitude da mulher. Nenhuma das duas profissões que tenho, na verdade, deveria ser vista como uma profissão só de homens, ou só de mulheres. Mas, o que é certo é que quando meti na cabeça que queria ser barbeira, fui a uma barbearia clássica, bastante conhecida em Lisboa, perguntar se podia fazer uma formação com eles e foi-me dito muito claramente que não. Só que eu não desisti.

O que interessa é a forma como tu, sejas mulher ou homem, encaras a profissão, interages com as pessoas e te empenhas. Mas enfim, as mentalidades mudam, mais depressa, ou mais devagar, mudam e estão a mudar. Espero poder contribuir para essa mudança. Tem a ver connosco e com a forma como agora, nós, a minha geração e as que virão a seguir, vão educar os seus filhos.