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Música

As 10 melhores músicas brasileiras de 2015

Não deixe de levar em consideração que toda lista de site hipster é baile de favela.

A toada é aquela mesmo da lista de melhores álbuns de música brasileira de 2015, que publicamos mais cedo. Foi bom, mas tava ruim, aí ficou bom, etc. A única diferença fenomenológica aqui, já que o objeto de estudo é algo muito mais direto, é que tivemos muitos e muitos singles meio jogados por aí. Não é uma exclusividade de 2015 o incessante fluxo de singles, links de soundcloud, lyric videos e etc etc etc.

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É o melhor jeito de testar as turvas águas formadas pelo público internético brasileiro, disso sabemos e é justo. Mas como o mar tava mais ou menos pra peixe em 2015, muita coisa acabou batendo na parede e caindo no chão sem fazer muita fumaça, o que é pena. Um single ganha novo peso quando ele vem acompanhado de um álbum, muda a significância da obra. Mas enfim, o importante é ficou muita coisa boa de fora dessa lista (normal), e a discussão para montar a seleção definitiva foi levemente acalorada e acabou nos pênaltis com chute de editor opressor. Um golpe autoritário para salvar a democracia.

Com certeza você vai ficar puto porque tem algo que você discorda, ou porque não tem algo que você acha PIKA, então corra para a rede social mais próxima para nos xingar ou nos dar um abraço digital. Mas não deixe de levar em consideração que toda lista de site hipster é baile de favela.

Veja também a nossa lista de 10 melhores álbuns de 2015

1. Naldo - “Benny Brown”

Obviamente, esta música já merecia destaque só pelo tanto que irritou os assim chamados (por eles mesmos) “conservadores” do rap nacional — aqueles que hoje em dia matam, humilham e dão tiros a esmo no mundo virtual. Então que se pretendia pânico, foi só piada. Faz sentido as críticas baterem tão fofo, já que o rolê deles que você não vai pelo Rio de Janeiro soa altíssimo astral. Acena a sons mais modernos (mas não tanto) do balanço mundial, mas traz em si uma ode musical à memória do funk carioca. Bem, o Naldo defende (com interpretação veemente) o Romero Britto. O Brown chega delinquente: escreve sempre com profundidade, entrega as levadas que mostram pros cus como é que faz. Não é tão bem resolvida como ambos mereceriam nessa parceria, mas o suficiente por hora. É também, principalmente pra quem reclamou, como quase tudo que envolve MB: chora agora, ri depois. Você acha que o problema acabou? Pelo contrário… —

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André Maleronka

2. MC João - “Baile de Favela”

O Racionais MC’s em 1998 colocou lá no fim do Sobrevivendo no Inferno o “Salve”, que é isso aí: um salve para os trutas e quebradas, uma lista de pessoas e vilas que foram parte da história dos Racionais até então. O grande lance que faz de “Salve” algo além de uma vinheta é que ele é uma forma de dar destaque nominal para os lugares e pessoas que só se sentiam parte da pólis quando pintavam como cenário de algum crime cabuloso nos jornais. Ali era o canal da periferia, o espelho do excluído, um poder inédito. Daí pra frente você tá ligado: o rap perdeu muito espaço pro funk, que virou sensação nacional com o ostentação. Agora esse também passou e a linguagem do funk passou a ser a putaria de novo, e aqui e ali uma volta ao lado mais hip-hop. “Baile de Favela” foi o hit funk do ano por que ele é as duas coisas: tem as tags de putaria (que, segundo depoimentos femininos colhidos durante o ano “tem uma vibe meio de estuprador”) e o mesmo esquema do “Salve” dos Racionais, um name dropping de quebradas e vilas. Mas a receita de sucesso só cresce mesmo por causa da produção do mito DJ R7, que apenas usando um drum kit 808, melodia de corteta, voz de monstrão de background consegue criar uma ambiência próxima à do grime. É o hino do fluxo, um funk paulistano com um toque musical de verdade, com o verso mais memeficável do ano.

