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Música

Os Bastidores da Gravação do Clipe do KondZilla para a Música do Tropkillaz do 'Need for Speed'

Fomos na animada gravação de "Make the Crowd" e descobrimos que o Kond sonha em gravar um longa de ficção policial.

Existe um espírito de diversão que o KondZilla consegue, com muito profissionalismo, imprimir em seus clipes. E foi exatamente por esse talento que ele foi chamado para fazer o clipe de “Make the Crowd”, do Tropkillaz. A música, remix inédito do projeto de trap music formado pelo DJ Zegon e Laudz, é nada menos que a primeira de um artista brasileiro a entrar na trilha sonora do game Need For Speed – que reúne 61 músicos de 16 países.

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O novo jogo da série chama-se simplesmente Need For Speed, sem subtítulos, quase como em seu início – em 1994, o game foi lançado com o nome The Need For Speed. Existe, de fato, uma intenção de se voltar às origens das primeiras versões. De acordo com o gerente de Negócios da Eletronic Arts (EA) Brasil, Jonathan Harris, “a inspiração que tivemos nos títulos mais antigos como NFS: Underground (2003) e Underground 2 (2004) é o lado cultural. Esses produtos eram os que mais abraçavam a cultura do racha, a música, o estilo e essa coisa da noite”.

E foi esse clima urbano que o diretor e videomaker KondZilla imprimiu no videoclipe da faixa, gravado em duas quentes noites paulistanas, na presença de várias carangas importadas, uma galera do rolê e, é claro, a reportagem do Noisey.

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O ronco do motor de um Subaru Impreza Wrx Sti corta as ruas já vazias do bairro Bom Retiro, região central de São Paulo, e segue em direção a uma rampa, localizada em um antigo galpão, que foi totalmente reformado para servir como cenário para o vídeo (não apenas esse, mas de diversas produções). Além dele viriam outras duas máquinas de quatro rodas: um Dodge Challenger SRT8 e uma Mercedes AMG GT.

“Eu preciso do mínimo da colaboração de vocês aqui. Se vocês fizerem apenas aquilo para que foram contratados, ótimo. Mas, se vocês se dedicarem, vai ficar ainda mais foda”. A voz no microfone é suave, mas tem um grau de seriedade, daquele tipo de quem não está para brincadeira. Aos 27 anos, Konrad Dantas, o KondZilla, anda de um lado para o outro no set de filmagem que reproduz, ao mesmo tempo, uma sala de videogame e uma balada.

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De ombros largos, baixa estatura, com roupas e bonés pretos, apesar de ser considerado um dos principais responsáveis pela popularização da estética do funk ostentação no Brasil, o diretor de clipes se mistura facilmente com os técnicos, figurantes e curiosos do local – aliás, cumprimenta, com sorriso no rosto, um a um. Quando não está trocando ideia, no entanto, volta a apresentar um semblante sério, preocupado. De longe, dá a impressão de que sua mente está, na verdade, imaginando como será a próxima cena.

O som do Tropkillaz começa a rolar nas caixas de som. Uma poltrona com detalhes dourados e estofado de veludo vermelho está colocada no centro de uma pista de dança. Os atores se revezam no assento jogando videogame e encarando, na verdade, as lentes da câmera. Um sujeito bem magro, de copo na mão, com boné para trás, veste uma jaqueta de couro preto aberta, que exibe em seu peito uma grande tattoo, com duas asas e, ao que parece, a frase Rock’n Roll – não sei se é isso, com as luzes piscando não deu para enxergar direito. Uma morena baixinha, bem magra, com um vestido tomara que caia preto, fica mais introspectiva, meio que curtindo o som apenas com o balançar da cabeça. Entre o pescoço e o ombro esquerdo ela tem uma tatuagem que parece ser o ano de seu nascimento, escrito em algarismos romanos – mas eu vou confessar que sempre me confundo qual letra é 100 e qual é 1000. Duas loiras de gorro balançam a cabeça freneticamente, tanto que seus copos chegam a transbordar a bebida. É a balada de suas vidas!

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Assistir à filmagem de KondZilla nos bastidores pode não ser uma overdose de emoção – da mesma forma que descrevê-la em texto, também não. Por outro lado, acompanhar o resultado disso, em tempo real, no monitor colocado atrás das câmeras revela, imediatamente, a grandeza de sua assinatura na era do YouTube. “É uma parada que você trabalha muito para que aconteça, mas não sabe quando isso vai acontecer, se as pessoas vão comprar o seu olhar. O papel do diretor é colocar o ponto de vista do espectador como se ele estivesse naquela situação”, me contou KondZilla, no intervalo do segundo dia de filmagens, em um bar que divide as instalações com uma oficina de motocicletas customizadas, na Zona Sul de São Paulo.

O ambiente de divulgação dos trabalhos do diretor responde em números. Seus vídeos estão na casa dos milhões de visualizações – o maior deles, de MC Guimê com a música “Plaque de 100”, já esta na casa de 62,1 milhões de views. Apenas o Canal KondZilla (um de seus três canais no site) já acumula 1,7 milhão de assinantes.

