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Música

Os 50 melhores álbuns de 2015 pros gringos

Tá liberado ficar puto, essa é a lista dos melhores discos do ano pra galera do primeiro mundo.

Mais uma vez em 2015, mesmo com todo o Snapchat e Instagram, a sociedade conseguiu continuar criando consideráveis coleções de música. Nós também não entendemos como isso foi possível. Nós esperávamos que ao final do ano estivéssemos andando em hoverboards mostrando uma lista dos melhores sabores de vaporizadores enquanto uma trilha sonora branda de marca de refrigerante toca nos alto-falantes do escritório.

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Mas parece que 2015 foi um ótimo ano para a música. Tipo, muito bom mesmo. Agonizantemente bom ao ponto de nos fazer lutar entre nós quando entramos em uma sala para discutir nossos discos preferidos. Como pudemos escolher apenas 50 deles? Nós somos tiranos, realmente.

Mas como todo bom tirano, é nosso dever impor nossa vontade no mundo e, assim como autoritariamente já decidimos quem são os melhores artistas do ano e quais as melhores músicas do ano, então, também queremos encorajar que todo mundo escute muito esses discos. Eles são tão bons que mesmo se nossos piores medos provarem ser realidade e a mídia do disco terminar em sua há muito prevista morte em 2016 e a única música que restar for um “GIF” do DJ Khaled, eles serão bons o bastante para você guardar ou pelo menos armazenar em alguma núvem. Então, pode ficar puto desde já. Esses são os 50 melhores discos de 2015.

Veja também a nossa lista de 50 melhores músicas de 2015

50. Kacey Musgraves Pageant Material

Em Pageant Material, Kacey Musgraves deixou para trás os sonhos de viagem de Same Trailer, Different Park e voltou para casa para refletir sobre onde esteve e o que aprendeu durante seu tempo na estrada. Se seu primeiro disco foi adolescente, com grandes esperanças, uma atitude temerária, e uma rápida e dura interpretação do mundo, então seu segundo disco a encontra pensando sobre suas raízes e qual o propósito da vida. “Biscuits” é a artista continuando com o ideal de “Follow Your Arrow”, mas “Dime Store Cowgirl,” “Pageant Material” e “Are You Sure” nos mostra uma Musgrave que viu tudo mas ainda ama o lugar de onde veio.
Annalise Domenighini


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49. The Internet Ego Death

Quando Odd Future virou algo do passado, não muitas pessoas pensaram que The Internet viraria a força que é agora. Syd e o bando começaram seu novo caminho devagar, mas 2015 foi o ano em que eles realmente encontraram sua voz. A luxuosa produção da banda acompanhada de vocais angelicais de Syd faz desse projeto a trilha sonora perfeita para tudo, de longas viagens para a praia a sessões de pintura através da noite. The Internet pode ter provado com Ego Death que eles potencialmente têm mais poder de permanência do que a própria internet se eles continuarem com esse nível de trabalho.
Slava Pastuk


48. Julia Holter Have You In My Wilderness

Nos últimos anos, Julia Holter parece estar criando uma linha do tempo para registrar quão estranho o pop pode ser — e que ferramentas e instrumentos podem ser usadas nessa construção. Mas ao invés de incorporar e subverter a nostalgia, Have You In My Wilderness mostra as composições e melodias mais puras que Holter nos apresentou. O disco aponta sua lente para si mesmo para apresentar a própria estranheza.
John Hill


47. HEALTH Death Magic

Depois de Get Color de 2009, HEALTH parou de produzir discos tradicionais para compor a aclamada trilha sonora do video game Max Payne 3. O desvio estilístico trouxe mais sucesso para eles — financeiro, acima de tudo — do que seu synth noise comum, e essa abordagem mais cinematográfica é evidente em sua volta com Death Magic. É um esforço surreal mas contido que afia suas raízes no noise que ainda estão bem presentes — tente não sacudir a cabeça em “STONEFIST”, um dos melhores hinos de raiva desde, bem, “Die Slow” deles mesmos. Enquanto fãs reclamaram deles soarem mais polidos, dançáveis e pop, com músicas como “L.A. Looks” e “Drugs Exist”, Death Magic recompensa várias audições. Sua clareza é sua intenção, e camadas após camadas de harmonias vocais, síncopes, e dissonâncias cuidadosamente construídas, fazem parte do meticuloso quebra-cabeças que faz um todo bem obscuro. É um presente de várias camadas exatamente da maneira assustadora, plástica e desconexa que eles pretendiam.
Andrea Domanick


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46. Shamir Ratchet

Artistas como Shamir — uma criança que não se identifica com nenhum gênero de Las Vegas, com um falsete imaculado e uma produção de arrepiar os cabelos — não aparecem do nada. Mesmo assim, é exatamente isso que parece ter acontecido quando Shamir Bailey surgiu com Ratchet, um artista completamente formado aparecendo espontaneamente dos suburbios do deserto industrial. A verdade é, obviamente, mais complexa do que isso, mas é o que pode acontecer às vezes na panela de pressão neon de Nevada do Sul. Bailey se junta a uma nobre linhagem de músicos cujo isolamento alimenta sua criatividade, mas o sucesso de Ratchet marca a chegada de uma voz criticamente importante para a geração pós-Tumblr. Confiante, mesmo em seus momentos vulneráveis, o album é tanto um excelente disco de dance que puxa do house, disco e R&B, quanto puro pop que você pode deixar tocando até o fim. É um disco que acena para a escola Andrew W.K. de festa de uma pessoa só, que nos presenteia com uma surrealidade visionária.
Andrea Domanick


45. Title Fight Hyperview

A ida de bandas para o mainstream é um movimento que costuma ser criticado quando se trata de bandas punk, e Title Fight levou isso ao pé da letra com seu novo disco, Hyperview. A banda parece que largou suas canções de pop punk que a tornaram famosa, jogando-se de cabeça em um tipo de som e vibe embebidos no reverb. Tal movimento afundaria outras bandas, mas inesperadamente, serviu para fazer outros moleques do hardcore pegarem velhos discos do Swervedriver e afinarem seu som, depois de ver o que Title Fight podia fazer com faixas dispersas como “Your Pain Is Mine Now” e “Rose Of Sharon”. Mas diferente do exército de imitadores, Title Fight continua seguindo em frente com sua música, em uma paisagem apocalíptica descolada e clara de post-punk.
John Hill


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44. Justin Bieber Purpose

Vamos passar longe dos textões sobre redenção e focar na música por um segundo. Esse ano presenciamos a impecável revelação de Justin Bieber: Artista Pop Sério. Pegos de surpresa pela genialidade de “Where Are Ü Now”, o que se seguiu foi uma sequência de hits — a perfeição de metrônomo de “What Do You Mean?” e o pop tropical de “Sorry” — para provar que não era um caso isolado. Então chegou a faixa assistida por Ed Sheeran “Love Yourself”. As participações são de peso — Nas, Travis Scott, Big Sean, a princesa do Tumblr-pop Halsey, junto com os arquitetos do pop, Diplo, Skrillex, Bloodpop (antes chamado Blood Diamons) e Jason “Poo Bear Boyd”. Então é uma pena que o maior erro de Bieber nesse disco tenha sido na edição. Purpose teria ranqueado muito melhor na lista se ele tivesse tirado “Mark My Words”, “Trust” e a canção EDM ansiosa “Children”. Verdade, se ele tivesse trocado essas canções pelos destaques da edição de luxo — ”Been You”, “Get to Used to It” e “We Are” — ele teria dobrado o número de hits quentes. Mesmo assim, 2015 é o ano zero para Bieber, o momento que adultos de verdade começaram a sucumbir à febre Bieber. Saia fora molecada, vocês vão ter que dividir seu jovem talento conosco.
Kim Taylor Bennett


