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Música

Melhor que Ser Pirata É Ter uma Banda de Metal Pirata

Conheça Christopher Bowes, o tocador de keytar líder da banda de metal pirata Alestorm.

Você deveria largar seu emprego agora e montar uma banda de metal pirata. Essa foi a lição que aprendi ao conversar recentemente com Christopher Bowes, responsável pelos vocais e teclarra da veterana banda de metal pirata Alestorm. Vindos do Reino Unido, esta tripulação de cinco homens passou quase uma década sendo paga para viajar pelo mundo cantando canções sobre andar na prancha, vagabundear em busca de meretrizes e fazendo todo o tipo de coisa pirata louca. O que motiva Bowes? “Apenas amo ver o mundo”, ele diz. “Fui a todos o continentes do planeta. Dirigi pelos Estados Unidos sete ou oito vezes. Viajei centenas e centenas de milhares de quilômetros, e tudo isso por ter montado uma banda besta que fala sobre piratas”.

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Conheci o Alestorm quando meu colega de quarto e eu esbarramos no clipe de “Keelhauled”. A música e o clipe são inteiramente, desavergonhadamente, maravilhosamente sem-noção, e desde seu lançamento, as produções do Alestorm só ficaram mais doidas e ambiciosas. Ainda assim, Bowes diz que não está rolando sobre pilhas de tesouro ainda. Mas ele conseguiu tornar do Alestorm um emprego em tempo integral com datas internacionais quase constantes. Eles até sentiram um gostinho da vida de pirata do Século XVII ao tocar no festival 7000 Tons of Metal a bordo de um cruzeiro pelo Caribe. “Somos uma banda que canta sobre piratas enchendo a cara no Caribe em barcos”, ele diz, “e lá estávamos nós, em um navio no Caribe, enchendo a cara”.

O Alestorm lançou três discos lotados de riffs salgados, encharcados de rum e agora lançam seu quarto álbum, Sunset on the Golden Age, no começo de agosto, via Napalm Records. Falei com Bowes via Skype por estes dias, de sua casa em Bristol, na Inglaterra, para discutirmos os prós e contras de estar em uma banda de metal pirada e as dificuldades de ser um pirata de verdade. Também inventamos um novo gênero musical, “emo pirata”.

Noisey: Não consigo deixar de notar que, no clipe de “Keelhauled”, você toca a parte da rabeca em uma teclarra.
Christopher Bowes: Sim.

Este é seu instrumento? Você canta e toca teclarra?
Isso aí, é isso que eu faço, é esse meu lance. Originalmente eu era só o tecladista, mas não dá pra subir no palco e curtir detrás de um teclado. Você fica ali preso em algum canto. A não ser que você seja o Elton John ou algo assim. Então eu pego uma teclarra, saio correndo pelo palco dando cambalhotas e gritando em microfones – soa bem mais divertido.

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Você não tem alguém pra tocar a rabeca ou algo assim e então usa uma teclarra?
Não queríamos ser uma dessas bandas folk firulentas com um monte de instrumentos tradicionais bobocas. É uma bagunça. Daí pensamos: “Vamos ficar com as coisas modernas”. Eu toco a teclarra. Também temos um segundo tecladista. Acho que somos a única banda de metal no mundo com dois tecladistas. Ele fica lá no fundo fazendo toda a parte épica e divertida, já eu fico lá na frente tocando as bobeiras de acordeão e violino.

Quanto a sério você leva esta banda?
Musicalmente, falando da música mesmo, composição e tal, levo muito a sério. Acho que é música boa de verdade a qual nos esforçamos muito para fazer. Agora as letras, essa coisa pirata, digo, é nonsense puro, admito. Só cantamos sobre coisas legais e babacas. Não fingimos ser piratas. Nem nos fantasiamos muito quando tocamos.

Não?
Quer dizer, eu uso um kilt e blusa velha meio esgarçada, mas não usamos tapa-olhos. O problema com os tapa-olhos é que eles zoam sua percepção de profundidade e você acaba tocando errado e tal.

Você já fez algum show usando tapa-olho e em algum momento pensou “foda-se esse tapa-olho”?
Às vezes, quando tocamos, algum fã aleatório joga um tapa-olho e um chapéu no palco e eu meio que taco o foda-se. Uso eles e percebo “cara, isso é difícil mesmo”. É muito difícil fazer qualquer coisa nesse tipo de ambiente. Nessas situações eu fico feliz que não usamos essas fantasias exageradas. Já é complicado o bastante só tocar, quanto mais com uma blusa cheia de babados se metendo no meio das cordas da guitarra.

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Mas por que piratas?
Isso foi um acidente. Certo dia eu escrevi uma música. Era sobre piratas. Poderia ter sido sobre qualquer coisa, mas eu escolhi piratas. E levei essa música ao nosso ensaio. Todos amamos. Então pensei: “Já sei, vou compor outra música sobre piratas!” E provavelmente essa foi a pior decisão da minha vida, porque todas as músicas que compus nos últimos dez anos foram sobre piratas.

