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Música

Até Que A Morte Nos Separe: O Death Fala Sobre Punk, o Novo Álbum e a Perda do Irmão

Os ícones do rock de Detroit ressuscitaram e tem muito a dizer.

Crédito: Samdarko Eltosam

Quase sempre, os relatos mais interessantes acontecem na superfície e nunca encontram o seu caminho para entrar na história. Isso é particularmente verdade na história da música, e quase foi o caso com o Death. Tendo começado em 1971 em Detroit, os irmãos David, Bobby e Dannis Hackney criaram um som que misturava a musicalidade provocante digna do Bad Brains com a pegada do hard rock setentista. A música dos caras pré-anunciou o punk e deve ser lembrada junto dos roqueiros de Detroit do The Stooges, mas, até 2008, quando seus discos começaram a ganhar notoriedade, poucas pessoas sequer os tinham ouvido.

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A indústria da música não estava preparada para os três irmãos negros que se autodenominavam Death, e seus vizinhos também não sacavam qual era a deles. Eles quase fecharam com a gravadora Arista Records, mas se recusaram mudar o nome para um mais vendável. Mantiveram suas melhores fitas em segredo e, com o seu visual punk, lançaram sua música de forma independente e tiveram um reconhecimento mínimo na rádio. Sua separação foi em 1977, seguida de uma mudança para Burlington, em Vermont. David Hackney era a força propulsora da banda; compôs e concebeu seu nome e conceito, e também foi ele quem veementemente recusou a mudar o nome ou comprometer a visão do grupo. Não apenas um visionário, ele teve momentos de clarividência – antes de falecer em 2000, ele disse a seus irmãos que um dia o mundo iria atrás de suas fitas.

Com a adição relativamente recente do guitarrista Bobby Duncan, Dannis e Bobby Hackney tiveram uma longa carreira como músicos trabalhando em uma banda de reggae, a Lambsbread, até se ligarem de que seus discos conquistaram uma legião de fãs e seus 45” estavam sendo vendidos por uma grana preta na internet. A redescoberta de sua música resultou num lançamento full-length, o For the Whole World to See, pela Drag City, que foi seguido por dois outros álbuns arquivados: Spiritual-Mental-Physical e Death III. Em 2009, a banda se juntou para uma série de turnês triunfantes. Sua incrível história foi contada no A Band Called Death, um documentário de 2012.

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34 anos depois, o mundo finalmente estava preparado para eles – e queria mais. Durante muitos anos os fãs vêm se perguntando se um dia eles escreveriam novas músicas. O Death agora está lançando o N.E.W, seu primeiro disco com material recente em mais de três décadas, com músicas criadas a partir daquelas escritas pela Death na década de 70 e também faixas novas, incluindo algumas escritas pelo Duncan. É um novo álbum construído com a coluna vertebral das músicas escritas há mais de 30 anos, criadas por dois músicos da antiga banda. Me diz se isso não é reescrever história?

Pelo telefone em Vermont, a banda relembrou os tempos áureos em Detroit e refletiu sobre o que seu irmão Dave acharia do novo disco.

Noisey: Você pode nos descrever como foram seus primeiros shows?
Bobby Hackney: A gente não fazia muitos shows em Detroit. Tentamos umas paradas experimentais, saca, sendo liderados pelo nosso irmão Dave. Ele tentou marcar em uns cabarés só para negros. Ali estavam todas as pessoas de Detroit que curtiam R&B e soul. É o tipo de cabaré onde você levava sua própria bebida e nós estávamos tocando. Na maior parte do tempo, éramos recebidos de um jeito estranho, pessoas nos rejeitavam, estavam lá para ouvir apenas soul e R&B e nós tocávamos um rock pesadão. Tentamos agendar algum show em uma noite de rock porém, mais uma vez, o nome da banda foi um baita empecilho pra gente. Conseguimos marcar um show num clube de rock em Ann Arbor mas o cara que nos chamou nos colocou para tocar numa segunda à noite e não tinha ninguém. Então nos dedicamos ao estúdio e a criar nossa música.

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Vocês começaram tocando um pouco de R&B, né?
Dannis Hackney: Sim, começamos tocando um pouco de R&B com uns cars que ficavam dançando e tal, mas, você sabe, aquilo ficou meio perigoso. O tempo de treino desses caras não é brincadeira. Rolaram tiros de espingarda algumas vezes. Sempre acontecia alguma coisa. Fizemos alguns shows com esses caras mas tivemos que partir para outras coisas.