Nos seus clipes, o artista aparece centralizado, da cintura para cima, dialogando com a câmera, dominando. No seu universo visual, carros conversíveis, motos esportivas aceleradas, relógios caros, correntes de ouro e bebidas importadas desfilam em baladas, na periferia, na praia ou em Miami, nos Estados Unidos.

A fotografia e a narrativa devem ultrapassar a linguagem do videoclipe. KondZilla reforçou à reportagem o interesse de gravar um longa-metragem de ficção policial. “Esse sonho está de pé e vai ser realizado em breve. Estamos fazendo alguns estudos, fizemos recentemente um clipe que abordava essa temática (MC Orelha – “Faixa de Gaza 2”) e nós vamos ainda realizar dois curtas até escrever um projeto de longa”, diz.

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E essa estética, que aparece mais evidente no funk, mas que é aplicada até nos artistas sertanejos que assinam com sua produção, foi a escolhida para dar identidade ao clipe do Tropkillaz no novo game.

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Passei horas e horas da minha vida fugindo das forças policiais norte-americanas e tendo como único recurso as setas do meu teclado no primeiro The Need For Speed. Em meados da década de 1990, a galera pirou com a interação policial – principalmente com os vídeos (filmados com atores reais), em que um daqueles xerifes gringos, com chapéu de aba reta, ou te multava, ou te levava embora para o xadrez. Assistindo à minha prisão hoje em dia no YouTube, em 2015, tudo parece muito primitivo e até tosco, mas, naquela ocasião, era revolucionário. Nos títulos posteriores da franquia (já ultrapassam 20 edições), a música passaria a ter um papel de destaque, com a inclusão do nome do artista e o título da faixa, durante a correria.

Jonathan Harris, da EA Brasil, é um norte-americano que reside há muitos anos em nosso país. Fala muito bem o português, com um sotaque leve, que aparece apenas em algumas palavras, principalmente na pronúncia dos “erres”. Sorridente, seu rosto faz lembrar um pouco o do ator Lázaro Ramos. “A gente pensou em termos de como poderíamos trazer a cultura nacional para dentro do novo Need For Speed. Então chegamos à conclusão: vamos selecionar algum artista de música brasileira, mas que fizesse o estilo do produto, dentro da cultura de racha, cultura jovem e, assim, a gente chegou no Tropkillaz”, explica.

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Segundo o gerente, o próprio estilo de música da dupla, a trap music, “conversa” com a temática do game. “É um gênero que está ficando cada vez mais popular, mas ainda não é mainstream”, diz.

O DJ e produtor Zé Gonzales, ou Zegon, do Tropkillaz, confessa não saber muito o que esperar do impacto da faixa na franquia do game. “Não tenho a menor noção, sou da época do Atari”, brincou o músico, que foi integrante do Planet Hemp. Sobre as participações do trabalho da dupla em eventos de grande repercussão (em 2014 um remix do Tropkillaz para uma música do N.A.S.A. foi executado em um comercial no disputadíssimo intervalo do Super Bowl, para um público de mais de 100 milhões de espectadores). “Isso aí não tem preço”, conclui.

Mais jovem, o parceiro de projeto, André Laudz, conhece bem os títulos do NFS e comemorou a escolha. “É bom ver o pessoal conhecendo o nosso trabalho e vindo atrás da gente para fazer uma coisa desse tamanho, que toma essas proporções. É legal”.

O KondZilla entra na jogada a partir do momento que a EA Brasil começa a desenvolver caminhos para massificar a experiência do lançamento. “O audiovisual é muito importante para nossa empresa, para colocar o produto na frente da galera certa”, conta Harris. “O nome do diretor surgiu pela química: o estilo da música, os vídeos que ele produz, ele já tinha trabalhado com o Tropkillaz e, ainda por cima, ficamos sabendo que ele também era fã do jogo”, comenta.

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Para o videomaker, a escolha foi de responsa. “Quando eu tinha uns 16 anos eu jogava Need For Speed pra caramba, mas meu computador não tinha uma placa de vídeo boa. Então, ia na casa do meu amigo jogar no computador dele. Participar desse projeto é um baita desafio”, lembra KondZilla.

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As filmagens terminam no meio da madrugada. Os jovens modelos figurantes se despedem, como se realmente estivessem saindo de uma balada. A equipe de cerca de vinte profissionais da Produtora Videofonográfica KondZilla, todos devidamente identificados de boné preto com o nome do diretor bordado, começa a desmontar os equipamentos.

O raro silêncio da madrugada paulistana mais uma vez é atravessado pelo ronco dos carros importados usados no videoclipe, dessa vez em tom de despedida. O sol está para nascer e o dia, como bem sabem os jogadores mais roots de Need For Speed, não foi feito para quem curte tirar racha.

Racha no videogame, diga-se de passagem.