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Música

O Disco Novo do Motor City Madness Parece Trilha de Road Movie

Resistência stoner-punk-metal de Porto Alegre, quarteto lança seu segundo trabalho ‘Dead City Riot’, cujo pano de fundo é uma cidade em chamas cheia de perambulantes mortos-vivos.

Foto por: Doni Maciel

Os caras do Motor City Madness, quarteto metal-stoner-punk de Porto Alegre, são tipo uns adolescentes velhos, vivendo e nunca aprendendo. Por isso que Sergio Caldas (voz, guitarra), Fabian Steinert (guitarra), Rene Mendes (baixo) e Rodrigo Fernandes (bateria) continuam tocando música autoral numa cidade infestada de bandas cover e tirando inspiração de nomes como MC5, TSOL, Misfits, Motörhead e Hellacopters. Dead City Riot, o segundo álbum do grupo que o Noisey lança com exclusividade nesta quinta (23), não tem nada de inovador em relação ao primeiro, que saiu em agosto de 2013. Mas isso não é uma crítica, na verdade é um alívio. Produzido ao longo de dois meses desde a composição das músicas, passando pelos ensaios, até a gravação ao vivo no estúdio, o álbum traz 11 faixas e 23 minutos de fuleiragem, roquidão e riffs encorpados. O bom e velho rock zoação de bêbado putanheiro que vai bem com aquele clima de road movie dos anos 60 e 70 – leia-se Mad Max, blaxploitation, Dirty Mary Crazy Larry e congêneres. Para não dizer que nada mudou, a chegada do novo guitarrista, o Fabian, puxou o som um pouco mais para o peso em detrimento da roupagem punk rock.

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Além disso, as músicas meio que desenrolam uma historinha que se passa numa cidade caótica, onde o povo se revoltou e ateou fogo em tudo, espalhando o terror. As letras, com personagens, são como o roteiro de um filme trash. “As ruas ardem em chamas, como se o fogo do inferno tivesse emergido da superfície, cegando os incrédulos e causando temor entre os desavisados. Vermes, mortos-­vivos, andarilhos, vagabundos errantes, descapacitados e toda a sorte de criaturas nefastas agora caminha entre nós. O ar é pesado, pólvora e enxofre exalam do asfalto manchado de sangue. O progresso trouxe o caos, a desordem. A praga foi instalada sem aviso prévio. Não há mais retorno. A cidade que antes tinha um nome agora é conhecida apenas por Dead City, um território de embates onde fervilha ódio noite e dia, tirando o sono dos que ainda tem colhões para fechar os olhos e tentar dormir”, explica um trecho do simpático release.

Curte aí o som e se liga na ideia que troquei com o vocalista e guitarrista Sergio Caldas:

Noisey: Qual tem sido a repercussão do primeiro álbum da banda e dos shows que já fizeram até aqui? De que lugares do Brasil e do mundo vocês receberam os melhores retornos?
Sergio Caldas: Tem sido legal, a gente foi tocar no Uruguai e na Argentina, também fomos pra alguns outros estados do Brasil além daqui do Rio Grande. O nosso lance sempre foi tocar no máximo de lugares possível, quanto mais longe de casa, melhor. E tem sido legal porque os convites pra voltar sempre rolam. A gente recebeu um feedback da gringa legal também, tem umas rádios online dos EUA, Inglaterra, Suécia, Itália, Alemanha, que já escreveram dizendo que tocam os sons. O próximo passo é tentar armar alguma tour nesses países.

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Como foi que a banda se formou? Vocês vêm de outras bandas? Qual era o envolvimento de cada um com o cenário aí de Porto Alegre quando decidiram montar o Motor City Madness?
Eu tinha saído de uma banda já fazia uns três anos e tava quase desistindo. Passei esse tempo só produzindo shows e clipes dos outros, porque tava difícil arranjar mais gente pra tocar. Galera vai ficando mais velha e não se pilha mais, prefere casar, ter filhos, emprego estável, infarto. Daí por agosto de 2012 eu e o Rodrigo fizemos umas músicas e a parada rolou. O Rene entrou em seguida (também tocava outro guitarrista, Cassio Konzen, que saiu ano passado) e a gente gravou o primeiro EP um mês depois, chamava "Rock 'n' Roll Mthrfckr!". No início de 2013 ia sair um segundo, daí o Renan da Trashcan Records resolveu juntar os EPs, arranjou mais três selos parceiros (Chop Suey, Reverb-Brasil e Rastrillo Records) e lançou um discão inteiro. Trocamos de guitarrista em 2014, foi quando o Fabian entrou na banda e a gente engatou a composição das músicas desse novo trabalho.

Qual é o lance da banda com essa estética de sanguinolência, zumbi, terror, tripas e entranhas expostas que as capas dos discos e o clipe de vocês expressa?
Ah, essa estética de caveira podre, sangue, confusão, é influência das bandas e dos filmes que a gente curte, culpa do nosso senso de humor mongo. Vai pro bar, enche a cara, só fala merda e daí saem essas ideias. O Daniel ETE é quem faz todas as nossas artes até hoje, a banda é fã do trampo dele, daí não tem erro. Esse clipe que tu comentou saiu assim: a gente tinha trocado de guitarrista e ficou viajando sobre como seria pra acostumar alguém a tocar com a gente, tinha que ser na marra. E como é a gente mesmo que faz todos os clipes, daí dá pra encher de sangue, tapa na cara, facada, não tem regra. Nem todo mundo gosta, uns ficam com nojinho, mas é legal ser desagradável, principalmente numa época em que todo mundo virou bonzinho demais, muito cheio de frescura.

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O nome da banda tem alguma relação com uma cultura específica da qual vocês sejam apreciadores ou adeptos? Motos, carros, esse tipo de coisa? Essa vibe acaba dando a tônica do tipo de som que a banda faz? Um espírito urbano e selvagem, por assim dizer?
Cara, a gente curte muito Detroit, as bandas que se formaram lá e a cena que existiu na região. MC5, Stooges, Alice Cooper, Ted Nugent, Funkadelic, um monte de gente foda se criou lá. Tem um lance meio grosseiro, decadente, que é interessante. Acho que a banda soa mais ou menos assim.

O que está pegando aí na cena do Porto Alegre atualmente?
A cena já foi bem mais ativa. Hoje, com o lance da epidemia de banda cover, muita gente fica só chorando e reclamando disso e acaba não fazendo mais nada, a galera ficou muito bunda mole de uns anos pra cá. Tem algumas pessoas que se movimentam, se arriscam produzindo shows. Nós fazemos o possível pra chamar o público que é de uma geração nova e desacostumou a ver bandas ao vivo. Eu não acredito mais em cena, acredito em pessoas que trabalham. Assim, a gente faz a nossa parte. A gente acaba se aproximando de quem tá afim de movimentar alguma coisa e fazer barulho, trazemos bandas de outros estados e até de fora do país. Algumas bandas que são parceiras nossas aqui da cidade são Cartel da Cevada, Mary-O and The Pink Flamingos, Phantom Powers, Cattarse, Julio Igrejas, Bikini Hunters.

Esse álbum está saindo fisicamente e digitalmente? Tem algum selo bancando? Vocês estão com uma agenda de shows confirmada para divulgar o disco?
O plano acabou sendo lançar no digital pra agilizar as coisas, arrumar mais shows logo. A gente conversou com alguns selos, pessoal tá meio sem grana, então deixar o físico pra depois e começar a espalhar a palavra de uma vez foi a melhor alternativa. Se algum selo quiser abraçar a encrenca, estamos aí.

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