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Os linchamentos no Brasil não são novidade, a diferença é que agora existe o smartphone

A justiça com as próprias mãos não é nenhuma novidade, você só está logado no Facebook.

Alailton Ferreira, 17 anos, foi espancado pela população de Vista Serra II, Espírito Santo. O jovem supostamente cometeu três estupros na região e, segundo uma das pessoas que estava presente no linchamento, ele também era ladrão. A façanha foi registrada na íntegra por um celular, que mostrou mais de 30 pessoas o agredindo. Alailton não resistiu aos ferimentos e morreu antes de receber cuidados médicos.

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Um jovem que roubava bicicletas na região do Flamengo teve suas roupas arrancadas, levou uma facada na orelha e foi preso em um poste por um grupo de justiceiros. Segundo informações, o jovem roubava bicicletas na região do Flamengo. A foto do adolescente preso no poste foi divulgada em diversos veículos e em diversas postagens nas redes sociais.

Um suspeito de ter assaltado uma casa foi amarrado e jogado em cima de um formigueiro no Piauí. No vídeo, é possível ouvir os gritos de dor do homem e as vozes dos linchadores exclamando “Agora tu lembra de Deus, é?”

Em julho de 2012, os moradores do bairro Maria Ortiz em Vitoria (ES) se juntaram para assistir ao linchamento de um homem acusado de roubo. O vídeo mostra o homem sendo encurralado e espancado pelos moradores. Por pouco não saiu vivo.

Um vídeo que circulou nas redes sociais mostra a jovem Nayla Gabriela, grávida de 5 meses, espancando outra adolescente. A garota de Suzano foi espancada por seis horas seguidas e teve o seu cabelo cortado por Nayla. O motivo: ciúmes. O namorado de Nayla estava supostamente paquerando a jovem agredida. O vídeo foi retirado do ar.

Casos de linchamento já existiam antes mesmo de o termo ser formalizado nos EUA no século XVI. São situações nas quais um clamor coletivo é gerado por homens, mulheres e crianças sem nenhuma relação entre si, que se reúnem para punir com as próprias mãos um indivíduo que cometeu um crime ou qualquer ato antissocial.

Em uma entrevista dada para o Estadão, o sociólogo José de Souza Martins estima que, possivelmente, o Brasil é um dos países onde há mais casos de linchamento — são 500 mil brasileiros que já atuaram como linchadores. E o mais comum é acontecer em regiões pobres, onde a falta de confiança na polícia e no sistema judiciário é muito mais aparente.

Não é que se lincha mais ou menos no Brasil, agora só é mais fácil conseguir visualizar esses surtos. Um celular na mão e a raiva na cabeça nos mostram isso, afinal, todos os casos mencionados anteriormente foram registrados de alguma forma na internet. Difícil mesmo é conseguir saber como o Estado, em sua posição de fiscalizador da ordem social, pune agressões, homicídios e humilhações abastecidos pela sede de vingança.

O problema também é que o brasileiro, e talvez até mesmo o próprio Estado, simpatiza com o linchamento, visto que poucos dos casos de agressões são registrados nas delegacias. Eu mesma, na época em que estagiei na área do direito penal, percebi que grande parte dos casos de linchamento que resultam em morte acabam na absolvição dos réus pelo júri popular. A sensação de fazer justiça com as próprias mãos vai além de garantir a paz, também porque mais gente do que você pensa sente certo prazer na violência. E isso não é novidade nenhuma, você só está logado no Facebook.

Siga a Marie Declercq no Twitter: @marieisbored