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Tecnologia

​Galáxias Colidindo Deixaram uma Corrente de Gás de 2,6 Milhões de Anos-Luz

A corrente foi provavelmente formada pelo grande recorte das galáxias menores enquanto elas se chocavam umas contra as outras.
Uma explosão galáctica entre a NGC2207 e a IC2163. Crédito: Hubble Heritage/Flickr

Astrônomos descobriram a mãe de todas as correntes de gás, com um total de 2,6 milhões de anos-luz de diâmetro. Sim, é isso aí: essa corrente tem 20 vezes o diâmetro da nossa própria galáxia, e é tão pesada que ultrapassa tanto a Via Láctea quanto a Andrômeda (e isso é alguma coisa, porque a nossa irmã galáctica é um verdadeiro peso pesado).

A ponte de gases é composta de hidrogênio atômico e está suspensa entre uma grande galáxia de um lado e um emaranhado de outras menores. O cenário todo está localizado a cerca de 500 milhões de anos-luz no grupo galáctico NGC7448. Foi descoberto por uma equipe liderado por Rhys Taylor da Academia Tcheca de Ciências (que por acaso também faz fantásticas artes espaciais).

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"Isso foi completamente inesperado", disse Taylor em uma declaração da RAS. "Nós frequentemente vemos correntes de gases no aglomerado galáctico, onde há várias galáxias juntas muito perto, mas achar alguma coisa assim longe, e não em um aglomerado, é sem precedentes."

O time do Taylor usou um telescópio do William E. Gordon para capturar a corrente, que é parte do Observatório de Arecibo em Porto Rico (ou como é mais conhecido, o observatório que acabou com um Sean Bean no GoldenEye). Os dados foram coletados entre 2008 e 2011, e a equipe publicou seus resultados e métodos no The Monthly Notices of The Astronomical Society.

A surpreendente estrutura foi provavelmente formada em algum tipo de colisão galáctica épica, ou pelo menos é isso que a equipe está especulando a essa altura. Mas também há outras possíveis histórias de origem para a corrente que são ainda mais exóticas (sim, existem coisas mais exóticas que uma guerra galáctica).

"É possível que esse seja um exemplo do gélido 'frio acumulado', no qual gases primordiais, deixado de lado da formação do universo, se condensam em redes cósmicas de filamentos de matéria escura para existir entre galáxias", Taylor me disse. "Isso foi proposto como uma – muito controversa – explicação para outros recursos parecidos."

"De qualquer jeito, nesse caso, eu não acho que é provável", ele continuou. "Não há nada particularmente incomum sobre essas galáxias além da corrente de gás, então nada sugere que elas estariam mais suscetíveis a acúmulos maiores do que em outras galáxias. Correntes longas assim são especialmente incomuns, – se o acúmulo fosse a causa, nós provavelmente veríamos isso em vários lugares."

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Então, a corrente foi provavelmente formada pelo grande recorte das galáxias menores enquanto elas se chocavam umas contra as outras, ou talvez pela galáxia maior que atropelou o grupo menor, deixando para trás uma trilha de carnificina gasosa.

"Outra razão pela qual uma colisão galáctica parece uma boa explicação aqui é que o disco galáctico está mais ou menos paralelo à corrente", explicou Taylor. "É muito mais fácil retirar gás arrastando-o para o mesmo plano do disco, uma vez que o gás já está orbitando no centro daquela galáxia."

"O limite é que se a galáxia estivesse mais perpendicular à corrente do que paralela a ela, seria uma evidência muito melhor para uma origem de acúmulo", ele diz. "Nós não podemos concluir que é formada por acúmulo, mas não parece uma explicação muito provável para mim."

A descoberta pode esclarecer diversas questões astronômicas.

Além do fator impressionante da corrente em si (e do jeito tumultuoso como tudo parece ter acontecido), a descoberta pode esclarecer diversas questões astronômicas.

"Um elemento que é definitivamente interessante é exatamente o quanto de gás nós vemos fora das galáxias", Robert Minchin, o principal investigador do projeto, me contou. "Isso vai criar uma reserva de gás que vai eventualmente cair em outras galáxias, onde pode ser usada para criar estrelas. Nós não vemos correntes assim em todo lugar, então nós sabemos que isso não é a principal fonte de gás entrando em galáxias, mas descobertas assim ajudarão a quantificar o quanto de gás contém nas correntes e outros tipos de coisas assim."

A descoberta também adicionou o bônus de uma participação de estudantes de graduação. Roberto Rodriguez e Clarissa Vazquez, da Universidade de Porto Rico em Humacao, contribuíram para a pesquisa, assim como Hannah Herbst, da Universidade da Flórida.

"O envolvimento dos estudantes é muito importante para nós", diz Michin na declaração à RAS. "Estamos muito orgulhoso de inspirar a próxima geração de astrônomos e particularmente orgulhosos do envolvimento de estudantes porto-riquenhos."

De fato, até onde as histórias de faculdade vão, a descoberta de uma trilha de gás de 2,6 milhões de anos-luz deixado por uma antiga treta galáctica é algo bem bom pro currículo da garotada.

Tradução: Letícia Naísa