43. Tyler, The Creator Cherry Bomb

Cherry Bomb do Tyler the Creator não é um ótimo álbum. Para ser completamente sincero, nós não temos certeza se ele é bom, mas o disco chegou até aqui por sua visão musical descompromissada, sonica e temática. Se Tyler quer destruir suas caixas de som para além do conserto com a potência da faixa-título, bem, é isso que vai acontecer — ele pode também tão facilmente deixar as coisas mais lentas ao estilo de Stevie Wonder com “Find Your Wings”. De novo, nenhum desses elementos funcionam perfeitamente em sua execução, mas tem um charme na loucura de Cherry Bomb que faz do trabalho uma ótima audição para o ouvinte paciente. Mesmo que não seja isso que a maioria dos fãs de Tyler queira ouvir.
Jabbari Weekes


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42. Car Seat Headrest Teens of Style

O recente membro da Matador, Will Toledo lançou um dos mais fortes discos de estreia com sua obra prima em Teens of Style. Apelidado de Guided by Voices para millenials, o compositor de 23 anos de idade faz canções pop lo-fi tão profundamente ansiosas que Robert Pollard provavelmente está em algum lugar dando uma voadora de aprovação. O zumbido que permeia o disco é deixado lá para obscurecer confissões líricas como “I want to kick my Dad in the shins” (eu quero chutar meu pai na canela) na faixa de destaque “Something Soon” para admitir, “When I was a kid I fell in love with Michael Stipe” (quando eu era criança eu me apaixonei por Michael Stipe). (Como se a charmosa obsessão de Toledo por rock à la R.E.M. já não fosse óbvia). Ao ouvir Teens of Style de Car Seat Headrest é como ler um diário deixado aberto com as palavras riscadas. Ele quer que você leia, mas só se você se esforçar nesse sentido.
Bryn Lovitt


41. Speedy Ortiz Foil Deer

Uma das partes mais divertidas de ser um fã de música está em ver um artista crescer de disco em disco. As experiências pessoais que os músicos passa na produção de um álbum sempre aparecem em seu próximo lançamento, e às vezes essas experiências pessoais mudam radicalmente o material que faz um disco.

Isso é parte do que faz o último lançamento de Speedy Ortiz, Foil Deer, um álbum tão impressionante. A compositora, vocalista e guitarrista Sadie Dupuis ficou de saco cheio de escrever sobre relacionamentos e ficar bêbada o tempo todo, e focou sua energia no que está acontecendo no mundo. Essa mudança de foco nos deu canções como “Raising Stake” e “My Dead Girl”, duas canções muito poderosas sobre o que é ser uma mulher que existe na sociedade em 2015.
Annalise Domenighini

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40. Mgla Exercises in Futility

O último álbum de Mgla, With Hearts Towards None, apresentou a dupla polonesa a um público muito maior que seus lançamentos anteriores, e agora, a sequência parece ter estourado ainda mais. A banda — cujo nome se pronuncia “M-gwah” — parece agradecida (embora um pouco surpresa) com o aumento da atenção, e Exercises in Futility merece cada palavra que foi escrita em seu louvor. Mgla opera do lado ortodoxo do black metal (completo por uma atmosfera gélida da segunda onda, tirado diretamente de De Mysteriis Dom Sathanas), mas acharam razoável aumentar suas composições mais tradicionais com uma espinha dorsal melódica e trabalhando com andamentos que parecem um bom black’n’roll. Sua abordagem é simples, mas funcional; Exercises in Futility é certamente um album depressivo, geralmente de maneira bonita, mas todas as hipérboles e extrapolações de lado, eles simplesmente compões boas canções de black metal — e agora, mais pessoas do que nunca estão ouvindo.
Kim Kelly


39. Thundercat The Beyond/Where Giants Roam

2015 vai ser um ano lembrado por muitos como o ano em que o selo Brainfeeder prometeu fazer os jovens ouvirem jazz. Um dos lançamentos mais marcantes da label foi o EP do Thundercat, The Beyond/Where Giants Roam. Thundercat, ou Stephen Bruner, forçou um campo de emoções nos ouvintes, trazendo um amplo número de convidados para amplificar seu som. Compacto é a palavra-chave aqui, o isolamento da cidade grande no single principal “Them Changes” comprime afiadas influências de jazz e elementos em uma atraente faixa de três minutos. O clima pop dela é deixado de lado quando entra “Lone Wolf and Cub”, uma canção que define o melhor da ideia de uma música enquanto jornada. Essas composições e trabalhos constroem para formar a peça inteira; emoção e catarse com a duração de um banho longo.
John Hill


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38. Björk Vulnicura

Björk deixou bem claro que seu nono álbum, Vulnicura, é uma peça de arte interativa. Do seu clipe 3D em realidade virtual para o primeiro single "Stonemilker" até a exposição que repassa sua carreira no MOMA em Nova York, Björk não economizou nesse disco. Ao colaborar com o produtor Arca e The Haxan Cloak, Vulnicura segue uma viagem fria e cheia de sintetizadores: as sessões de cordas em loop criam um eco tão profundo e cristalino que mimetiza o terreno da amada Islândia de Björk. Considerando o recente ativismo ambiental da cantora, faz sentido que Vulnicura tomasse a forma do mundo natural. É claro que canções como “Black Lake” e “Quicksand” são metáforas emocionais para a narrativa do término do seu relacionamento, mas é difícil não ver como elas também falam da mudança climática que estava claramente em sua mente.
Bryn Lovitt


37. Laura Stevenson – Cocksure

A música de Laura Stevenson é o que acontece quando uma pessoa com certa tendência autodepreciativa também sabe escrever canções pop perfeitamente construídas. Cocksure, como o resto do catálogo de Stevenson, mostra sua habilidade em fazer os sentimentos mais pesados soarem divertidos. Enquanto ela consegue passar esse malabarismo em canções como “Jellyfish”, também há algumas fossas em que Stevenson nos apresenta lugares mais escuros musicalmente falando. Em “Ticker Tape” por exemplo, ela solta um dos versos mais tristes de Cocksure em cima de uma melodia mais melancólica. Esse disco pode trazer alegria ou acabar com o seu coração, tudo depende de como você vai olhar pra ele.
Dan Ozzi


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36. Courtney Barnett Sometimes I Sit and Think, and Sometimes I Just Sit.

As canções da (mais ou menos) estreia de Barnett, A Double EP: A Sea of Split Peas era em grande parte sobre apatia, ansiedade e as questões sobre virar adulto, Sometimes I Sit and Think, seu primeiro LP de verdade, é um claro “E agora?” quando você percebe que de fato cresceu. As odes sobre baladas até tarde da noite e faixas sobre masturbação deram lugar para canções sobre procurar uma casa para comprar e a destruição da grande barreira de corais. Ela não é a única artista por aí a falar sobre o existencial mundano— aham, Father John Misty — mas ela o faz com tanta honestidade e graça que parece mordaz ao invés de raivoso. A música também amadureceu, “Small Poppies” nos dá um dos melhores solos lentos de guitarra do ano, enquanto a sinistra “Kim’s Caravan” a envolve em uma microfonia isoladora. É uma boa desculpa para evitar a festa e ficar à noite em casa com ela e seu disco.
Andrea Domanick


35. Holly Herndon Platform

No papel, não tem muito que pareça acessível em Platform, um disco de composições eletrônicas experimentais que incluem obras declamadas e pouca referência à melodia tradicional. Mas ouvir o disco é uma experiência profundamente familiar. Herndon funde o impulso controlado de sua pesquisa de PhD em composição com a pulsão visceral e saturada da dance music que a inspirou no princípio. O resultado é música que não se alinha necessariamente com nenhum conjunto particular de emoções, mas soa profundamente humana. Ao beber de todas essas fontes, Herndon faz um novo caminho no território musical, algo que pode se aproximar de uma singularidade estilistica. Não é, como a maioria da música, um diálogo — um artista criando algo que apresenta isso para um público para ser consumido e respondido. Ouvir o disco é uma experiência que, como ela mesmo diz, cria múltiplos “pontos de entrada”. É música que você pode habitar. Holly Herndon pode ser a única artista fazendo música hoje que soa completamente original e nascida no seu tempo. Combinando sensibilidades pop, batidas dance, técnicas eletrônicas experimentais, e algumas das tecnologias sonoras mais sofisticadas disponíveis, Platform é, tanto literal quanto figurativamente, o som de 2015.
Andrea Domanick