Eduardo Roberto

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3. BaianaSystem - “Playsom”

Se o LP do Russo Passapusso e cia. tivesse sido lançado e nele houvesse umas três ou quatro músicas na pegada de “Playsom”, as listas de melhores discos do mundo ocidental inteiro teriam sido bem diferentes. É a obra mais global e contemporânea que a Bahia (a New Orleans do hemisfério Sul) produz desde, sei lá, os anos 80 do Caetano Veloso. Lá no THUMP falamos pra caralho do Bahia Bass e o quanto a mistura dos ritmos afro lá de Salvador e região caem como uma luva na música eletrônica. O Baiana vem desse caldo, mas usa o caderno de jogadas do Bahia Bass para chegar em algum lugar entre o Criolo afrobeat, o a herança MPB do Carlinhos Brown e o Diplo (ou, mais especificamente, o Jack Ü nos momentos moombahton). E é super baiano o som, mas sem os clichês de música baiana, apontando para o alto (mainstream) e além (global). Não à toa, “Playsom” entrou na trilha oficial do game FIFA 16. Do que eu lembro, o último artista brasileiro a entrar nesse esquema foi a Karol Conká no FIFA 14, e, bem, você sabe muito bem onde ela está agora. Ow, Russo, solta esse disco logo pelo amor de Deus! Não aguento mais ouvir “Playsom” (aguento sim, inclusive ouvi 5 vezes seguidas escrevendo esse texto).

Eduardo Roberto

4. “Aquele 1%” - Marcos e Belutti & Wesley Safadão

Nada que una mais as tribos que um bom hit acompanhado de muitos memes. Quando você vê a internet usando à exaustão uma referência a uma música que toca na rádio o tempo todo, é porque algo deu certo. A junção de dois hit-makers do famigerado novo sertanejo (ou vai dizer que você não se lembra de “

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Domingo de Manhã

” e “

Camarote

”?) resultou num sucesso que toca na tal da “modernidade líquida” — nada é fixo, tudo bem ser 99% anjo e 1% vagabundo (você pode

fazer o teste

pra ter certeza da sua porcentagem, inclusive) — e faz até os indie-alterna cantar, fazer o coraçãozinho com a mão e postar memes do Wesley Safadão nas redes sociais. Bom, menos o Felipe Neto, né? Que peninha. —

Amanda Cavalcanti

5. Rodrigo Ogi - “Virou Canção”

A verdade é que eu chorei quando ouvi esse som pela primeira vez. A caneta obesa do Ogi e o beat do Nave, o melhor beatmaker de que se tem notícia, bateram pesadíssimos no coração do tio aqui. Fui lembrando do Alê, da Fabi, da Tilene, do João, do Gamarra, do Reinaldo, do Alemão. Pensando nos tempos de xarpi, do skate na zona norte, do pé de mamona no terreno atrás da minha casa, dos enquadros da polícia, da escola, das tretas, das minas, das quermesses. “Virou Canção” é um toque pra mim mesmo sobre o lugar de onde eu vim e onde estou hoje. É uma track que nasceu clássica e se tornou o hino de quem já perdeu um brother. Assim como o Ogi, eu também “

só queria infringir leis, destruir reis, ficar chinês

”. Meus manos que se foram não viraram canção, mas sinto-os muito bem representados nessas barras. —

Peu Araújo

6. Aláfia - “Salve Geral”

Política, violência, fanatismo, polícia, abuso, racismo… Tá puxado e o Aláfia tá bem ligado de todas essas fitas. “Salve Geral” soa como aquele último aviso antes da treta, aquele desabafo de quem não tem mais saco pra intolerância. O próximo passo, pode crer, é a guerra, é o conflito: “Nós te apagaremos sob a luz do sol” e vamos decapitar o capeta, o capitão, o capa preta, o capataz, a porra toda. Eles estão ali te falando que o caldo vai azedar, e como guardiães, avisam. Esse som faz ainda mais sentido quando você entende como Corpura, o segundo álbum do grupo, foi construído. Cada faixa é direcionada a uma entindade africana e essa especificamente celebra Exú, o protetor da aldeia e normalmente o primeiro a ser lembrado no terreiro. Sacou porque ela é a faixa número 1? Não é um som pra sorrir dançandinho, é pra ficar bicudão de mal com o mundo refletindo sobre as mazelas. Tem o peso — e a intenção pop — que o momento exige. Puta som. — Peu Araújo

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7. Elza Soares - “Maria da Vila Matilde”

Não tem mina que não se emocionou nesse 2015 ao ouvir um “Cê vai se arrepender de levantar a mão pra mim!” Ainda mais de uma mulher negra, que apanhou da vida por tantos anos e ainda tem a força pra bater de volta.

