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Entrevista

O Joaquim Fernandes acha que tem um sósia num universo paralelo

E acredita que é possível que sejamos visitados por extraterrestres.

Joaquim Fernandes tem passado boa parte da vida a estudar tudo o que é extraterrestres, mundos desconhecidos, cosmos e consciência. Ajudou a criar o Centro Transdisciplinar de Estudos da Consciência da Universidade Fernando Pessoa, no Porto. A sua tese de doutoramento (a primeira sobre estes temas na academia europeia) é um tratado sobre o imaginário extraterrestre na cultura portuguesa e será lançada em livro dentro em breve, com a chancela da Âncora Editora. Razões mais do que suficientes para falarmos sobre (alegados) universos paralelos, deuses extraterrestres e a mão ET em Fátima.

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VICE: De onde vem o seu interesse nos extraterrestres ou em manifestações mais gerais do desconhecido?

Joaquim Fernandes:

O que sabemos do que nos envolve é uma gota de água num oceano de desconhecimento.

Mas quando é que isso apareceu na sua vida?

Em estudante, comecei a puxar pelas questões ligadas à astronomia e a outros mundos. É uma questão de olhar para o céu. E de leituras. Comecei a ler algumas obras de ficção, artigos de jornal, divulgação de astronomia. Desde logo, reflecti sobre a nossa realidade no todo cósmico, no Espaço infinito, a situação da nossa humanidade, a razão de ser de estarmos aqui, a possibilidade de coabitarmos com outros. Tanto espaço seria um desperdício para apenas uma espécie inteligente. A partir daí, uma leitura cada vez mais atenta e aprofundada dos divulgadores da época. Ainda não se falava muito do Carl Sagan, nem desses iluminados que começaram a partir dos anos 80. A televisão, depois, tornar-se-á muito importante.

Lembra-se do dia em que o homem foi à Lua? O que estava a fazer?

Lembro-me de assistir pela televisão, madrugada dentro, a chegada [à Lua] dos homens da Apollo 11. Foi qualquer coisa de assombroso. A Lua contamina-nos logo. O que será a seguir: Marte, Vénus? Mas, sobretudo, Marte, que é um planeta gémeo, muito semelhante ao nosso.

O bonzinho ET ou o mauzão Alien. De que bicharoco extraterrestre gosta mais?

Não é uma questão de gostar ou desgostar. Em todas eles, projectamos as nossas limitações, defeitos, limites. Por um lado, está o destruidor, que também fomos quando andamos a descobrir o outro, os outros continentes. E o bonzinho é o outro lado do mau. Não conseguimos imaginar nada que não esteja na nossa memória. Só seres excepcionais, por intuição ou algo que nos escapa, conseguem. Com algum esforço, vemos aparecerem noções de entidade alienígenas que já não obedecem ao conceito humanóide — são formas vagas de energia, formas cristalóides, por exemplo. Aliás, isso é um dos aspectos de que falo na minha tese. O padre Inácio Monteiro, o conceito de extraterrestre que ele tem no século XVIII é uma coisa espantosa, para um jesuíta, para um homem da religião.

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O que é que ele diz?

Que, possivelmente, existem seres extraterrestres que nada têm a ver com a génese do Adão, ou seja, com a figura de homem. Para além de ter proferido essa heresia (pensar na existência de outras criaturas que nada têm a ver com a árvore genética do paraíso adâmico), ele consegue imaginar algo que nada terá a ver com isso. É algo espantoso para um homem do século XVIII. Ainda hoje é difícil para muita gente. Seres tipo cristais, ou feitos de silício, ou simples formas de energia que não podemos conceber poderão existir e serem formas de vida altamente inteligentes.

Com tantas hipóteses, faz sentido aquela que Robert Dione aventou: Deus não é sobrenatural, mas um extraterrestre?