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34. Disclosure Caracal

Sim, sim, o Caracal do Disclosure não é a segunda vinda do UK house mas se você esperava algo assim bem, é culpa sua — especialmente porque ao invés disso o disco abriga algumas das melhores canções pop (sim pop!) do ano. “Nocturnal” junta sintetizadores tremeluzentes com o tenor de The Weekns enquanto os irmãos Lawrence, de alguma forma, fazem a Lorde cantar uma canção sobre adultério e soa tão… bonito. E claro, não aumenta a barreira do híbrido house/pop de seu primeiro lançamento, mas é um conjunto de trabalho conciso e consistente que flutua tranquilamente do começo ao fim e definitivamente deve estar entre os melhores de 2015. Além do mais, “Moving Mountains” é uma aula de como construir um climax direito.
Jabbari Weekes


** Book of Souls 33. Iron Maiden –**

2015 vai ficar conhecido como um dos anos mais triunfantes para a carreira do Iron Maiden — não é pouca coisa já que a banda tem chutado bundas desde 1975. Book of Souls é o décimo sexto álbum de estúdio dos garotos de Londres, e seu primeiro desde The Final Frontier de 2010. Bastante coisa aconteceu nesse hiato de cinco anos de gravação (incluindo o lançamento de várias compilações, caixas e pelo menos dois álbuns ao vivo), mais notavelmente a vitória de Bruce Dickinson na batalha contra o câncer (e não qualquer tipo de câncer, cancêr de garganta). Sua famosa voz de sirene sobreviveu intácta à batalha e soa até mais forte do que em outros anos, dando seu famoso lamento para uma série de épicos ambiciosos (incluindo o de 18 minutos em “Empire of The Clouds”). Book of Souls é definitivamente um pouco mais progressivo do que seus álbuns anteriores e tem uma gordura que podia ter sido tirada (“Tears of a Clown”? sério caras?) mas em geral, é um disco bem sólido. Iron Maiden ainda é a maior banda de heavy metal do mundo, e eles não pretendem nos deixar esquecer disso.Kim Kelly


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32. Tame Impala – Currents

O diabo está nos detalhes aqui: as palmas pontuadas, as viradas de bateria em “Let It Happen”, o banjo inesperado em “New Person, Same Old Mistakes”, aquela maldita linha de baixo em “The Less I Know the Better”, o jeito que “Disciples” soa como se viesse de um alto falante submerso até uma luz acender aos 44 segundos. Talvez não seja tão surpreendente já que Kevin Parker é um nerd de audio — obsessivamente construindo, tocando e produzindo cada nota de seu catálogo de três discos, mas Currents é um caso à parte. O pop psicodélico e as letras vagamente decifráveis que caracterizavam os discos anteriores foram substituídos por produção afiada, notas habilmente aplicadas (Sintetizadores! Órgão! Cravo!), e inesperada lucidez emocional. “Yes, I’m Changing” é a canção de término mais rica e positiva que já foi escrita, enquanto a abertura do disco, “Let It Happen”, consegue soar tão apertada quanto expansiva. Não existe excesso aqui, nenhuma nota. Currents é um dos exemplos mais finos de composição pop esse ano, e mesmo com tanta precisão técnica, o disco é todo sentimento.
Kim Taylor Bennett


31. Dilly Dally Sore

Esse disco de força bruta do grupo grunge de Toronto, Dilly Dally, é mais do que uma volta aos anos 90. Na verdade, Sore tira o embrulho plástico de tudo o que tem de descolado no revival dos anos 90 e nos lembra o que fez do grunge um som tão bom a princípio, e está alí sua raiva pura e não adulterada. Até a microfonia nervosa que inicia o disco não é páreo para a voz raivosa de Katie Monks: sua apatia é fervilhante e ela é uma chaleira no microfone. Mas não é só o som da voz de Monk no microfone ou as guitarras pungentes que fazem Sore soar tão cru. As letras apontam para os desejos frustrados de Monk. Cada canção em Dilly Dally é uma apresentação poderosa — começando com o single principal em “Desire” até “Ballin Chain” — um esfregar-se em um amor que pode te matar no final.
Bryn Lovitt


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30. A$AP Rocky AT. LONG. LAST. A$AP

Em sua curta carreira, A$AP Rocky se estabeleceu como um artista que tem feito tudo o que pode para não se restringir ao que é tradicionalmente chamado de “rapper”. Depois de usar a atenção do Tumblr para lançar sua carreira com sua excelente mixtape LIVE.LONG.A$AP, o primeiro álbum de Rocky LONG.LIVE.A$AP (que apresenta elementos que eram meio aleatórios e um som que não era tão focado) nos desapontou um pouco. Entrando em 2015, enquanto o mundo espera por uma sequência do garoto do Harlem, algumas pessoas duvidavam que Rocky pudesse nos entregar um projeto que correspondesse ao que era esperado dele. Além disso, no começo de 2015, A$AP Yams — o mentor de Rocky, melhor amigo e parceiro de negócios — morreu de uma overdose. Ainda assim, a pergunta continuava: sob a pressão de lançar um ótimo disco, agora sem seu irmão, Rocky iria conseguir? A resposta era simples, sim. AT.LONG.LAST.A$AP é um disco de 18 faixas que parece ter nascido nos anos 70, abraçando tanto a natureza psicodélica que às vezes nem parece um disco de rap. A natureza rodopiante do disco envolve o ouvinte em um prazer sônico, ao mesmo tempo que é assombrado pelo tema da perda. As impressões digitais de Yam ainda estão presentes no disco todo, mas Rocky provou que ele pode nos dar uma visão clara o bastante para fazer um projeto apenas seu.
Eric Sundermann


29. Empress Of Me

Criado sozinho em uma cidade rural mexicana, Me, da Empress of, é um disco pop com mais coragem do que aparenta. Das fortes batidas, ao poderoso sintetizador, o momento em que você toca Me, faz você entrar pela porta da cabeça de Lorely Rodriguez; você estará dentro de suas histórias. Tem o conto de amor obsessivo com “Everything Is You” entregue em vocais à la James Blake, o vigoroso batidão de “Standard”, e “Water Water” que ignora qualquer refrão em troca de um drop baleárico digno de um festival croata de dance music. Não é surpresa que Lorely Rodriguez tem a determinação e caráter para conseguir fazer um disco desses — além de ter a voz de uma harpa humana, ela estudou produção e engenharia de som em Berklee — o que não torna Me menos impressionante como um artefato de individualidade artística. É impressionante o que o isolamento pode fazer com a auto-estima e determinação de uma pessoa, ao eliminar a possibilidade de perguntar para alguém: “Ei, você acha que isso aqui está bom?”. A lição desse disco é: crianças usem menos o Facebook e saiam mais de casa.
Joe Zadeh


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28. Cloud Rat Qliphoth

O disco anterior do Cloud Rat, Moksha, foi um lançamento importante para a banda ao mostrar o grupo de grindcore para fora de Detroit direto para a mídia, portanto a antecipação de seu próximo lançamento estava obviamente bem alta. Lançado pela Halo of Flies em 29 de maio, Qliphoth mais uma vez apresenta a banda em um agressivo medley de grind, sludge, atmospheric doom, post-rock e noise, entregando 17 faixas de fúria em 40 minutos emocionais. Enquanto ruge e grita em meio a batidas aceleradas de grind, a maior força do disco está em seus momentos calculados de calma melódica — como em “Raccoon”, que vê Madison executar um urro de ranger os dentes sobre texturas post-rock, ou o efeito coral fantasmagórico em “Thin Vein”. Cloud Rat sempre foi uma ótima banda de grindcore, mas eles mostraram antes (e deixaram bem claro agora) que ultrapassaram o gênero. Eles são ótimos, apenas.
Kim Kelly


