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Música

Só duas pessoas apareceram no protesto contra a Beyoncé, em Nova York

O protesto que virou um não-evento cedeu à força da presença massiva da galera anti-protesto que lotou a frente da Liga Nacional de Futebol Americano para apoiar Bionça <3

Todas as fotos são do autor.

Lembra daquele show da Beyoncé em que rolou um jogo de futebol americano, no último fim de semana? Ela arrasou com “Formation”, havia dançarinas vestidas como Panteras Negras e acho que o Coldplay estava lá. A performance foi chocante e impiedosa, mas talvez a revolta que gerou fosse mais previsível: não demorou até que as pessoas começassem a alegar que uma performance pró-negros era antibrancos ou antipolícia, e manifestantes pró-polícia buscaram chamar um pouco da atenção midiática para si, marcando um protesto contra o show da Beyoncé na sede da NFL, a Liga Nacional de Futebol Americano. O protesto estava marcado para a última terça (16).

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As coisas, porém, não saíram como o planejado, ainda assim pessoas sob a chuva, em frente à sede da NFL, na manhã de terça, não pareciam chocadas. Em vez do protesto #alllivesmatter [em tradução livre, “todas as vidas importam”] pelo qual a imprensa esperava, a calçada da Park Avenue se tornou palco de uma mistura de membros da Black Lives Matter e dos Panteras Negras, cercados pela polícia, pela imprensa e por barricadas que não chegaram a ser utilizadas.

No fim, o protesto antiprotesto foi consumido pelo protesto antiantiprotesto e, salvo por dois homens que chegaram uma hora atrasados, a manifestação contra a performance de Beyoncé no intervalo do Super Bowl foi um não-evento. O encontro, marcado para às 8h da manhã, teve precisamente zero participantes.

Então, onde eles estavam?

“Não sei”, disse Una Eatman, uma nativa do Brooklyn que segurava um cartaz com os dizeres “Pró-negro não é antibranco”. “Mas estamos na rua. Estamos aqui.”

A revolta organizada contra a performance de Beyoncé parecia um plano vago e apressado desde o começo. A página no Eventbrite que anunciava o protesto implorava que “todos que apoiam a polícia” aparecessem cedo pela manhã, e encorajava as pessoas a serem “absolutamente pacíficas e não-agressivas”. Mas a coisa toda virou farsa muito antes de alguém ter a chance.

Ariel Kohane, que chegou às 9h15, logo depois de muitos manifestantes do Black Lives Matter começarem a ir embora, era um dos dois manifestantes anti-Beyoncé. “Estou aqui hoje para protestar contra a Beyoncé porque definitivamente acredito que as suas músicas são inapropriadas, especialmente para o intervalo da NFL”.

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Quando perguntado contra quais músicas em particular estava protestando, Kohane disse: “As músicas. As músicas que ela cantou. As músicas que ela cantou no intervalo. E muitas crianças estavam assistindo, e crianças são muito impressionáveis”.

Kohane foi rapidamente cercado pelos manifestantes do Black Lives Matter e pela imprensa enquanto a polícia tentava liberar o trânsito em plena hora do rush. Ele continuou respondendo a perguntas dos manifestantes, de maneira similar, por mais ou menos meia hora.

Mas, longe dos jornalistas, a ênfase parecia estar na solidariedade, mesmo em meio à chuva.

“Não sou fã da Beyoncé”, disse Sean Kee, um membro dos Panteras Negras que veio de Rochester para participar da manifestação. “Então, quando soube que ela ia fazer o show do intervalo, fui embora. Mas depois soube da revolta que gerou, e fui dar uma olhada [no show]. Ela fez uma ótima performance. A música em si era incrível. Acho que ela usou sua habilidade e talento artísticos para fazer algo incrível para a comunidade, e para trazer consciência para acabar com a brutalidade policial”.

Deandra Francis, vestida toda de preto, para contrastar com a manifestação pró-polícia, planejada para ser toda azul, assistiu ao show do intervalo ao vivo. “Quando vi todas as garotas com o cabelo natural, pensei: “Nossa, a Beyoncé está fazendo algo grande. Foi uma grande surpresa”. Ela ecoou a frase mais repetida ao longo daquela manhã: “Ser pró-negro não quer dizer que você seja antibranco. Só queremos que todo mundo entenda isso”.

Na esquina da Park com a 52, enquanto os manifestantes se dispersavam, dois homens distribuíam camisetas estampadas com os dizeres “Hell, no, Bey won’t go” [o grito “Hell, no, we won’t go”, que pode ser traduzido como “diabos, não, não vamos”, criado durante a Guerra do Vietnã, em oposição ao envio de jovens americanos para lutar, é usado até hoje por manifestantes para dizer que não vão se calar, ir embora ou desistir]. A julgar por esse exemplo, como os manifestantes do Black Lives Matter, que continuam aparecendo em peso, Beyoncé não vai a lugar algum.

Alex Robert Ross continua no Twitter.

Tradução: Fernanda Botta

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