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Música

Cloud Nothings: Mais Barulhento Ainda

Conversamos com os guris de Cleveland sobre o novo disco dos caras, “Here and Nowhere Else”

A música de abertura do disco novo do Cloud Nothings chama-se “Now Here In”, e logo na primeira audição a única coisa que consegui pensar foi em me jogar contra uma parede.

Esse foi o sentimento que permaneceu comigo durante todo o disco Here and Nowhere Else. As oito excelentes faixas avançam rapidamente de petardo pra petardo, incluindo pontos altos como “Quieter Today”, “Just See Fear” e “I’m Not Part of Me”. O álbum, como qualquer mais glorioso roque de guitarra feito hoje em dia, parece ter um espírito celebratório -- mesmo que a música seja sobre estar puto com o passado. Se você está na casa dos 20 como eu, ouvir Here and Nowhere Else parece um pouco com o Take Back Sunday circa Louder Now, aquele ponto da sua adolescência em que você já fez algumas cagadas homéricas (a maioria relacionada ao seu pobre coração), acabou de tirar a carteira de motorista e tudo que você quer fazer na vida é dirigir por aí ouvindo “MakeDamnSure” no talo, cantando bem alto pra ver se a sua ex idiota e a cara idiota dela vão pra puta que pariu juntas.

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Nostalgias à parte, pra uma banda que provavelmente faz alguns dos nossos leitores e editores se corroerem por dentro (e aí, Dan Ozzi, beleza, cara?), Here and Nowhere Else é uma proeza do rock ‘n’ roll atual. Numa época em que não nos cansamos das batidas repetitivas do Skrillex porque estamos cheios de balinha na cabeça, é uma benção poder ouvir uma banda trazer de volta um pouco do grunge dos anos 1990 e tocar isso super alto e bem pra cacete. Pra esse disco, o trio de Cleveland convidou o produtor John Congleton (The Walkmen, Modest Mouse), botou na mesa o que aprenderam com Steve Albini (que produziu seu disco anterior, Attack on Memory) e transformaram o que já sabiam num som que soa tão grande quanto o anterior, mas mais forte, mais capaz e mais maduro.

Há umas semanas, enquanto estavam em Nova York pra apresentar Here and Nowhere Else na Rough Trade de Williamsburg, Dylan Baldi (vocais) e Jayson Gerycz (bateria) deram uma passada no escritório da VICE pra gente bater um papo sobre o disco novo, música de guitarra e a cultura DIY.

(Uma nota fora de contexto: Dylan e eu temos o mesmo relógio e ambos ficamos frustrados com o barulho dele que não nos deixa dormir à noite.)

Como vocês se sentem em relação ao novo disco?

Jayson Gerycz: Eu gosto dele.

Dylan Baldi: Estou curtindo ele.

O álbum anterior teve uma reação bastante positiva. Como é gravar um novo disco com esse sentimento nas costas?

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Dylan: Não acho que isso mudou nada. É gravar um disco, saca? Só fizemos músicas. Tentamos não prestar atenção a nada que as pessoas diziam. Tivemos a mesma abordagem.

Jayson: Tínhamos um estúdio diferente e um cara diferente com quem trabalhamos, mas foi basicamente a mesma coisa. Escrevemos músicas, saca?

Como vocês aplicaram o aprendizado com Steve Albini em Attack on Memory?

Dylan: Quer dizer, isso não mudou fundamentalmente as nossas vidas. Mas já nesse disco, foi a primeira vez que gravamos num estúdio estúdio.

Então aprendemos como as coisas eram, porque é uma experiência bem diferente.

Como isso influenciou a música?

Dylan: Deu um ar mais profissional. [Risos.]

Jayson: Quando não estamos no estúdio, a gente simplesmente fica colocando os microfones na frente das coisas. É muito diferente. Uma coisa é algo que gravamos sozinhos, outra é alguém que sabe o que está fazendo. E também é mais fácil pra gente, porque nós realmente não sabemos o que estamos fazendo. [Risos.]

Com o que em Here and Nowhere Now vocês estão mais orgulhosos?

Dylan: Acho que as músicas estão melhores. Interessante é uma palavra babaca, mas elas estão mais interessantes. Há mais coisas rolando do que você consegue perceber na primeira audição. É um disco “crescente”, daqueles que melhoram com a audição, e eu sempre quis fazer um crescente.

O que faz de um disco um crescente?

Dylan: Basta não ser tão imediato, tão pop na caruda ou então conter camadas. Torna a audição mais divertida. Como se fosse uma trepadeira insidiosa, algo assim.

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A mudança tonal em relação à Attack on Memory é óbvia de imediato — a faixa de abertura é bem diferente das coisas que vocês fizeram até agora. Mas o disco é uma mudança tão drástica.

Dylan: É que está ficando cada vez mais fácil tocarmos juntos, na verdade. Tudo soa mais natural na medida em que tocamos mais juntos, em que lançamos mais discos.

Vocês ainda são muito novos, mas quando o Cloud Nothings começou vocês tinham tipo 18 anos. Como vocês estão abordando sua música agora, em oposição ao que faziam quando começaram?

Dylan: Sempre vi a banda como uma coisa divertida de se fazer até que ela acabasse. [Risos.] E isso não mudou. Se você muda a forma como faz o lance ele acaba ficando estranho. As coisas vão pra um ponto onde elas param de ser reais. Se você está com algum bloqueio e não está mais conseguindo trabalhar, você faz outra coisa.

