FYI.

This story is over 5 years old.

Música

O Tim Lambesis do As I Lay Dying Ficou Loucão com Anabolizantes?

O cantor está em prisão domiciliar depois de ter contratado um assassino de aluguel para matar a mulher – e ganhar mais de 20 quilos em músculos

Em maio de 2013, Tim Lambesis, líder da banda de metalcore cristão As I Lay Dying, foi preso sob acusações de ter contratado um matador de aluguel pra dar cabo de sua esposa. O matador, um cara chamado “Red”, era, na verdade, um policial disfarçado trabalhando para o Departamento de Polícia de San Diego e estava atuando a partir de uma dica do personal trainer de Lambesis. Depois de sua prisão, os promotores disseram que Lambesis estava muito puto com questões relativas ao divórcio do casal. Mas o advogado de defesa de Lambesis, Thomas J. Warwick Jr, ofereceu uma outra explicação: os esteroides anabolizantes o deixaram fora de si.

Publicidade

Na audiência de fiança dias depois da prisão de Lambesis, Warwick alegou que o cantor havia sofrido danos no cérebro após o uso constante de anabolizantes. Por ter ganho mais de 20 quilos e muitos músculos, Lambesis experimentou “mudanças no seu status mental e psicológico”, afirmou Warwick. Ele estava “irritadiço e perdeu-se de Deus”. Ele “não era mais a mesma pessoa”. Um psiquiatra disse que Lambesis havia entrado no estado de “fúria esteróide”.

“Foi uma tragédia terrível”, disse Warwick (que não respondeu às inúmeras mensagens referentes a este artigo) na audiência, de acordo com uma reportagem de um jornal local afiliado à NBC de San Diego. “Ele era um homem muito cuidadoso e gentil [antes dos anabolizantes] e precisamos trazê-lo de volta”.

Lambesis foi solto depois de pagar fiança, e há meses está vivendo em prisão domiciliar. Seu julgamento está marcado pra começar em 11 de março. Na medida em que o julgamento se aproxima, nos perguntamos se essa estratégia de defesa de alegar um estado de “fúria esteróide” -- o que muitos atletas e halterofilistas enfrentando acusações criminais já alegaram no passado -- vai funcionar pra Lambesis. Se os anabolizantes danificaram seu cérebro, isso o teria tornado apto a tramar o assassinato da própria mulher? Embora os anabolizantes sejam conhecidos por aflorar a lado agressivo de alguns usuários, é questionável que sejam a principal fonte dos problemas legais de Lambesis.

Publicidade

“Há muita gente que já é louca antes de tomar esses anabolizantes”, afirma o Dr. Richard Clark, diretor de toxicologia na Universidade da Califórnia, Centro Médido de San Diego. “E isso é parte do problema, e isso é parte do que eu discutiria contra este sujeito nos tribunais. Vamos analisar seu histórico antes de ele começar a tomar os anabolizantes, se isso estiver disponível”.

No quesito bandas cristãs, a As I Lay Dying é bastante intensa. Seu último disco, o Awakened, de 2012, é cheio até a tampa com técnicas afiadas de guitarra e breakdowns típicos do metalcore. Enquanto Lambesis é acompanhado frequentemente por um coro de cantores melódicos --- o que é normal neste subgênero -- ele solta seus berros entorpecidos por testosterona como se fosse um jogador de rugby que te desce o pau e depois dá uma rezadinha.

Entretanto, o músico de 33 anos nem sempre foi tão musculoso. Você pode acompanhar sua drástica transformação na montagem de antes e depois que ele postou na internet em dezembro de 2012: na imagem à esquerda, ele é um cara esquelético em cujo braço tatuado falta definição muscular. Mas na imagem à direita, uma foto de um show ao vivo em que ele está coberto de suor após a apresentação, seus bícepes estão rasgadíssimos, e até mesmo a sua cara parece ter mais carne.