27. Young Thug Barter 6

Young Thug subverte o som, imagem e realidade de cada expectativa, incluindo as sobre o que o “primeiro disco” deveria ser. No que provavelmente vai ser lembrado como um dos movimentos mais espertos da história do hip-hop, ele ameaçou nomear seu disco como Carter 6 para cutucar Lil’ Wayne que continua atrasando o lançamento de Carter V. Outros rappers podem calcular cada detalhe do que seus marqueteiros e empresários querem construir, mas aparentemente, de uma hora para outra, Thugger muda a narrativa toda. Ainda assim, nada parece ser gratuito. Ao invés, você pode ver como seu cérebro funciona e como sua visão é clara do que se transformaria em Barter 6. Canções como “With That” mostram como seus vocais acertam e mudam, criando coros de múltiplos elementos e batidas. Cada canção nos conecta ao idiossincrático mundo de Thug, cada batida fundindo em seu vocal para criar uma empolgante simbiose hip-hop.
John Hill


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26. Drake If You're Reading This It’s Too Late

O bom e velho Drake, consistentemente lançando música para diferentes graus de sucesso. Esse ano foi estranho para o rapper preferido de Toronto, que decidiu abrir 2015 com uma mixtape surpresa que (surpresa!) não parecia com nada do que ele tinha feito antes, uma amostragem mais pesada e raivosa em sua habilidade de escrever rap. Teve hits certeiros como “Know Yourself” e a parceria com PARTYNEXTDOOR “Preach”, mas tudo longe de um gesto pop em um ano que Drake continuou caindo cada vez mais no estrelato pop. Talvez DJ Drama, que depois foi se dedicar ao Gangsta Grillz, possa ser culpado pela qualidade do mixtape que fez ele parecer mais uma coleção de singles do que a experiência imersiva que seus outros discos nos fizeram esperar. Mas isso não impediu canções como “10 Bands” e “Energy” de se tornarem ótimas realizações em si no canone de faixas de Drake para as pessoas gritarem malucas na balada, e ela fala com a grandiosidade de Drake que o permite testar o que quiser e ainda soar tão maneiro.
Slava Pastuk


25. Sufjan Stevens Carrie & Lowell

Os pontos de virada de Sufjan Stevens entre Illinois e agora The BQE, são uma exploração em técnica mista sobre o trem entre o Brooklyn e o Queens, e The Age of Adz, seu sexto álbum e primeiro álbum em que usou pesadamente instrumentos eletrônicos. Ambos os trabalhos possuem uma grandeza caótica que direcionou um período evolucionário gasto colaborando com rappers, lançando discos de natal, e integrando um conjunto de dança interpretativa, asas de anjo, e fantasias de astronauta em suas apresentações ao vivo. No fim disso tudo, Carrie & Lowell parece um forte choque de realidade. Canção após canção, Stevens está despido em sua forma mais íntima. Sem o fundo orquestral e seu cativante melodrama. Ao invés disso, nos são oferecidas composições sinceras e um acompanhamento de banjo, violão e piano. Tematicamente, o disco lida com a morte, em 2012, de sua mãe cuja trajetória foi complicada pela esquizofrenia, transtorno bipolar e abuso de drogas — no álbum, Sufjan navega pela presença da sua mãe por meio de suas próprias memórias. Ainda que em toda sua melancolia, Carrie & Lowell está longe de ser pesado. É uma obra prima de perdão, amor e luz, frente à imprevisível escuridão da vida.
Emma Garland


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24. Vince Staples – Summertime 06

Com 20 faixas (e considerado um disco duplo), Summertime 06 é uma longa audição. No entando é tão frágil que parece que pode quebrar em um segundo. Faixas como a de abertura em “Lift Me Up” ou “Jump Off The Roof” saltam para ação com imediatismo. É um álbum baseado no realismo: Staples documenta a vida em Long Beach, Califórnia em um tom escuro e frio, longe do onipresente sol do estado. Não é dizer que não é alegre de sua própria maneira. Só uma pessoa surda desafiaria a habilidade de Staple em narrar uma história. E é nesse cruzamento que o apelo de Summertime 06 se mostra. Como Craig Jenkins nos apresentou na resenha para o disco esse ano, “a escuridão não é a história; é o que você faz nela, como você se livra dela, é isso que conta”.”
Ryan Bassil


23. Little Simz A Curious Tale Of Trials + Persons

O mais impressionante desse disco é que não há absolutamente nenhum precedente para ele. Um disco biográfico de hip-hop de uma jovem mulher inglesa, nenhuma faixa de pista, a maioria das canções minimalistas, variando entre a palavra docemente faladas e explosões agressivas. Com o que você pode comparar? Certamente nada na memória recente do Reino Unido.

O sucesso do disco funciona na maneira que Simz desvia de todos os estereótipos do hip-hop inglês. No resto do disco, seu flow é bem coeso, voltado para batida e depois soltando tudo como um carrinho de fricção. Funciona especialmente bem enquanto ela passeia por uma produção embaçada, quebrada e suas histórias contundentes. O que mais marca é o engajamento emocional com seus personagens, uma faixa sobre alguém perdendo as esperanças e morando nas ruas, Simz incorpora seu estado pessoal enquanto descreve a situação.”
Sam Wolfson

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22. Kamasi Washington The Epic

Quando as pessoas falam sobre jazz moderno, geralmente é com os asteriscos de contexto histórico e referências, como se o gênero só pudesse existir em relação a seu próprio desenvolvimento. Até o termo “jazz moderno” implica uma conjunção do que houve antes. Mas você não precisa conhecer tanto de jazz, ou sequer gostar de jazz, para se comover com o adequadamente nomeado disco de estreia de três horas do Kamasi Washington, The Epic. Nele, a cena rica porém isolada de jazz de Los Angeles sai das sombras para encontrar colaboradores mais mainstream como Kendrick Lamar e Flying Lotus para comandar um coro de 20 pessoas e uma orquestra de 32 instrumentos (que inclui seu parceiro de selo Thundercat). O resultado é uma experiência tão generosa quanto avassaladora. Suas composições são meticulosas, mas soam telescópicas. Você pode dar uma aula com os artistas homenageados — dos saxofones de John Coltrane da era A Love Supreme ao fusion dos anos 70 com Weather Report à sinuosa ambição do pioneiro do free jazz Albert Ayler — mas não há nada clínico nisso. Sua convicção e espiritualidade tem muito em comum com Lamar e Fela Kuti quanto aos análogos mais tradicionais de Washington. Ao invés de ceder à nossa era de excesso de informação, os 173 minutos do disco desafiam sua inteligência emocional em apenas ouvi-lo. E é por esse motivo que The Epic traz a conversa sobre o jazz firmemente para o presente, nos dando uma noção do que inovadores como Coltrane, Ayler e Miles Davis passaram quando fundiam suas próprias almas aos metais: apenas jazz.
Andrea Domanick


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21. Future 56 Nights

O disco DS2 foi o que colocou o rapper de Atlanta no mapa. Mas para quem não é membro do #FutureHive há anos, Nayvadius nos deu 56 Nights. Aqui nós temos nove faixas explosivas — uma delas “March Madness”, uma canção tão boa que deixar esse projeto tão baixo nessa lista é vergonhoso — o equivalente musical de cheirar carreira atrás de carreira de cocaína. Nomeada a partir da sentença de 56 noites na cadeira de DJ Esco em Dubai, essa música não é feita para ouvidos fracos. Essa música é pra revolução. 56 Nights não enrola quando é hora de ficar profundo e emocional, ao invés, é dirigida pelo caos puro. 56 Nights é frustração.56 Nights é escuridão. 56 Nights é raiva. 56 Nights é vida.
Eric Sundermann


20. Desaparecidos Payola

Se houvesse alguma crítica a ser feita sobre o quase perfeito disco dos Desaparecidos de 2002, Read Music/Speak Spanish, é que ele era muito bairrista. As músicas perfeitamente compostas que contavam as dores e políticas de sua cidade natal de Omaha, não falava muito para ninguém de fora. Saiam um pouco de casa, caras! Felizmente, quando Conor Oberst e grupo voltaram por seu muuuuuiito aguardado segundo disco, Payola, 13 anos depois, eles fizeram justamente isso. Cada uma das 14 músicas do disco é uma acusação de um problema americano maior: sistema de saúde deficiente, xenofobia institucionalizada, e a cultura de brothers de Wall Street, todos esses temas sentem a vingança e, às vezes, a mão sarcástica dos Desaparecidos. Sem mencionar que musicalmente, Payola é tão sólido quanto um diso de heavy rock distorcido poderia ser.
Dan Ozzi


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19. J Hus The 15th Day

Se o Fetty Wap com seu flow melodioso e irresistível disco de estreia foi a estrela surpresa do hip-hop americano esse ano, então J Hus é certamente seu correspondente no Reino Unido, fazendo até menções a “Trap Queen” nessa sua mixtape de estreia. Sua inteligente troca com influências jamaicanas e do oeste africano com sua formação londrina criou um som completamente novo, melódico e sinuoso, ouvido em todos os lugares do carnaval até festas em casa. Suas faixas “Dem Boy Paigon”, e “Trap Queen”, provocam euforia onde quer que toquem.