O que significa fazer outra coisa?

Dylan: Se as pessoas não te curtem e ninguém vai aos seus shows, você provavelmente precisa considerar fazer outra coisa. [Risos.]

Vocês sentiram alguma pressão em relação a esse disco?

Jayson: Um pouco. As músicas são um pouco mais difíceis, isso trouxe um pouco de pressão.

Dylan: Há uma certa pressão na performance, também. Mas não sei. É difícil pensar sobre coisas assim porque não me parece que seja algo com que devamos nos preocupar, na verdade. Só estamos tentando fazer um disco de que gostamos e, no processo, você não pode absorver a pressão das outras pessoas. Tente não fazer isso, sabe?

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Essa é provavelmente a melhor maneira de lidar com as coisas. Não pensar nisso.

Dylan: É, exato. É bem melhor. Se você pensar sobre isso, então vai ser só nisso que você vai pensar, e então você vai começar a pirar.

O que vocês acham do crescimento do disco em termos das letras das músicas?

Dylan: Bom, vou começar isso por dizer que eu não me importo muito com as letras, na maioria das vezes, dentro do contexto da nossa música. Mas, neste caso, elas lidam com os mesmos temas, acho eu. Todas as músicas são sobre o passado e sobre estar puto.

É engraçado porque vocês parecem ser boa gente.

Dylan: Ah, eu sou um cuzão. [Risos.] Mas digo que as músicas antigas tinham uma tendência a ter uma visão negativa da situação e as novas querem olhar pras coisas de uma forma positiva, mas sob o mesmo enquadramento. É só sobre tentar pensar sobre as coisas por outros ângulos, saca?

Por que as letras não importam?

Dylan: Quer dizer, elas importam pra você?

Sim.

Dylan: Então, por quê?

Quer dizer, num nível básico, as letras são mais uma ferramenta pra se expressar algo na música ou arte.

Dylan: Acho que, no meu caso, estou tentando criar um tema geral com a música, mas acho que as palavras não são tão importantes, conquanto que elas expressem algo naquele contexto, vagamente. Escrevemos as músicas e então escrevemos as letras um dia antes de gravar. [Risos.] É assim que funciona normalmente. Fazemos nossa música na última hora. E porque fazemos nossa música na última hora, ela soa mais emocionante.

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Gosto de pensar nas pessoas tentando descobrir isso nos discos, saca? Ao contrário de algo que está realmente completo e perfeito.

Desde que o 285 Kent fechou no Brooklyn anda rolando uma conversa sobre a cultura DIY e o significado disso no clima cultural atual.

Dylan: Bom, tudo em Cleveland é DIY. Tipo, se você for conversar com os promotores de shows sobre a cultura DIY em Cleveland, eles nem vão saber -- não é o tipo de conversa que se tem.

Jayson: Você só precisa organizar um show se você quiser fazer um show.

Dylan: Então, crescer lá e ser de lá faz com que se preocupar demais com as coisas dê um pouco de vergonha.

Como?

Dylan: Bom, você sabe, dá vergonha estar associado a determinado tipo de coisas, mas você precisa fazer isso às vezes. E algumas vezes te pagam algum dinheiro e tudo o que você precisa fazer é botar um Converse numa parada e nem é um lance importante. Não sou muito preocupado nem com uma coisa nem outra.

Anda rolando uma mudança no indie rock nos últimos cinco anos e tem muita música boa com guitarra por aí.

Dylan: Isso é verdade. Não há muitas bandas com guitarras atualmente. Isso é um pronunciamento oficial. [Risos.]

E como é trabalhar nesse gênero?

Dylan: A maioria das coisas não pesa tanto nas guitarras, então é a época, acho. É o futuro. Mas eu não sei.

Jayson: Eu curto hip-hop. Curto música eletrônica. Isso não me incomoda.

E por que vocês acham que isso está acontecendo?

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Dylan: Sei lá. É um pouco de calmaria, mas acho que talvez seja mais fácil fazer música no seu MacBook?

Jayson: As pessoas já não estão fazendo esse tipo de música há tempos, então não está mais em todo lugar.

Dylan: Quer dizer, a maioria das coisas rolando fora do indie rock são genuinamente mais interessantes. E eu não sei o motivo, na verdade. É só como está rolando atualmente. Tenho certeza que daqui a pouco vai aparecer uma banda punk muito louca que vai nos salvar, saca? [Risos.] Mas, agora, a maioria das coisas são um tédio.

Sua música não é um tédio, todavia.

Dylan: Eu tento fazer as músicas que gosto. Se elas são um tédio, azar, saca? E se as pessoas acham um tédio, então acho que fico triste.

Vocês se importam com a recepção dos fãs?

Dylan: É bom que as pessoas gostem da gente. Você precisa se importar com isso. Mas acho que, no geral, só tentamos fazer músicas que gostamos. Se não estamos animados com elas, então não é legal ou divertido. Mas se conseguimos fazer algo que realmente nos anime e que as pessoas calhem de gostar, isso é o ideal.

Jayson: É esse o ponto.

O disco tem oito músicas.

Dylan: Oito é um bom lugar pra parar. Uma vez que você tem oito músicas no mesmo estilo, a nona vai soar igual. Você precisa parar nas oito. Eu parei, ao menos.

O disco de estreia de Eric Sundermann vai ser o melhor disco do mundo e vai ter nove músicas apenas pra trollar o Cloud Nothings. Ele está no Twitter -- @ericsundy