Num post de uns dois anos atrás em seu Tumblr, Lambesis escreve que ficou dessa maneira por fazer exercícios “estilo cadeia” enquanto estava em turnê, e indo à academia quando estava em San Diego. Na academia, ele fazia um treino pesado, trabalhando em cada músculo “por três ângulos diferentes”. O objetivo, segundo ele, era destruir seus músculos e depois reconstrui-los mais fortes -- levando-o a obter um físico rasgado e altamente atraente.

Publicidade

“Admito não ter razão alguma pra ficar em boa forma fora intimidar homens afeminados na primeira fila dos shows do ADM”, ele escreveu eu seu Tumblr, se referindo ao seu projeto paralelo Austrian Death Machine, uma banda comédia de metal que mistura uns riffs sinistros com samples de chavões do Arnold Shwarzenegger. “O ‘Ahhhnol’ ainda me intimida, tenho um complexo de homem pequeno mesmo tendo 1,90 de altura”.

Quando a polícia fez uma busca na casa de Lambesis depois de sua prisão, encontrou dúzias de ampolas de drogas potencializadoras de músculos e libido, além de bloqueadores de estrogênio. A quantidade de combinações que Lambesis estava usando não ficou clara -- o porta-voz da Procuradoria de San Diego me disse que não poderia comentar sobre casos não concluídos. Mas, pra quem quer ganhar massa, combinações tipo testosterona sintética oferecem benefícios tentadores.

No mundo da musculação e do halterofilsmo, em que o uso de anabolizantes é altamente difundido, profissionais tomam “bombas” (apelido carinhoso para anabolizantes) pra dar forma aos músculos e aumentar a sua eficiência. Com níveis altos de testosterona no seu sistema, seus músculos se recuperam com mais rapidez dos treinos intensos, te dando uma margem maior pra puxar ferro ao mesmo tempo em que você ganha massa. O problema é que os efeitos colaterais dos anabolizantes podem ser imprevisíveis e, em alguns casos, bem horríveis.

Publicidade

Bill e Jim, dois levantadores de peso bombadinhos de San Diego (mudei seus nomes), tomaram tanto pílulas quanto injeções de testosterona sintética no último ano. A dieta mais recente da dupla é relativamente leve: doses de enantato -- um tipo popular de testosterona injetável -- em ciclos de três meses, seguidos de três meses de descanso. Como resultado, eles viram uma melhora significativa no tempo de recuperação e ainda ganharam músculos. Na sua sessão mais recente, Bill disse ter conseguido levantar 168 quilos no supino e impressionantes 258 quilos no levantamento terra.

Mesmo com suas relativamente pequenas dosagens, Bill e Jim sentiram apenas um efeito colateral: o atrofiamento dos testículos. “Depois de duas semanas de interrupção do ciclo, eles começaram a voltar ao normal, porque nossa dosagem é leve”, conta Bill.

Ainda sim, nem todo mundo reage aos anabolizantes como Bill e Jim. Um cara que eles conhecem vivenciou efeitos colaterais piores mesmo sob doses mais baixas. E, eles dizem, uma vez que um levantador de peso começa a misturar combinações diferentes e tomá-las por períodos maiores, os riscos crescem exponencialmente.

“Basicamente, entrar e sair de ciclos, não só é mais fácil pro seu corpo, como também te deixa a porta aberta pra parar de vez”, diz Bill. “Se você pega pesado nas combinações por uns cinco anos, você tem grandes chances de eliminar sua produção de testosterona. E então você está nessa pra vida toda -- a não ser que queira se tornar uma mulher. Você vai chorar vendo Titanic.”

Publicidade

E então há o maior risco de todos: a fúria esteróide, os lendários rompantes espontâneos de ira entorpecida por testosterona. Bill e Jim descartam a possibilidade da fúria esteróide ser um mito, como a maconha foi retratada em Reefer Madness, por exemplo. Especialistas da saúde alegam que anabolizantes podem causar agressões, e mesmo esteróides prescritos como a prednisona -- corticóide utilizado no tratamento de asma, enxaquecas e uma variedade de outras condições -- são conhecidos por já terem induzido episódios psicóticos em alguns usuários. Mas a pesquisa científica ainda não encontrou uma ligação direta entre o uso de anabolizantes e os casos mais graves de agressões. Constantemente, as pessoas que ficam agressivonas com esteróides já eram agressivonas desde o princípio.

