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Música

Saca Só o Que o Chad Hugo Tem Feito

Ao passo que Pharrell serviu de rosto tanto para os Neptunes quanto para seu projeto de funk-rock caseirão N.E.R.D., Hugo na maior parte do tempo ficou nos bastidores.

Fotos por Daniel Kohn

Dentro de um espaço cavernoso no estúdio Recording Plant, em Hollywood, Chad Hugo está pulando e tentando acertar uma bola em um aro de basquete maior que o comum. Ele erra todas, mas não poderia estar mais tranquilo. Ele tira sua camisa de botão, gravata e gorro, revelando uma camiseta do Tupac. Digo a ele que hoje é 18º aniversário da morte do ícone do rap. Hugo levanta uma sobrancelha, pega seu celular, e confirma via Google. Ele balança a cabeça, descrente, não tanto por conta da data, mas sim por sua distração.

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“Peguei a primeira camiseta que vi hoje de manhã”, ele fala, baixinho. “Acho que podemos agradecer à Urban Outfitters por essa”.

Por trás da janela de vidro do cômodo está uma mesa de mixagem. Atrás dela está The Wrestlers, uma dupla de música eletrônica de Houston cujo futuro projeto, composto por pedradas para casas noturnas, Hugo participa no papel de produtor executivo. Entre cestas de basquete, Hugo ouve a música. Ele olha para o teto, balançando a cabeça no ritmo, e acerta sua primeira cesta.

“Foram dez tentativas, mas estou feliz que a bola finalmente entrou”, diz, sorrindo de levinho.

O produtor aponta para além de parede e diz: “O verão de 2001, mano, tinha tanta coisa rolando aqui. Snoop tava ali naquela sala que nem é mais uma sala, Nelly na outra, e eu não lembro quem era o outro cara. Mas rolou tudo sem pausas”.

A familiaridade de Hugo com o famoso estúdio já tem mais de uma década. É o local onde surgiram muitos de seus hits e do seu parceiro de longa data Pharrell Williams. Este lugar é uma das principais razões pelas quais ele deixa o conforto do lar em Virgínia, onde mora com a família, para ir ao oeste.

Ao passo que Pharrell serviu de rosto tanto para os Neptunes quanto para seu projeto de funk-rock caseirão N.E.R.D., Hugo na maior parte do tempo ficou nos bastidores. Recentemente, a estrela de Pharrell subiu ainda mais por meio de colaborações com astros como Daft Punk, Robin Thicke, e Alicia Keys, bem como seus próprios singles de sucesso (“Happy”, quem lembra?). Enquanto isso, Hugo contentou-se em trabalhar com talentos menos consagrados como Kenna, Earl Sweatshirt, The Internet, e a cantora e compositora malaia Yuna, bem como fazendo a trilha de Manny, um documentário sobre o célebre boxeador Manny Pacquiao.

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Como uma extensão de sua preferência por ficar por trás dos panos, Hugo raramente fala em público. Enquanto conversamos durante cerca de 30 minutos sobre atirar bolas em cestas, os comentários de Hugo vão de evasivos a ardilosos. Mas isso não é uma questão de falta de respeito ou atenção; pelo contrário, é porque sua mente está tão ocupada que ele dirá qualquer coisa que surgir em sua cabeça, relevante ou não. Ele se anima ao falar da família. Um de seus maiores baratos rolou quando sua filha mais velha assistiu a um show do N.E.R.D. na Vírginia, este ano.

Hugo continua sendo um estudante de música, e seu projeto Chad Hugo Experience é um trabalho contínuo, ou, como seu agente Corey Smith diz, de forma sucinta, “Chad fará o que Chad quer fazer”.

Depois de passarmos uns 45 minutos na sala grande, Hugo fala meio de brincadeira que deveria gravar minha voz para o Chad Hugo Experience. Depois que comento ter sido expulso do coral do ensino fundamental, o muito aguardado chai do Starbucks mais próximo chega e fornece a animação necessária. Também significa que ele precisa voltar à sua sessão.

Enquanto a última faixa dos Wrestlers ressoa dos alto-falantes de qualidade cristalina, Hugo meneia sua cabeça sutilmente. Com a batida ficando mais forte, sua empolgação cresce. O mesmo sorrisinho satisfeito que ele deu após conseguir fazer aquela cesta volta quando ele ouve uma quebrada em especial no meio da música. Hugo se afasta lentamente da mesa de mixagem em direção a uma área mais alta da parede, ao fundo, que é como ele gosta.

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Noisey: Qual sua ligação com o The Wrestlers? Você só supervisiona e faz aquelas tarefas comuns de um produtor executivo?

Chad Hugo: Estou aqui caso precisem de mim. Hoje conheci Alesso e seu pessoal, que estão aqui trabalhando em cima de algumas coisas. Lembro de tê-los visto em Manila e ter me divertido. Estes caras (The Wrestlers) tão na função. Eles representam Houston. É engraçado porque as pessoas costumavam representar nas antigas. Tipo, “estamos representando Hollis, Queens”, e Missy Elliott representava P-town (Portsmouth, Virgínia). Eu nasci em um hospital naval de lá, então eu represento P-town, daí que eles representam Tex-Mex, churrasco, Beyoncé e Slim Thugga. Eu curto isso.

Com os trampos junto de Earl Sweatshirt, The Internet, e outros, você tem se mantido ocupado.

Tá rolando um monte de coisa. Tenho me apresentado como DJ com meu brother Daniel Biltmore, de Baltimore, como MSSLCMMND. Um salve aí pra eles. Lançamos umas mixtapes e tocamos umas paradas. Demos uma de trovadores em cima da galera rapidinho.