A Mulher do Fim do Mundo

é um retrato samba-noise-distorcido da vida de Elza e, apesar de instrumentalmente ser uma das músicas mais leves do disco, é em “Maria da Vila Matilde” que a veracidade desse relato nos bate mais forte. E o pensamento não parou aí: a cantora tocou no assunto mais tarde, em apresentações e

entrevistas

, e nos deu ainda mais ímpeto pra jamais deixarmos que levantem a mão pra nós (de novo). Não se esqueçam do 180, minas. —

Amanda Cavalcanti

8. Costa Gold - "N.A.D.A.B.O.M. [parte 2) (ft Don L & Luccas Carlos)"

A nova safra de rap de e para jovens brancos de classe média encontra a sua máxima representação no Damassaclan, que reúne uma turmona de São Paulo e que tá muito bem cotada na resenha da internet millenial, disputando a hegemonia de likes e views com a rapaziada que orbita em volta do TTK/Lapa, no Rio. O trio Predella, Nog e DJ Cidy, que cresceu bastante em popularidade especialmente no último ano e deu uma baita alavancada no Damassa como um tudo — com o Haikaiss como carro chefe da parada —, declaradamente foi beber de golada na pedra filosofal de rap do grupo, o Costa a Costa, para criar o som mais estranho, suingado e bonito do recém lançado .155. Versando bonito e bem cifrado sobre as vicissitudes do rap game, os jovens da Pompeia evitam o atual geist de fugir-do-discurso-do-rap-nacional-copiando-o-Don l de forma criativa, com um beat caribe-gangsta e flow bacana. O Don L é o Don L, sempre muito foda, rimando estrangeirismos no contraponto, sempre com aquela calma de quem tá com o plano perfeito escondido no bolso do paletó só esperando o momento certo de aplicar. Luccas Carlos, o melhor cantor do rap do Rio, o The Weeknd do

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TTK

, chega com um refrão cheio de ansiedade poética que é a versão frustração do que o The Persuasions faz

naquele som do Jamie XX

. O som no YouTube já está com mais de 1 milhão de views, e cresce num nível de funk com clipe do Kondzilla. É o melhor golpe que a turma de São Paulo pode dar na rapaziada do Rio: um som cheio de suingue, malícia, melancolia e potência para ir além do discurso de playboy pagando de gangsta, das baboseiras dos beefs mas sem perder de horizonte que, no fim das contas, tá todo mundo nessa pelo comércio.

Eduardo Roberto

9. MC TH - “Vidro Fumê”

Desde quando você imagina que o funk ia ter linha de baixo, melodia instrumental e agora ta entrando na vibe chill? É normal a galera de fora do Brasil utilizar os vocais do funk sem nenhum sentido em músicas 'chill' como o Sango fez algumas vezes, mas quando produtores de raiz arriscam e acertam, é aí que você percebe que o funk mudou. Estamos num nível acima nas produções. O MC TH está pra ser o novo nome do funk, original, malicioso e malandro. Ele é O Carioca. Se você não gostar de vidro fumê, jovem, te falta experiência de vida.

Renato Martins

10. Anitta - “Bang!”

Digamos que cada geração tem a “Boquinha da Garrafa” que merece. Quando eu tinha nove anos, minha mãe pedia encarecidamente (sem sucesso) que eu não dançasse a coreô da música que ficou famosa na

interpretação rebolística

da Carla Perez na época do Gera Samba. Passados vinte anos, minha sobrinha dança enlouquecida ao som de “Bang!”, da Annita-show-das-poderosas — Duda também não responde muito bem aos apelos contra erotização vindos da minha mãe, agora avó. O lance, porém, é que Anitta, do alto dos seus 22 anos, é um estouro. Com ajuda do Giovanni Bianco (que trabalhou com a Madonna), “Bang!” se tornou o maior sucesso popular balança bumbum da geração Z. —

Carla Castellotti

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