Mesmo se Lambesis tivesse sido acometido por um episódio de “fúria esteróide”, isso não necessariamente explica como Lambesis poderia ter supostamente arquitetado um esquema de assassinato de aluguel, em que ele claramente deu ao suposto matador (também conhecido como Vice-Delegado Howard Bradley) informações sobre sua esposa Megan e os locais onde ela poderia estar pra que ele executasse a tarefa.

“Quando falo sobre ‘fúria esteróide’, quero dizer que é um comportamento espontâneo e violento que precisa em muitos casos envolver inclusive a polícia. A palavra-chave é ‘espontaneidade’. Sabe, uma explosão de fúria”, diz Dr. Charles Yesalis, professor emérito na Universidade de Penn State e autor de diversos livros sobre doping. “Quando você se senta e planeja a execução de alguém, isso não me parece caracterizar um incidente de fúria esteróide.”

Publicidade

Lambesis não respondeu a uma mensagem no Facebook em que pedimos um comentário sobre este artigo. Seus colegas de banda também não estão falando publicamente sobre o caso ou sobre o status da banda, e muitos dos seus amigos negaram entrevistas. (Um amigo de Tim que falou anonimamente disse que Lambesis era um “bom cristão”; o amigo o apoia quaisquer sejam os resultados.) Mas em comentários breves no seu Tumblr, num post que ele depois apagou, Lambesis vagamente sugeriu que há mais sobre a história do que foi trazido à julgamento.

“Um dia vou poder contar a história detalhadamente pra colocar os fatos nos seus devidos lugares e apresentar os muitos lados dessa história bastante complexa. Nesse meio tempo, muitos de vocês vão presumir coisas e aceitar o sensacionalismo da imprensa que só quer aumentar as vendas”, ele escreveu.

Se Lambesis tivesse tido um colapso mental ou emocional, algo mais teria contribuído pra isso. Advogados de acusação disseram que Lambesis falou sobre seu divórcio quando se encontrou com Bradley, reclamando sobre o acesso limitado aos filhos e que ele teria que dar uma parte de seus rendimentos à ex-mulher. Meggan, uma dona de casa que tomava conta dos filhos o dia inteiro enquanto Lambesis saía em turnê seis meses por ano, deu entrada nos papéis do divórcio em setembro de 2012. Promotores dizem que Tim tinha enviado um email dizendo que não a amava mais e não acreditava mais em Deus. Ela depois veio a descobrir que ele estava tendo um caso.

Nancy Fagan, proprietária da The Divorce Help Clinic LLC, uma clínica de planejamento de divórcio e centro de meditação em San Diego, diz que as pessoas às vezes perdem a cabeça durante processos de divórcio -- principalmente em casos como o de Meggan e Tim, em que advogados estão envolvidos e dinheiro e custódia dos filhos estão em jogo.

“As pessoas ficam loucas”, diz Fagan. “Elas não conseguem resolver os próprios problemas. Elas não sabem como resolvê-los. Elas não gostam de estar num estado emocional profundo. É desconfortável pra algumas pessoas, então elas buscam as saídas mais fáceis”.

Nos últimos meses, o caso de Lambesis lentamente chegou aos tribunais. No começo do mês, ele apareceu com seus pais num tribunal de San Diego pra uma “arbritagem” -- uma espécie de reunião em que os advogados de acusação e defesa se preparam pro julgamento e/ou a possibilidade de um acordo. Nenhuma audiência aconteceu.

Desde outubro, Lambesis compareceu a eventos rotineiros nos tribunais como esse. Sentado calmamente, ele espera com seus pais por Warwick, seu advogado, pra que ele saia de uma sala e traga atualizações sobre o caso. Claro, apenas Tim Lambesis sabe o que se passa na cabeça de Tim Lambesis. Mas sempre que o vejo, noto em seus olhos uma espécie de incerteza -- quase como se ele não soubesse como veio parar aqui, ou o que vai acontecer a seguir.

Peter Holslin é um jornalista musical em San Diego. Ele está no Twitter - @PeterHolslin