Mas existe um risco em levar muito a sério a fusão de gêneros de J Hus. I sso porque o que faz do disco algo ótimo é o fato dele ser feito de piadas. J Hus é um daqueles artistas especiais que conseguem fazer a galera dançar, mesmo sem entender a piada. Versos perfeitamente feitos para esconder o humor. Seja em “I’m Coming”, uma canção sobre uma garota rica que manja das ruas, ou sobre romance interracial, Hus consegue entregar as piadas.

Fetty Wap acabou o ano como uma das maiores estrelas dos EUA, e J Hus está meio longe disso — mas ele nem tem uma canção no rádio. Ainda assim, The 15th Day é uma espetacular carta de intenção: se alguém ainda estiver se perguntando qual o próximo grande MC britânico, depois disso não temos muita dúvida.
Sam Wolfson


18. Nicole Dollanganger Natural Born Losers

Nicole Dollanganger tem lançado música por meio do Bandcamp desde 2013, mas quando Grimes ouviu seu primeiro disco de estúdio esse ano, ela lançou uma espécie de selo só para lançá-lo, dizendo “é um crime contra a humanidade essa música não ser escutada”. Ficando em algum lugar entre Jewel e Nine Inch Nails, Dollanganger deixa sua coleção de bonecas de um lado do seu quarto e a de armas do outro, e tenta fazer arte que seja simultaneamente “nojenta e bonita”. Seu primeiro vídeo mostrou homens vestidos de couro comendo sobremesas e se pegando em um campo de baseball vazio, e o álbum abre com uma história da Nicole abatendo um anjo dos céus com o rifle de seu pai, vendo ele sangrar e o pendurando como um troféu. Ela pode ser canadense, mas juntando fotografias de um romance, brutalidade policial, crocodilos e iconografia religiosa, Dollanganger criou um dos contos mais trágicos da memória americana recente.
Emma Garland


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17. Fetty Wap Fetty Wap

A reclamação mais comum que as pessoas têm do álbum de lançamento de Fetty Wap é que as músicas parecem todas a mesma. Bom, você tem razão nisso, mas com que propósito você mexeria na fórmula que garante a perfeição? Pedir para um homem que tinha três músicas no top 100 da Billboard antes mesmo de ter um disco, parar de fazer o que está fazendo é ridículo, e é ótimo que ele não siga suas orientaçõs. Categorizar esse disco como rap é injusto com Fetty Wap, que faz música exclusivamente sobre se apaixonar e cuidar bem do seu amor. Fetty Wap é o artista no qual os selos tentaram transformar Future com Honest, só que dessa vez não foi nada forçado. “Time” é uma canção que não soaria fora de lugar no projeto Journals de Bieber, completa com a sessão de cordas e letras comoventes, e o fato que a absolutamente monstruosa “Boomin” que se segue, fala do alcançe que Fetty Wap pode ter, apesar de ele ser um artista bidimensional. Esperamos que ano que vem nós paremos de falar sobre Fetty Wap fazer sempre o mesmo tipo de canção e falemos sobre algo que importa: sobre como ele é o melhor rapper de um olho só a fazer as melhores canções de amor.
Slava Pastuk


16. Kehlani – You Should Be Here

Mesmo hoje em dia nessa era amigável com o pop, o estereótipo do “artificial” persiste sobre os artistas pop, tidos como rasos e sem o controle de suas próprias imagens. Mas não há o risco de cometermos esse erro com Kehlani, a cantora de R&B de Oakland que, se houver justiça no mundo, será a nova estrela a estourar no gênero. Ela é acessível como um parente mais velho pronto para dar conselhos (apesar de ela ter apenas 20 anos quando essas canções foram compostas e gravadas), e sua síntese intuitiva de hip-hop, funk e dance projeta uma aura de Califórnia maneira da era da internet que não pode ser comprada. Tratando de tudo, desde ciúmes nas mídias sociais ao relacionamento conturbado com sua mãe, sua composição funciona quase como um guia para qualquer pessoa mais jovem que tenta se assegurar em um mundo que não é particularmente interessado no que eles têm a dizer. Esses jovens deveriam ficar contentes de ter Kehlani. Com sua atitude de “você também consegue”, You Should Be Here sugere um ousado futuro para a música — um que é sincero e empoderado. Emoji de mãos rezando e que ela continue assim.
Kyle Kramer


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15. Beach Slang – The Things We Do to Find People Who Feel Like Us

Os dois EPs iniciais que Beach Slang lançou ano passado deram a base para o que a banda de Philadelphia iria apresentar — otimismo, nostalgia pelos anos de glória da juventude e uma fé intransigente no poder da música. E sem seu primeiro disco The Things We Do to Find People Who Feel Like Us, eles não apenas voltaram a essa fonte como também mergulham de cabeça nela. Mais de dez canções, a banda expande a partir dos sentimentos emotivos que imediatamente construiu sua base de fãs — a um nível quase absurdo, na verdade. Até o título é a coisa mais Beach Slang que eles poderiam fazer. O resultado final é um disco de rock atemporal, um que poderia facilmente ocupar o lado de uma fita no seu Walkman. E apesar do disco parecer estar olhando para trás, Beach Slang está acontecendo bem agora.
Dan Ozzi


14. Earl Sweatshirt – I Don’t Like Shit, I Don’t Go Outside

Existem muitos discos sombrios por aí, mas nenhum captura o sentimento de profundo desânimo emocional esse ano como o terceiro disco de Earl Sweatshirt, I Don’t Like Shit, I Don’t Go Outside. Como o título sugere, as dez faixas do disco mostram estar destruído pela solidão, paranoia, pensamentos inoportunos e uma dose doentia de falta de autoestima. Earl fala sobre sentir falta de sua avó, não ter um lar; fugir de seus sentimentos com ajuda da maconha. Mas com um portfólio tão intenso, I Don’t Like Shit, I Don’t Go Outside é uma audição impressionantemente coesa, comunicando o lado claustrofóbico da natureza humana com extrema clareza. Ao cortar seus laços com o mundo exterior, com Odd Future, com as expectativas de seus fãs de como sua música deveria soar, Earl Sweatshirt fez um disco que deixa de lado qualquer imagem anterior que ele projetava. Cru, honesto e tecnicamente sólido, é um passo exorcizante em território não mapeado.
Ryan Bassil


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13. Sporting Life 55 5’s

Como um terço da produção do grupo novaiorquino Ratking, Sporting Life é bem conhecido em certos círculos pelas loucas paisagens sonoras que ele cria. Faixas do disco do ano passado, So It Goes (como “Canal” ou “Remove Ya”), usam sua produção para lembrar nuances de ambientes do centro da cidade no melhor jeito possível: construindo batidas de sirenes de polícia e sons de músicos de rua. Uma faixa em seu primeiro disco solo 55 5’S chamada “Pre-order the Dope” continua nessa técnica com uma seleção sonora que parece ter vindo de uma floresta tropical. O resto do disco no entanto, é uma chance para Sporting Life produzir beats que ele não conseguiria fazer com Ratking. E que mundo ele nos apresenta! A ausência de uma voz dá espaço para seu trabalho respirar, criando um ambiente grooveado onde somos bem vindos para entrar e nos estirarmos durante algumas horas, curtindo seu ambiente. Supostamente uma amostra de outro disco por vir, 55 5’S deixa o ouvinte pronto para o que pode ser o Selected Ambient Works dessa geração street wear, skateboard e fumadora de maconha.
Ryan Bassil


