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Música

O Iceage Não Pertence A Ninguém

A nova faixa da banda, “The Lord’s Favorite”, é uma continuação do desenvolvimento da sonoridade dos caras com um tiquinho de country, e foi comparada a The Birthday Party e The Gun Club.

Antes mesmo de vê-los ou ouvi-los, o Iceage é o tipo de banda que chama a sua atenção. Surgida na cena punk de Copenhague em 2009, seus primeiros discos, incluindo o disco de estreia New Brigade, misturava o pós-punk de bandas como Warsaw, Crisis e Joy Division com a raiva do hardcore.

Entregue com fúria e confiança desvairadas, era uma sonoridade incompatível com a idade e experiência destes punks dinamarqueses. Confrontadores, mas planejados. Certa vez ouvi o vocalista Elias Bender Rønnenfelt num programa de rádio, tocando Wipers, Screamers, Void, Bruce Springsteen e Cult Ritual. Eles eram jovens, mas manjavam do negócio.

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A nova faixa da banda, “The Lord’s Favorite”, é uma continuação do desenvolvimento da sonoridade dos caras com um tiquinho de country, e foi comparada a The Birthday Party e The Gun Club. Uma mudança que espantou alguns, mas Elias afirma que a banda está feliz com a reação causada.

Batemos um papo com Elias sobre a nova música e futuros shows:

Noisey: Você crê que algumas pessoas não entenderam o humor em "Lord's Favorite" e focaram demais na sonoridade?
Elias Bender Rønnenfelt: Há muito de humor na canção e no clipe, mas não os veria como uma “piada”. Quando percebi que estava escrevendo uma música meio que country, comecei a me divertir com a imagética do gênero. Deixou de ser uma canção de amor para virar essa canção megalomaníaca de amor – mas muito genuína.

O que você achou da reação à música?
O tanto de gente choramingando e reclamando da súbita mudança na estética me agradou. Lançamos esta música de cara com a intenção de destruir algumas expectativas com que tipo de banda somos. Não pertencemos a ninguém.

Parece ter uma boa quantidade de homoerotismo, foi proposital?
Não, o travesti atrás de mim só estava lá. Nem percebi.

Tem alguns trechos meio celtas que me lembram The Pogues.
Sim, Shane McGowan é um compositor incrível. Acho que todos na banda somos fãs deles desde a adolescência, então com certeza eles estão ali pelo meio do nosso DNA musical.

Vocês iriam tocar no ATP Jabberwocky Festival, que foi cancelado. Como você se sente tocando em eventos deste porte ao invés de locais pequenos ou ligados à cena punk?
Raramente me divirto em festivais no geral. Parecem ser um meio horroroso e errado para se experimentar a música. Esse lance de ficar pulando de banda em banda. O vão enorme entre banda e artista preenchido por fotógrafos e brutamontes. Ter que tocar no meio do dia com um som de merda e um público quase dormindo.

Então, como você pode imaginar, não fiquei exatamente desolado com o cancelamento do Jabberwocky. Ao invés disso pudemos tocar em locais bons e pequenos com amigos nossos como Helm e Shallow Sanction.

Vocês estavam de rolê com o Daniel Stewart do Total Control em Copenhague.
Sim, aquele mala tá dormindo no chão da minha casa nas últimas duas semanas, não dava pra um de vocês australianos virem buscá-lo?

Assim como com o Iceage, havia muita expectativa em torno do disco do Total Control. Você sente que elas aumentam com um público maior ou a cena punk também é tão exigente assim?
Acho que ambas bandas confiam demais no que estão fazendo para serem atingidas por línguas venenosas. Eu mesmo nunca liguei para a aceitação no punk ou no mundo comercial indie. Não pertencemos a nenhum dos dois.

Tradução: Thiago “Índio” Silva