FYI.

This story is over 5 years old.

Música

Roubadas na Estrada: A Vez que Invadiram o Hotel e Socaram um Cara do Forgotten Boys

Entre as muitas lições de vida que se aprende ao integrar uma banda de rock, talvez a mais valiosa seja a seguinte: “Não Roubarás a ‘Parada’ Alheia”.

Uma banda de rock não precisa estar submetida a situações de desgraça ou infortúnio supremo para se encontrar numa “roubada”. Afinal, eu mesmo já achei uma grande roubada passar por certas fitas pueris como ser obrigado a viajar de trem pelo interior de São Paulo pra fazer matéria de jornal… Pô, uma vez me mandaram cobrir a final do concurso Colírios Capricho em pleno fim de semana, saca? Não é aquele puta bagulho tenso, mas é mala pra caralho. Assim como é muito osso quando você faz parte de uma banda que é confundida com outra, porque não dá pra ter certeza se tão tirando barato da sua cara ou se é realmente confusão. Sei lá, se eu conheço e curto de verdade o som de um artista, como não vou saber identificar a aparência da pessoa? Coisas desse tipo acontecem com o Forgotten Boys, que, desde 1997 em atividade atravessando o fogo das inúmeras dificuldades caras ao underground com seu contagiante punk’n’roll, como todo conjunto de rock independente que se preze, já viu seu cachê ser afanado, ainda que parcialmente, algumas vezes por contratantes.

Publicidade

Contudo nem sempre a Roubada na Estrada é culpa de quem organiza o evento, regula o som ou recepciona a atração. Às vezes é algum integrante da banda mesmo que caga no pau e se mete em enrascadas. Quando dá pra sair ileso, maravilha, no fim tudo vira motivo de risada. Quando não dá, fica o aprendizado e alguns hematomas… Os relatos desta edição da coluna que desencava histórias chatas vividas pelos músicos em viagens para tocar fora de suas cidades foram concedidos pelo Gustavo Riviera, vocalista, guitarrista e fundador do grupo paulistano. Se liga aí:

Trocando Ideia em Português com os Caras do Nirvana
Onde: Turnê pelo Nordeste
Quando: 2003
“Estávamos em turnê no Nordeste, fizemos um show em Salvador e, na manhã seguinte, já no aeroporto para ir pro Recife fazer o Abril pro Rock, tomávamos café e esperávamos o anúncio do embarque quando reparo numa mulher, de uns 40 anos de idade, vestida como uma executiva, vindo em nossa direção. Com um certo sorriso no rosto, animada, ela se aproxima e diz: ‘Nossa, não acredito! Vocês vão tocar aqui em Salvador?’. Aí explicamos que o show tinha sido na noite anterior e tal, e ela: ‘Não fiquei sabendo de nada, não divulgaram?’ ‘Pois é, a divulgação nem sempre é boa, mas foi um público bem bom, foi bem legal, pena que não você não ficou sabendo’, lamentei. Ela parecia inconformada em não saber do show e eu comecei a achar meio estranho, não que uma executiva não pudesse curtir um rock e trampar de advogada ou economista, mas tava estranho.

Publicidade

Ela não acreditava ter perdido o show. Então lancei: ‘Você conhece a banda? Conhece os discos e tal?’ Aí ela manda: ‘Claro, quem não conhece o Nirvana?’ Todos ficaram calados, com um sorriso meio falso, tentando entender se ela estava tirando uma com a nossa cara ou se ela realmente achava que nós éramos o Nirvana. Bom, ela achava mesmo, isso porque o Kurt já havia morrido há quase dez anos. Esclarecemos que não éramos o Nirvana. Aí foi a vez dela desconfiar se nós estávamos tirando uma com ela. E foi embora sorrindo, achando que estávamos mentindo que não éramos o Nirvana só pra não ter que dar atenção. O mais estranho é que ficamos pensando se ela sabia que o Nirvana era gringo, pois falamos com ela o tempo todo em português, claro. Não sei o que se passava pela cabeça dela.”