E o Pharrell? Vocês ainda trabalham juntos?

Pharrell e eu somos amigos, e sou fã da música. Na real estivemos juntos no palco, no NBA All-Star Game e em nossa cidade natal, em Virginia Beach. Participados de um programa de rádio local. Um monte de gente veio, sabe como é, um monte de gente num gramado botando pilha. Então, foi meio que um show de reunião do N.E.R.D. Minha filha, que tem 14 anos, tava lá mandando um two-step, e eu fiquei preocupado com ela. Eles manjam o som e todas as letras.

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Deve ser loucura isso dos seus filhos terem a mesma idade que seus grandes sucessos.

Se é. É um mundo em mutação, e você não pode ficar parado no tempo olhando pra trás. Mas quando você toca um som, com sorte você faz dele um clássico. A música é um túnel do tempo, sua própria máquina. Naquele filme De Volta Para o Futuro, era um DeLorean. Agora, é um arquivo de MP3. Ou um disco de vinil, se você for sortudo.

Como é trabalhar com o Biltmore em comparação a criar sozinho?

Não sei, é meio foda. O Daniel faz um monte de coisa, e tentamos fazer uma ligação via FaceTime com ele agora, e ele estava num pub, de dia, tocando, o que é interessante e louco, isso de ter gente querendo ver um DJ de dia. Ele tá tocando num casamento e usando a “Marcha Imperial” como acompanhamento.

Você curte tocar como DJ?

Curto, mas raramente o faço. Botamos uns discos pra rodar, é divertido. Dá pra ter um arsenal de coisa, e se não tá rolando, tem vezes que não dá pra confiar nos outros botarem pra rolar. Você tem que botar pra tocar você mesmo, e torcer pelo melhor. “Minha mente deverá viver porque minha mente nunca morrerá”, é meio que nosso próprio mantra que surgiu quando começamos a tocar na Costa Leste. Daí viemos pra cá, perambulamos por aí, e então viramos DJs. Foi meio que um ritual, ir até o Runyon Canyon e ver a natureza, daí voltar pra casa e ouvir música. Foi uma essência nova, redescoberta, coisa que não rola lá de onde a gente veio.

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Me fala do seu trampo em Manny.

Tava empolgadão em fazer a trilha desse filme. Tive a oportunidade de trabalhar com o próprio Manny. Não conseguia acompanhar eles nas corridas. Quando a gente subia uns morros, eu ficava pra trás ofegante. Fiz umas flexões e abdominais doidos. Foi isso que passei. Viajamos com ele e visitamos bastante outros países. Eu já era fã do filme do Leon Gast (Quando Éramos Reis) sobre Muhammad Ali. Daí rolou aquele sobre salsa, e eu me identificava com aquela história. É engraçado porque aquele filme que o Leon Gast dirigiu mostra os músicos que foram essenciais para o nascimento da sala e dá um olhar diferente e interessante sobre o assunto, já que você vê os caras nos seus trabalhos cotidianos. É meio como rola na música agora. É bom ter os pés no chão o máximo possível.

Como você avaliaria o furacão de mudanças na música desde seu primeiro sucesso com o Neptunes?

A coisa mudou com a tecnologia. Não é algo ruim. As pessoas têm acesso a qualquer coisa na palma de suas mãos [Hugo pega seu iPhone e mostra-o de pertinho para enfatizar seu argumento]. Estas coisas oferecem aplicativos musicais. Até tenho um afinador e compressor aqui. Tem essa parada chamada Smule, que cria músicas rapidinhos, uma música instantânea.

Você vê a tecnologia como uma ferramenta para melhorar a música?

Ela pode ser uma ferramenta para melhoria. Tem vezes que você gente por aí, segurando seu telefone, como se fossem comunicar-se com ele, e tem horas em que você não precisa deles. Esse é um assunto mais profundo que não precisamos adentrar. Queria saber que que o Ralph Waldo Emerson faria se tivesse um iPhone. Fico pensando se ele dependeria tanto de si.

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Em tempos de Twitter e Facebook, como você consegue se manter recluso?

O Twitter é um bom lugar pra botar as coisas pra fora. Tem gente que trata aquilo como se fosse uma vida. Eu, às vezes, bem, não é como se eu só xingasse no Twitter, mas é… Talvez eu esteja usando do jeito errado. É o que é.

Pra que você usa ele, então?

Antes eu postava umas músicas lá. Era tipo “tem um som aqui, não tenho muito o que dizer, mas ele é grátis”. Sei lá se isso fere a indústria de alguma forma ou seja lá o que for. Meu agente Corey me disse pra parar com isso porque daria pra eu tirar um troco ou sei lá. Daí a gente bota no SoundCloud e eu pergunto “cadê a grana?” e ele diz que aquilo é só pra fins promocionais [risos]. A diferença entre os dois é que o SoundCloud é laranja e o Twitter é azul. Por isso que fazer músicas é melhor do que lançar coisas. Eu preferiria praticar escalas feitas por alguém que sabe mais das coisas do que lançar alguma porcaria. Com as famílias e os regimes mudando, com o passar do tempo, você tem que seguir um regime. Há quatro estações e feriados que devem ser marcados em um calendário físico. Além disso, o segredo é andar com despertador quando vou pros lugares. Tô ansioso pelo iPhone 6, e aquele relógio parece massa demais. Acho que vou pegar um desses também.

Daniel Kohn está mexendo no seu celular agora mesmo. Siga-o no Twitter.

Tradução: Thiago “Índio” Silva