12. Oneohtrix Point Never Garden of Delete

Humanos no futuro provavelmente vão parecer robôs mais do que gostaríamos de admitir. Quando a internet e a consciência humana virar uma coisa só, e nós estivermos vivendo em um fluxo constante de informação, nossos pensamentos e emoções provavelmente vão parecer algo próximo da paisagem sonora que Oneohtrix Point Never criou com seu disco de 2015, o Garden of Delete. É um mundo que parece estar preso dentro de um fluxo interminável de dados, nos quais momentos de triunfo são seguidos imediatamente pelo horror ou confusão. Instrumentos artificiais nos dão grandes quebras e solos, e então retornam para as rachaduras para oferecer o retrato completo do hiper-futuro. É uma estrada sem fim de som.
John Hill


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11. Chris Stapleton Traveller

Como um hábil cantor e compositor de country, você tem dois caminhos para o estrelato em Nashville: um raio de sorte inesperada ou anos trabalhando em suas melhores canções das sombras. O cantor de Kentucky, Chris Stapleton escolheu o último, dando hits da lista de 100 mais da Billboard para outros como Kenny Chesney, Darius Rucker, Luke Bryan, e outros, enquanto trabalhava ao lado com suas bandas ao mesmo tempo. Seu disco de estreia, Traveller é o produto afiado e trabalhado durante mais de uma década de refinamento doloroso e paciente em seu exame das perdas em canções como “When the Stars Come Out”, e a solitária e arrependida “Whiskey and You” mas também trabalha com vários hard rocks como a faixa título e “Might As Well Get Stoned”. Stapleton bebe pesado, fuma pesado, e chora pesado, e ele tem uma voz que pode fazer uma pedra chorar. Se por algum milagre da ciência você terminar “Sometimes I Cry” sem sentir nada, veja um médico e um padre. Você está morto.
Craig Jenkins


10. Miguel Wildheart

Wildheart é o disco mais sexy do ano. Nada. Chega. Perto. Até colocar suas letras em cima de imagens de Minions não consegue aplacar seu erotismo. Isso é impressionante, realmente, dado que na maioria das vezes ele não é nada sutil. A capa do disco é um perfeito sumário de seus temas: o arrepio na pele, a forma como a exploração carnal irá fazer vocês vibrarem na mesma frequência, as nuvens cor de pele flutuando em direção a uma conexão carnal (e talvez mental também) de dois humanos em uma experiência quase religiosa. Miguel consegue fazer essas coisas soarem ótimas com seu romantismo apelativo. É aquela coisa do Prince (como em “Flesh”), mas também é a agilidade do músico de 30 anos, que pula do funk setentista de “DEA”, ao R&B de “NWA”, aos sentimentos escancarados de “What’s Normal Anyway”. Você achava que “Use Me” de 2012 era explícito? Com seu sintetizador minimalista “The Valley” é essencialmente um cyber sexo em versão sonora. Confiança é um um afrodisíaco poderoso e atemporal, mas miguel consegue fazer a sinceridade ser tão atraente quanto, e Wildheart é seu melhor disco até o momento.
Kim Taylor Bennett


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9. Misþyrming Söngvar elds og óreiðu

A Islândia está rapidamente superando a Noruega e a Suécia como Meca do black metal; — obviamente os outros dois países nórdicos têm o benefício de anos de história a seu favor, mas o que está acontecendo dentro e fora de Reyjvavik agora está injetando a necessária vida em um gênero baseado na morte. Uma cena pequena e unida baseada em volta do selo Vánagandr deu força para algumas das vozes mais iluminadas do black metal — e esse ano, um dos seus conseguiu notoriedade internacional depois de um puta lançamento de estreia. Membros do Naðra, Carpe Noctum e NYIÞ se juntaram no Misþyrming, para lançar Söngvar elds og óreiðu para nos oferecer um denso e cerebral black metal que nasceu do caos mas é controlado com punho de ferro; atmosférico, desafiador e hipnótico, o disco condensa tudo o que tem de melhor no gênero esse ano em ameaçadores 45 minutos.

É uma audição intoxicante, uma que mesmo ouvintes casuais podem reconhecer como excepcional; riffs dentados entram em convulsão, melodias lamuriosas caem até sumir na escuridão, os urros atonais do vocalista D.G. ecoam no espaço inteiro. Não contente apenas em se destacar nas fronteiras turvas do black e death metal, Misþyrming também procura chocar, irritar — a saída carnavalesca de “Endalokasálmar” e a a ameaça ambient pulsante do interlúdio em “Frostauðn” sobrepostos às canções mais ortodoxas como “Friðþæging blýþungra hjartna” mantém você sem saber o que esperar até o glacial fim com “Stjörnuþoka” chegar. Lançado em fevereiro por Terratur Possessions e Fallen Empire Records, não é surpresa que a primeira prensagem em vinil tenha esgotado quase que imediatamente, ou que logo em seguida, Misþyrming tenha sido convidado para os palcos mais prestigiados do metal extremo (incluindo uma residência no Roadburn Festival na Holanda). Uma das coisas mais empolgantes do Misþyrming é como a banda e seus artistas são jovens; nós temos tanto a esperar deles, e dado que um disco tão notável quanto Söngvar elds og óreiðu seja a estreia da banda, podemos apenas imaginar o que eles têm planejado para o futuro.
Kim Kelly

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8. Hop Along Painted Shut

Bom, antes de mais nada, tem essa voz, essa que ninguém consegue parar de falar sobre. Sua singularidade já foi adequadamente notada: Frances Quinlan canta como se estivesse esbarrando em novas verdades sobre a natureza humana a cada nota, como se estivesse arrancando revelações das profundezas de alguma câmera secreta da alma. Também tem essas sequências de guitarra, as frases catárticas de barulho que se desdobram essas canções de íntimos retratos em épicos do tamanho do mundo. E tem a forma como os dois se tocam em angulos estranhos, encontrando formas únicas de desorientar e deliciar dentro de seu universo sônico.

Então, sim, no nível técnico, Hop Along está fazendo coisas um pouco surreais para o mundo do rock realista, mas isso não capta completamente o que faz esse disco tão especial ou porque ele é tão vivo assim. As letras de Quinlan passam por histórias que não são sempre possíveis de analisar — porque esse velho está na ponte? O que estamos fazendo em Louisiana? — ou mesmo fáceis de entender. Mas tem detalhes que encaixam no lugar na hora que são necessárias, os versos se tornam caleidoscópios que fazem a história toda fazer sentido no mundo. As canções, como a vida, prometem surpresas a cada esquina. Talvez essas surpresas sejam decepções. Talvez sejam incríveis. Talvez elas sejam, como as guitarras que fecham o disco, algo que você queria que durasse um pouco mais. Envelhecer não é necessariamente um processo que nos dá respostas; a narrativa geralmente apenas fica mais complicada. Mas se existe esperança de desembaraçar esse mundo bagunçado, provavelmente soa como o otimisto rasgado de Quinlan enquanto ela canta sobre o futuro com amigos, onde “we all will remember things the same” (nós todos vamos lembrar das coisas como estão). Não seria bom? Não é uma forma perfeita de colocá-lo? É claro que sim. Painted Shut sempre acha a nota certa,e inesperada.
Kyle Kramer

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7. G.L.O.S.S. – Demo

Como uma adolescente trans no armário, Sadie a vocalista do G.L.O.S.S. cresce em shows punk em Boston, uma cena notoriamente sem dó dominada por sujeitos imensos conhecidos por darem os socos mais poderosos do hardcore. Ela ia ver bandas como Bane e Reach the Sky e ela sentiu uma conexão.

“Punk era esse espaço [no qual] eu podia usar roupas apertadas e esmalte”, ela contou para a Bitch Magazine. “Eu passei a maioria desses anos lá no fundo do show, mas eu estava sempre escutando, estava sempre sentindo”. Agora, ela está à frente de sua própria banda para “as rejeitadas, garotas e queers, para as mulheres oprimidas que choraram sua última lágrima, para as lutadoras, psicóticas, bizarras e mulheres, para todas as garotas transgênero em transição constante”. G.L.O.S.S. é uma banda para a molecada do fundo. E é hora deles virem pra frente.