Você curtia R&B e soul na adolescência?
Dennis: Porra, muito! A gente morava do lado daquela parada toda da Motown. Então curtíamos Motown, James Brown e todos aqueles astros do R&B daquela época. Mas era apenas uma das várias coisas que curtíamos; do outro lado estava a parte roqueira da cidade, onde íamos no Cinderella assistir ao J. Geils, e ao Cobo Arena ver o Alice Cooper e vários outros caras. Foi uma época boa para nós porque vivíamos espremidos no meio dos dois lados da cidade. Podíamos escolher para onde ir. Era um lugar muito musical.

Como você se sente quando descrevem o Death como uma banda punk ou quanto a ser visto como parte dessa história?
Bobby: Quando tocávamos nossa música em Detroit a gente dizia que estávamos deixando o rock de Detroit mais pesado. Em 1974 o termo “punk” sequer era usado para música. Te davam um soco se você chamasse alguém de punk. O fato dos historiadores do rock terem nos rotulado como a banda que veio antes do punk… naquela época não sabíamos disso, mas hoje em dia é uma honra. É uma honra para nossa música, até mesmo se voltássemos e fossemos equiparados a um rock’n’roll massa. Isso é o que o Death sempre quis. Nunca achamos que estávamos sendo ultra inovadores em nada.

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A sua música ainda soa muito moderna hoje em dia. Como você chegou até esse som?
Dannis: Foi fruto de raiva, frustração e de estar nas ruas! Nossa música tendia a ser um pouco mais acelerada que a do resto da galera, porque tínhamos mais raiva do que o resto da galera.

Senti que você realmente conseguiu de capturar o espírito do Death que gravou o For The Whole World to See, e também o espírito de uma era.
Bobby: Bom, grande parte disso foi graças a essas músicas incríveis que tínhamos nos arquivos do Death, que foi apenas uma continuação dos tempos áureos do rock’n’roll. E também tem muito a ver com o fato de que nós todos viemos daquele tempo e conseguimos nos identificar com ele. Ainda lembramos de como o rock’n’roll fazia a gente se sentir; e fizemos uma promessa que com esse álbum seríamos fiéis ao som que o Death pretendia.

O que você acha que o David falaria dos resultados?
Bobbie Duncan: Ele curtiria. Queria ter tido a chance de tocar com ele. Não quero ficar de mimimi, mas queria ter tido a chance de fazer uma jam com ele pelo menos uma vez.

Bobby: Ele era uma grande inspiração para nós fazermos com que o som permanecesse intacto, saca, que a gente não o produzisse nas coxas também. Em sua maior parte, gravamos o disco da mesma forma que fizemos na United Sounds. Gravar dessa forma é raro hoje em dia, mas tivemos a sorte de ter esse tipo de estúdio de arte aqui em Vermont. Esse cara gravou uma galera, desde Phish até o Alice Cooper. Tivemos sorte de ir fundo e gravar ao vivo invés de faixa a faixa. Tivemos a oportunidade de gravar como uma banda. Você sempre sente uma vibe diferente quando uma gravação é feita como uma performance.

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Você acha que o Death continuará fazendo música?
Bobby: Sim! Até que a morte nos separe!

Você se sente estranho em fazer turnês por aí e tocar essas músicas que originalmente escreveu com o David?
Bobby: Me sinto um pouco, sim. Me deixa triste. Você meio que pensa em algumas coisas enquanto está tocando, sabe? As pessoas perguntam “no que você pensa enquanto está tocando?”, e eu penso sobre coisas que o David disse, coisas que ele fez e mais ainda nas que ele profetizou. Para mim, isso tira ele do universo de ser apenas um homem comum. Ele era algo além disso.

Tem mais alguma coisa que ele disse e te vem à mente?
Bobby: Sim! Tem um lugar em Burlington chamado Flynn e me lembro que nos anos 70, assim que chegamos em Vermont, o David nos disse que um dia tocaríamos lá. Era um cinema, ninguém fazia shows lá nem nada. Eu disse “Dave, isso aqui é um cinema”. Anos depois, quando estou no palco do Flynn, me lembro dele ter dito isso. Acontecem umas paradas bizarras assim. Ele nos disse que iríamos para o Reino Unido um dia. Não vejo a hora.

Beverly Bryan está no Twitter- @DJBBCheck

Tradução: Stefania Cannone