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Música

O Nada Surf não quer mais ser cool

Vinte anos depois do começo da banda, Matthew Caws diz que “crescer te dá uma visão realista do seu trabalho” e o resultado é o novo disco do trio nova-iorquino ‘You Know Who You Are’.

Foto do Facebook do Nada Surf.

Ser popular não é mais tão importante para o Matthew Caws. O vocalista do Nada Surf conversou comigo por telefone, enquanto lixava a parede do seu apartamento e esperava a visita de um amigo, e me contou que a relevância de ser “cool” é algo que desapareceu na sua vida adulta, e que reflete em sua ocupação: “Crescer te dá uma visão mais realista do seu trabalho. Eu sou só um compositor. No começo, eu queria estar em todos aqueles selos legais, das bandas que eu cresci ouvindo: Matador, Touch And Go, Merge… Agora, o conceito de ‘cool’ não é mais grande coisa pra mim.”

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De fato, muito mudou desde que o Nada Surf emplacou o hit “Popular”, em 1996, com um clipe que se passava numa tradicional escola norte-americana. A canção era uma ode irônica ao desejo adolescente de ser popular, temperado por uma estética juvenil de pseudo-revolta rodeada de guitarras calculadas, beirando o emo old school — sonoridade típica de bandas meio indie, meio emo que surgiam naquela época, como o Weezer e o Death Cab For Cutie.

Quando a poeira de “Popular” abaixou, porém, o Nada Surf se tornou apenas mais uma no grande rebanho de bandas de indie rock do final dos anos 90 e começo dos 2000, com uma sequência de lançamentos até celebrados pelos seus fãs, mas um tanto ignorados pelo restante do público. Agora, no entanto, após um hiato de quatro anos em que Caws trabalhou no Minor Alps, seu projeto indie pop com a artista Juliana Hatfield, a banda retornou com You Know Who You Are.

Antes um trio, pela primeira vez o Nada Surf teve a experiência de compor a oito mãos: Doug Gillard, guitarrista que havia tocado com a banda em algumas turnês, dessa vez aparece como membro permanente do grupo nova-iorquino. “Ele trouxe mais frescor para as músicas, não tivemos tempo de nos cansar delas. Acho que algumas canções acabam perdendo um pouco de sua energia por serem muito trabalhadas”, conta Caws, que também admite ter dado espaço para que os outros membros da banda pudessem se expressar mais no disco: “Com a Juliana, nós dividíamos todas as responsabilidades: a de compositores, liricistas, produtores… Então criei coragem de fazer mais isso com o Nada Surf, também”.

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Os instrumentais do disco dão, de fato, a impressão de que a banda recuperou uma energia perdida: as agora duas guitarras pulsam em “You Know Who You Are”, metais dão um final bonito a “Out of the Dark” e “Animal” é um pseudo-country que poderia facilmente ter saído de algum disco do Wilco — e não por acaso: Caws disse que uma de suas inspirações para o novo álbum foi um artigo da revista Rolling Stone sobre música country. “Algo que parece definir a música country é que não há muita informação subjetiva. Então, eu tentei ser o mais claro que pude”, conta.

Talvez esse tenha sido o pensamento que deu o tom do verdadeiro espetáculo de You Know Who You Are: a especifidade das letras. “Acho que internalizei algo que ouvi há um longo tempo, que, ao escrever canções, você tem que tentar ser universal e específico ao mesmo tempo. Como seres humanos, a gente passa muito tempo entre o prático e o totalmente abstrato — tipo, num momento você tá pensando no que vai almoçar; no outro, você se pergunta sobre o sentido da vida. São pensamentos pequenos e gigantes que temos nos mesmos cinco minutos”, diz Caws.

Apesar de tratar de situações cotidianas e comuns — “Friend Hospital”, por exemplo, fala da difícil experiência de tentar ser amigo de um amor; “Out of the Dark” incentiva alguém num momento ruim a superá-lo — as letras de You Know Who You Are entram em minucioso detalhe sobre o que retratam. Mas, diferentemente dos cantores country que provavelmente o inspiraram, Caws mostra uma visão muito mais otimista dos assuntos de que canta.

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“Eu sou fascinado por muitas formas de música, como o rock gótico, por exemplo. Mas na cultura gótica há uma celebração da escuridão. E isso é algo que eu nunca, nunca faria. Eu nunca celebraria ser depressivo ou negativo, porque são coisas que eu sou, mas não é algo que eu quero glorificar. Eu só quero glorificar ser positivo. E talvez isso seja chato, mas eu acho muito romântico”, diz.

A impressão que tive ouvindo o disco, e, depois, conversando com Caws, é que You Know Who You Are (Você sabe quem você é) foi apropriadamente intitulado: após vinte anos, o Nada Surf parece ter encontrado sua identidade e seu caminho — como uma banda de indie rock simples, mas relacionável, confortável e sincera. O próprio Matthew fecha o pensamento: “Sou um ouvinte médio. Eu gosto de ouvir música estranha e interessante às vezes, mas também gosto de conforto. Gosto de me sentir hipnotizado, de me sentir em casa. Então, quando escrevo para as outras pessoas, o primeiro critério tem de ser o que eu mesmo gostaria de ouvir. ”

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