"A história é que eu não me interesso por piano normal, mas eu adoro pianos fodidos. Aí um amigo meu tem esse piano todo quebrado, tecla emperrada, desafinado, quebrado MESMO, de bater a tecla e ela não voltar e ter que puxar rapidão com o dedo. Eu adoro isso, por que você tem que descobrir outro jeito de tocar. E eu não sou pianista e pouco me interessa ser pianista". Esse é o Guilherme Queiroga, que você provavelmente conhece pela alcunha QRG e pela bela curadoria artística que ele faz no selo Low Kick High Punch, falando sobre os instrumentos que usou no processo de composição do seu novo EP Pause One, que contém quatro faixas e foi lançado no Bandcamp do selo nesta mesma quinta (26).
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A atmosfera minimal de depressão intelectualizada e fria dos outros trabalhos do recifense radicado em Berlim continua lá, mas parece que a espiral agora não mais aponta pra baixo, mas sim pro Eterno. Digo isso por que no mini-release que o Queiroga colocou lá no Bandcamp ele diz que o "essas são gravações e expressões baseadas em Pedras". No começo não entendi muito bem o CONCEITO, mas ele conseguiu explicar legal: "Construção e utilização de pedras é algo que é feito pra durar. É um pouco eterno. Eu tenho me sentido atraído pela ideia de permanência mais do que tendências [grifo meu]. Morando aqui, eu vivo cercado de estruturas MUITO antigas, construídas em pedra. Vejo muito mármore ao redor, castelos, mesmo que sejam ruínas. Até quando acaba eles tão lá."Parece que a ideia é mostrar uma fisicalidade do eterno, uma aspereza da pedra. Algo que é imortal e implacável e que, traduzido pra forma musical, é um IDM industrial e etéreo, que passa longe do cerebralismo Aphex Twin de 97% dos produtores que se arriscam nessa área, e fica mais perto da introspecção tétrica do post-punk, um Coil minimal techno. Mas não é isso também.Ouça Pause One no player abaixo vá no Bandcamp do QRG e baixe o EP, que vem com um bônus audiovisual. Um vídeo dark do próprio Queiroga improvisando uma harmonia melancólica e suspensa no tal do piano arrebentado e desafinado que geme e estrala e sofre demais na mão do recifense. "Fighting a Broken, Detuned Piano", pra mim, a melhor música do EP. Abaixo do player, as texturas rochosas que são o guia visual para o Pause One.