Feliz Aniversário Coletivo
Onde: Interior de São Paulo
Quando: 2008
“Uma vez rolou uma situação envolvendo grana. Havíamos combinado um determinado cachê para tocar, com a condição de que, se passasse de 400 pessoas, o valor dobrasse. Algo assim, não me lembro exatamente. Bom, colou bastante gente no show, bem mais do que 400. Só que, na hora do acerto, o contratante apresentou a conta como se tivessem 200 pessoas. Aí questionamos, e ele disse que tinham, sei lá, 470 pessoas. “Então, qual era o combinado?”, questionamos. Bom, ele explicou que umas 200 pessoas entraram como VIPs, amigos e aniversariantes, e que muita gente entrou quando o show já tinha começado. Segundo ele, tinha quase 20 aniversariantes naquele dia. Super normal isso, né? Vinte aniversariantes no nosso show. Essa foi demais! Acabamos fazendo um bem bolado para resolver pros dois lados e não piorar tudo.”

Medo e Delírio no Paraná
Onde: Curitiba
Quando: 2004
“Nossa primeira ida para a Argentina foi uma turnê grande, de uns 25 shows, que percorria todo o sul do Brasil até chegar na Argentina e no Uruguai. Na volta, faríamos mais algumas apresentações pelo sul do Brasil também. Saímos de São Paulo de carro, os quatro da banda em um carro pequeno, com todo o equipamento e um rádio mono. Todos empolgados, pois era a maior e a primeira turnê internacional da banda. O primeiro show era no Paraná, em Curitiba. Foi bem legal. Após a apresentação, o bar já estava fechando, e umas pessoas nos convidaram para ir à casa de alguém. Foram duas da banda e o roadie. Chegando lá, conhecíamos um ou outro e tinha umas pessoas assistindo TV, mudando de canal, vendo MTV ou um canal que mostrava quem estava no elevador, fazia tempo que não via isso. Bom, festinha rolando, tudo rolando, até que sentem falta de uma ‘parada’. Tinha sumido, onde está? Reviramos a casa, ninguém acha nada, aquela tensão. Arrasta armário, levanta sofá e nada. Bom, já era quatro da manhã e precisávamos sair para Florianópolis às nove. A festa estava boa, mas precisávamos ir pro hotel descansar um pouco.

Entramos no elevador, quando um dos nossos companheiros de banda, o Flávio, que na época era o baterista, enfiou a mão no bolso e mostrou a ‘parada’, sorrindo como uma criança. Eu disse: ‘Lembra que estava passando na TV a câmera do elevador? Pois, então, meu amigo, eles devem estar assistindo isso agora, seu merda. Corre!’. Saímos no gás direto pro táxi em direção ao hotel. Chegando lá, fui pro meu quarto e os outros dois não quiseram descansar. Tomei um remédio para dormir. Acho que apenas um minuto depois o dono do hotel entrou no quarto e me acordou desesperado dizendo que três caras invadiram o hotel e quebraram o meu amigo no quarto. Levantei e desci correndo pelas escadas do hotel.

Chegando no quarto, que ficava uns quatro andares abaixo do meu, lá estava ele deitado no chão morrendo de dor dos chutes de botas que levou nas costelas. Olhei pela janela e vi os caras, ainda tentei xingar, chamar eles de volta, como se fosse fazer alguma coisa, mas eles entraram num carro e vazaram. Sem nada a fazer, voltei a dormir. Mas logo um funcionário me acordou dizendo que o Flávio estava chorando de dor no lobby. Chamei um táxi e fomos pro hospital. Os outros caras da banda foram avisados pelo pessoal do hotel e chegaram no hospital umas nove horas. Tivemos que aguardar os exames pra ver se ele estava com alguma hemorragia interna e tal. Depois de umas três horas, saiu o resultado e estava tudo ok. Seguimos pra Florianópolis.”

Siga o Forgotten Boys nas redes: Facebook | YouTube | Soundcloud