Em apenas cinco canções na demo, G.L.O.S.S. solta uma vida inteira de frustração reprimida — frustração com a percepção de gênero da sociedade, frustração em estar preso entre ser chamado de viado como um homem e de aberração como mulher, frustração de ser tratado como uma desajustada. E, como eles deixam bem claro, eles não estão interessados em se conformar com normas de gênero. Estão, no entanto, interessados em pegar a feminilidade de volta, e fazer isso de maneira bem energética.

G.L.O.S.S. veio do futuro. Essa é a proclamação que a banda lança em sua demo, e em menos de nove minutos, eles canalizam cada grama de angústia no que pode possivelmente ser o mais importante lançamento punk da última década, uma que mostra exatamente como o futuro vai ser — do seu jeito.

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Não está pronto? Uma pena.
Dan Ozzi and Annalise Domenighini


6. JME Integrity>

Em menos de dois minutos e meio, Jme faz questão que você saiba exatamente onde ele faz compras , onde ele come, e o que ele come, e sua higiene dental. Para Jme essas não são meras informações aleatórias, porque são o que ele é.

Vivendo e criando sob seu estrito código de ética, Jme orgulhosamente opera sem o envolvimento de um selo, empresário ou relações públicas. Ao invés disso ele usa as mídias sociais para conectar com seu público através de revelações moralmente carregadas, memes e updates minuto a minuto de suas entregas do Amazon. Seja oferecer um disco seu em vinil por uma carta brilhante do Pokemon do Charizard e fazer a troca em um estacionamento, trazer sua própria linha de segways customizados, ou recusar ficar ao lado de Kanye West no BRIT Awards desse ano junto com Skepta, Novelist e o resto do grime britânico porque ele estava com fome, Jme está completamente fazendo sua própria coisa.

Integrity> opera criativamente dentro dos parâmetros do grime, apresentando a produção sombria, as batidas corridas, e samples do Megadrive da Sega que parecem familiares mas estão constantemente aumentando os limites. As faixas raramente vão acima da marca de quatro minutos, e cada uma é uma explosão fresca de energia para Jme cantar em cima. A produção pode ser a espinha dorsal que atrai a maioria das pessoas, mas são os estranhos pontos de referência que elevam de um ótimo lançamento de grime para um álbum definitivo.

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Um resultado poderoso de tudo isso é que Integrity> ficou espremido entre Taylor Swift e James Bay nas paradas em décimo segundo lugar, estabelecendo um novo recorde do álbum independente mais bem colocado no Reino Unido. Dado o salto de atenção de Skepta esse ano, o disco de Jme poderia ser visto como ter pego rabeira do seu primo mais velho. Ao invés disso Integrity> é um triunfo em si que não poderia ter vindo de ninguém a não ser Jme. Várias histórias de sucesso do grime já surgiram no Reino Unido esse ano, quando se trata de singles e freestyles, mas se formos falar de discos, integrity> é o mais importante. Sério.
Emma Garland


5. Grimes Art Angels

É raro ouvir a discussão sobre Grimes sem nenhuma alusão à ampla rede cultural que ela usa como artista. Genghis Khan, Enya, The Mists of Avalon — todos esses e mais passaram pelo universo de Grimes alguma hora no processo de composição de Art Angels. Sua amostra de referências pode parecer uma intimidadora lista de leitura obrigatória, ou pode acordar a invocação pejorativa da crítica à cultura de “Tumblr”, geralmente para reclamar como o serviço de blog apresenta uma visão superficial e embelezada dos pontos de referência escolhidos pelo artista.

Agora pense como o Tumblr funciona para sua base de usuários predominantemente jovem e marginalizada: um universo de coisas que você gosta e sobre as quais você tem controle. Para alguém que se identifica um pouco diferente da molecada da escola ou é um pouco fora do padrão ou pensa, como Grimes, que “the things they see in me I cannot see myself”, (as coisas que veem em mim eu não vejo em mim mesma), esse geralmente não é o caso na vida real. É claro que eles estão embelezando a realidade. A realidade é uma bosta. Tem bullies e cuzões e pessoas que querem te derrubar só por causa do jeito que você se veste. A opção de criar um lugar onde você possa fugir, seja através de um conjunto de imagens maneiras ou de uma sessão de Dungeons and Dragons ou um bom livro, sempre será vital e importante.

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Visions era ficção científica”, Claire Boucher contou para a New Yorker esse ano. “E esse disco é fantasia”. Como todos os grandes escritores de fantasia, um dos maiores dons de Boucher é sua habilidade de criar um mundo imersivo, um que que cada clique e sintetizador, e verso de rapper chinesa e grito de rasgar a garganta é cuidadosamente pensado e colocado. Existe magia nessas canções curiosamente pop. Está no grito visceral de Boucher em “Kill V. Maim” e no vale de possibilidades que se abre sob o refrão de “Flesh Without Blood”. Está na explosiva busca por respostas de “California” e no encantamento de “Easily”

Antes do lançamento do disco, a insistencia de Boucher em fazer tudo ao nível de engenharia de suas canções parecia beirar a obsessessão — nós não esperamos isso de literalmente nenhum músico — mas no contexto faz sentido que ela queria controle total sobre o reino que construiu. O que você encontra lá é com você, seja escolher navegar pela identificação de gênero ou contexto cultural ou teoria de arte é você que decide. Boucher faz isso para ela, e essa é talvez sua constatação mais radical para com seus fãs: a ideia que, para cada um, como Grimes canta em “Butterfly”: “you could be anything there” (você pode ser qualquer coisa lá). Art Angels é um testamento para a ideia de construção de mundo pessoal, um encorajamento a você fazer o mesmo, um hino de batalha para os desajustados e exilados. É uma grande tenda de música pop no melhor sentido, uma força unificadora que quer criar espaço para todos e nos lembrar que somos fortes o bastante para sermos nossos próprios anjos.
Kyle Kramer


4. Jamie xx In Colour

Jamie xx virou alvo de várias criticas da ala mais especializada em dance music da internet, com o Resident Advisor atacando sua música. Outros críticos de dance music, inclusive, seguiram a onda.

Seu principal problema não é que ele não é tão underground quanto os discos de dance que o influenciaram são, mas que esse não é um disco dance de verdade — é um disco sobre dance music. Está em dívida com a história do underground do Reino Unido, mas não faz parte dessa linhagem. Ao invés, é um rico e bêbado trombar entre espaços das áreas para fumantes e escadas de incêndio, um adoravelmente produzido tributo aos melhores anos da sua vida.

Claro, uma canção como “Gosh” começa com uma leve faixa de breakbeat, mas é logo engolida por algo mais celestial, uma linha de sintetizador que soa como se você estivesse viajando tão forte que pudesse ser esmagado pelos próprios céus. “Obvs” soaria ridícula em uma pista de dança, mas você pode imaginar essa música tocando com suas batidas vertiginosas enquanto volta para casa da balada.

Jamie mesmo, não é alguém que você imagine dançando no meio da pista, e talvez a parte mais tocante do disco sejam aquelas que imitam os momentos de insegurança e alienação desse ambiente. Em “Stranger In A Room”, o parceiro de Jamie xx, Oliver Sims, usa a anonimidade da balada para fugir de um flerte que deu errado.

A letra que define o disco, “I go to loud places, to search for someone to be quiet with” (eu vou para lugares altos, em busca de alguém com quem ficar quieto) acaba sendo trilhado por um sample eclesiástico de Idris Muhammed, mais uma vez dando a ideia que se amassar com alguém com MDMA na cabeça e passar a eternidade nos campos elíseos pode não ser tão diferente assim.