Quando se escreve sobre piratas e nada mais, não se fica sem material? Ou há o bastante pra seguir em frente?
Acho que já pegamos até a rapa do tacho quando se trata de assuntos tradicionais de piratas. Já acabamos de cavar em busca de tesouro. Já paramos de andar sobre a prancha. Não sei, o que mais os piratas fazem? Todas essas coisas, batalhas com canhões e putanear com meretrizes em tabernas. Estamos saindo pela tangente esses dias, as influências estão ficando esquisitas. Temos músicas no disco novo que será lançado sobre piratas que vão para o futuro para lutar contra um exército de lulas mortas-vivas – sabe, pra salvar o mundo. Há canções sobre ir para debaixo d’água e encontrar um exército de abelhas submarinas e roubá-las pra fazer bebida. Digo, claramente você ouve isso e superficialmente pensa: “É, essa música sobre piratas!” Mas quando para pra pensar mesmo rola um: “Mas de que diabos eles estão falando?”.

Você já compôs alguma música genuinamente pirata, sobre os aspectos íntimos e tristes de ser pirata? Levando tudo a sério por completo?
Veja bem, isso me parece muito deprimente. Já fizemos músicas que deixavam de lado toda a bobeira e elas eram sobre piratas serem pessoas ruins e terríveis e escrotos. É uma vida bem horrenda. Você perde membros, você morre, você é preso, tudo vai contra você. Temos algumas músicas que exploram esse lado mais obscuro, mas nada tão emo.

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Eu curtiria de ouvir um emo pirata.
Ah, eu não. Não mesmo.

Quão historicamente precisas você acha que sua música é, em termos de história da música pirata?
Com certeza nadinha. Tenho uma noção muito porca da pirataria histórica ou mesmo do que as pessoas ouviam. Digamos que, no século XVI – suponho que ouviam muita música folclórica. Temos algo de música folclórica em nossas composições, mas fazemos tudo de um jeito muito pop, meio Disney que não é ligado a nenhuma cultura em específico. É só um monte de acordeões bobos fazendo oompah-oompah. Não acho que isso tenha muito a ver com as melodias de 300 anos atrás.

Até que ponto você estudou história pirata?
Joguei este videogame chamado Sid Meier’s Pirates!, era um RPG que eu adorava quando era moleque. Aprendi muito ali. Era um jogo bem bom, tinha muitos fatos históricos nele. Mas é claro, também pendia pro lado Hollywood da pirataria.

Há quanto tempo o Alestorm está na area?
Acho que tocamos nosso primeiro show e lançamos nossa primeira demo lá pelo verão de 2006. Tocamos, literalmente, três shows em um pub em nossa cidade natal, daí deixamos tudo de lado por um ano, fizemos outras coisas e aí dissemos: “Quer saber? Vamos ver se dá pra levar essa banda pra frente”. Aí mandamos um e-mail pra Napalm Records, nossa gravadora, e dissemos: “Ei! Esta é a nossa banda. Nós falamos de piratas. Será que vocês nos contratariam?” Eles responderam, literalmente, em uma hora dizendo: “Sim, aí esta”. Claro que farejaram o dinheiro ou algo assim.

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Geralmente com quem vocês tocam ao vivo?
Normalmente nos botam pra tocar com essas bandas vikings escandinavas, esse lance histórico. Às vezes, rolam uns instrumentos tradicionais e tal. Neste outono [do hemisfério norte] estaremos saindo em nossa própria turnê, e só haverão bandas piratas. É a gente e mais um monte de bandas que curtimos que cantam sobre piratas. Vai ser legal, nunca rolou antes, então vamos ver o que acontece.

Reparei que vocês tem essa música, “Back Through Time,” que é sobre voltar no tempo e pilhar os vikings.
Sim! A gente adora zoar os outros e é claro que há um ligação entre nossos fãs e esse pessoal que se fantasia de viking, aparecendo nos shows com seus martelos de Thor e barbas vikings enormes e cotas de malha. Daí pensamos, quer saber? Vamos emputecer uma galera com uma música sobre matar vikings. E é verdade. Já rolou de ter gente na frente do palco de costas pra gente, nos mostrando o dedo do meio. Mas eu adoro, acho hilário.

Então tem uma galera que fala “Ah, vocês são bons, mas aquela música sobre os vikings…”
Sim, isso acontece. Já vi gente falando: “Eu costumava gostar do Alestorm – até eles lançarem aquela música. Agora me recuso a ouví-los”. Relaxa, bicho!

É tipo “Cara, vamo aí, é viking metal”.
Cê tá usando cota de malha! Como alguém vai te levar a sério?

Tenho uma última pergunta pra você: em algum momento você já quis ser um pirata de verdade?
Hum, não. Nem por um segundo. Parece a vida mais desgraçada do mundo – em um navio infestado de rato por meses sem fim, comendo nada além de bolachas secas, perdendo membros e tal. Não, valeu. Fico com a banda, tá legal pra mim.

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Peter Holslin ama piratas, metal e metal pirata. Siga-o no Twitter - @PeterHolslin

Tradução:Thiago “Índio” Silva