Tudo isso que colaciona está na razão directa da nossa incapacidade de imaginarmos um ser supremo fora de um quadro de um ser que se tenha que identificar connosco. Entre o criador e o criado tem de haver um efeito de espelho, o que me parece muito limitativo. Existirão outras realizações biológicas e inteligentes que nada têm a ver com a nossa realização biológica. Isto leva-me a admitir que criámos Deus à nossa imagem e semelhança e não o contrário.

Ao investigar estes temas fica com mais dúvidas?

Pensar num ser capaz de gerar um infinito desta natureza será cada vez mais improvável em termos teológicos — ou então, talvez não [risos].

Pois, ou não. Algo tão complexo existir sem Deus…

O problema da necessidade de um Deus para criar isto tudo. Podemos ir pelo pensamento de Einstein que projectava essa energia inicial no próprio Universo em si. Deu origem a uma nova forma de panteísmo científico: Deus é Universo, Universo é Deus.

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Para complicar mais um bocadinho: existem universos paralelos?

Face à informação que vamos tendo hoje, da física quântica, da exploração das partículas elementares, do célebre bosão de Higgs, tudo isso parece apontar para planos distintos em que a matéria poderá estar a ser organizada e em evolução. Não creio que o estatuto da matéria esteja fechado, a Natureza continua a evoluir.

Aquela tese de que pode haver um outro Joaquim Fernandes algures num universo paralelo faz algum sentido?

Sim, um sósia. Um infinito de possibilidades. Não me espanta nada que haja uma multiplicação de seres que são cópias, como gotas de água, que se multiplicam ao longo desses mundos paralelos.

Qual foi o caso mais fixe de OVNIs em Portugal?

O famoso caso da Ota, com três pilotos da Força Aérea Portuguesa. É um caso em pleno dia, um objecto oval e metálico que é seguido por dois aviões de treino. Até à data não foi possível identificar o objecto. Desapareceu depois de muitas manobras evasivas, quase que desafiando os dois aviões — coitados, eram aviões de treino. A hipótese mais plausível era ser uma sonda telecomandada. A natureza e a origem é que não conseguimos identificar…

Somos visitados regularmente por extraterrestres?

É uma possibilidade. Não tenho nenhuma prova cabal de que somos visitados regularmente por artefactos extraterrestres, mas abro essa possibilidade. Em algum momento, o contacto entre a nossa cultura e uma cultura alheia será inevitável. O problema será a comunicação. Em termos filosóficos, é fácil perceber que a comunicação é mais ou menos óbvia entre seres da mesma ontologia, não o é se são de naturezas completamente distintas. Por exemplo: um ser com base no carbono como nós terá muitas dificuldades em contactar com um ser feito à base do silício, um cristalóide qualquer inteligente que nem sequer se exprime por uma linguagem verbal. Mas nunca deixará de ser um grande momento da história do sapien sapiens: esse encontro será o momento mais importante da nossa história como espécie.

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Houve mão extraterrestre em Fátima?

Por que é que seria obrigatório pensar que essa representação teria alguma coisa a ver com Maria de Nazaré, mãe de Cristo? Nada naqueles apontamentos, nos questionários e nas respostas dos pequenos pastores, leva a crer que aquela entidade que possivelmente apareceu ali fosse uma cópia da Maria de Nazaré, mãe de Cristo. Antes pelo contrário. Os problemas do foro científico foram deixados de lado e quem é que avançou? A Igreja Católica, que aproveitou para recuperar terreno que tinha sido perdido pelas dificuldades que a República lhe tinha imposto. O que são as memórias da irmã Lúcia? Uma colectânea de recordações e de colações tardias daquilo que vai ser toda a sua educação conventual.

Que, pelo que argumenta, não coincidem com os primeiros relatos.

Já são adulterações. Ela foi aculturada ao longo de muitos anos.

Houve aparições semelhantes ao longo da história portuguesa?

Sim, mesmo na zona de Fátima houve vários casos, nos séculos XIV, XV, XVI.

Seriam extraterrestres?

Ou manifestações energéticas. As próprias energias telúricas poderão ter induzido imagens no cérebro das crianças. Se for apanhado por uma irradiação electromagnética tal é capaz de influenciar as suas representações a nível mental.