Esse ano Jamie apresentou o disco em sua totalidade na igreja de St. Johns em Hackney —uma blasfêmia, cada canto da igreja lotado de moleques de 18 anos enchendo a cara de drogas. Quando “Loud Places” chegou em seu pico, a igreja toda ficou escura e a música parou. Por um segundo tudo estava preto. Então a música alcançou seu pico máximo, e uma onda de luz veio dos vitrais do século 18. Emoldurou esse disco da maneira que ele merecia ser escutado, no paraíso, do alto, vendo os minúsculos blogueiros de música lá embaixo.
Sam Wolfson


3. Carly Rae Jepsen EMOTION

Que ano de revelações! Carly Rae Jepsen tem 30 anos ! Tom Hanks é ótimo no lip-sync! O saxofone está finalmente de volta! Ok, talvez esse último ainda esteja em andamento, mas 2015 foi o ano que a queridinha do Canadian Idol quebrou nossas expectativas: Ela superou o tal do “Call me maybe”, o jogou em uma pira funerária e seguiu em frente com EMOTION. Eventualmente. Em termos pop, Jepsen foi com calma (uns três anos) para compor com dezenas e dezenas de artistas e produtores, dirigida não pelo desejo de fazer o próximo single de sucesso, mas abastecida pelas possibilidades criativas dos compositores que ela admira. Deixaram ela tocar. Essas muitas experimentações e demos que foram reduzidas a uma seleção de canções que são instantaneamente grudentas e descoladas de verdade. Sim, descoladas. Não porque ela juntou hit makers veteranos — suécos como Carl Anthony Falk, Rami (Britney, Nicki, *NSYNC) e Sia — com relativos iniciantes que estão borrando a linha entre o indie e o pop (Dev Hynes, Ariel Reichstaid, Rostam Batamanji do Vampire Weekend). Foi um movimento inteligente com certeza, mas o que torna o disco de Jepsen maneiro é sua total falta de pretensão.

É um disco açucarado, leve como as primeiras semanas de um novo amor. a voz de Carly nos transmite o tremer do primeiro toque, as sinapses sufocantes seguidas de um suspiro. Ela até faz o reclamar do sexo oposto soar como uma revolta (“Boy Problems”). Tem uma familiaridade confortável aqui também, uma linhagem traçável de Cyndi Lauper a Madonna da era “Borderline” a Robyn e Annie (“Black Heart”); Jepsen até toca o lado mais exagerado do espectro de Kylie (“I Didn’t Just Come Here to Dance”). Tudo é escancarado e, bem, emocional, mas inocentemente — um tipo de pop que se distingue de tudo com a total ausência de duplos sentidos. De acordo com isso, Jepsen como o canal dessa energia se apresenta de maneira bem assexual. Quando 95% das estrelas pop usam sua sexualidade como uma extensão da campanha de marketing do disco, Carly Rae é a sua vizinha: sua melhor amiga com a qual você se diverte muito, que você definitivamente não teria problemas em apresentar para a sua mãe.

É uma grande surpresa desse disco que ele seja coeso e empiricamente ótimo? Um pouco, mas o outro choque é que EMOTION falhou em lançar Jepsen nos mais vendidos — apesar dos milhões de views de YouTube, esse disco não vendeu o bastante para a colocar no topo. Mas tudo bem pra gente. Esse é o album de maioridade de Carly Rae (sem dúvida) mas ela ainda parece como nós.
Kim Taylor Bennett


2. Future DS2

Um ano antes do que vai ser lembrado como uma sequência lendária de mixtapes e música, Future parecia uma piada. Seu relacionamento com Ciara foi abaixo, e seu disco Honest falhou em incendiar o mundo como ele prometia. O mundo de um rapper com dinheiro em excesso lentamente ficou menos atraente, além do acesso a um fornecimento interminável de drogas com o qual ele apenas sonhava quando era pobre. Mas a miséria não terminou por paralizar sua carreira; ao invés de se virar para dentro e se tornar afastado do resto da música, ele ajoelhou nas fontes do excesso, trabalhando loucamente para lançar novas músicas em uma velocidade impressionante. Resultou em um tríptico de mixtapes e finalmente, em julho, em DS2, seu maior disco completo e registro da sua evolução até o momento.

Mas sucesso não é uma cura imediata para a dor, então DS2 serviu tanto como o ato final de uma tragédia para Future como uma volta à vitória. Quando outros rappers gastam um orçamento inteiro em convidados e trocando de produtores o tempo todo, Future continua sendo a única voz no disco fora uma participação de Drake (que aparece mais como um papel de figuração do que de coadjuvante), e a sua banda de apoio é exclusivamente composta por super compositores de Atlanta: Southside, Zaytoven, e Metro Boomin’. Sofrimento e talento puro trabalham juntos para formar DS2, costurando letras de energia irrestrita.

Para um disco com tantas pontas e elementos prontos para o exame crítico, é sem dúvida criado com prazer e diversão, pedindo para ser tocado no volume máximo no carro. Hipermasculinidade usada tanto como um escudo quanto uma arma em sua declaração e abertura “I Serve The Base”, na qual ele confessa que eles “tentaram me transformar em uma estrela pop e me transformaram em um monstro”. É só nesse ambiente que os singles brilhantes de rádio sobre pobreza como “Blow A Bag” podem viver e existir ao lado do quase heavy metal, pesadíssimo, “Groupies”. Nada parece ter sido costurado; essa rica tela é formada pelo lugar que cada faixa ocupa para formar uma imagem inteira. Em qualquer iluminação ou liberdade que Future tenha encontrado nas águas da codeína e prometazina, ele encontrou uma visão do que seu ideal platônico musical seria.
John Hill


1. Kendrick Lamar To Pimp a Butterfly

Por onde começar com To Pimp a Butterfly? Musicalmente? Liricamente? Emocionalmente? Tentar responder essa simples questão levanta o desafio de tentar compreender essa titânica força artística. Porque, se ainda estivermos destilando esse disco em uma só palavra, é essa: uma força. Eis um álbum que, do começo, não apenas pede sua atenção — ele exige sua atenção. A natureza ampla de To Pimp a Butterfly alcança o cerne da humanidade, não apenas para desafiar o que nossa cultura defende mas abraça e lembra, pro bem e pro mal, o que nos trouxe até aqui. “You hate my people, your plan is to terminate my culture” (você odeia o meu povo, seu plano é exterminar minha cultura), ele cospe em “The Blacker the Berry”. “You’re fuckin’ evil I want you to recognize that I’m a proud monkey” (você é mal, eu quero que você reconheça que eu sou um macaco orgulhoso). Kendrick Lamar não está contente com as platitudes morais e respostas que fazem todos se sentirem bem: ele vai fazer você olhar para a nossa sociedade escrota na cara. Ele vai desafiar você a ser tão destemido quanto ele.

A maioria das conversas em volta de To Pimp a Butterfly são as que exploram a escrita e denso mundo narrativo de Kendrick, que pergunta o que o disco de um negro, politicamente carregado como esse, significa em um ano que os EUA tem lutado para entender, com protesto após protesto, a ideia bem simples que cada vida negra vale a pena. Mas tem também algo mais imediato e igualmente radical nesse disco, que é ele ser musicalmente impressionante. Em sua paleta de jazz e funk e história do hip-hop, não apenas uma tradição do que soa “maneiro” mas uma de libertação e empoderamento, de afirmação da primazia de uma narrativa solidamente negra. O poder do funk que vai estar com você não abandona nenhuma dessas questões de maneira alguma — elas são o que cria a energia do disco — o que dá potência.

Além do mais Kendrick deve ganhar o crédito de empurrar sua música em uma direção que não está tentando encaixar com as modas de 2015. “Alright” virou uma música de pista além de um canto político. “U” é essencialmente um poema em ondas sonoras. “The Blacker the Berry” soa como aquela cena em The Matrix: Reloaded na qual dois carros batem de frente. “King Kunta” vai fazer até seu tio dançar. “i” vai fazer você cantar o quarteirão abaixo com seus vizinhos. Tudo da experiência de audição, o som, as letras, a mensagem, parece tão libertador. O álbum nos providencia com muito para dissecar, tanto para compreender, e tanto mais para crescer conosco. O motivo de Kendrick sentar no trono em nossa lista de fim de ano é porque To Pimp a Butterfly é o disco de uma geração — algo tão corajoso e pensado e progressivo e explosivo que nunca vamos ver nada parecido de novo.
Eric Sundermann

Tradução: Pedro Moreira

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