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O Líder do Boko Haram Confessou: "Eu Sequestrei as Garotas Nigerianas"

Eles divulgaram um vídeo dizendo o que todo mundo já sabia: o grupo está por trás do sequestro em massa que desencadeou protestos na Nigéria e no mundo.

Três semanas depois que mais de 300 estudantes foram sequestradas de uma escola em Chibok, no norte da Nigéria – aproximadamente 276 delas permanecem em cativeiro – um líder do Boko Haram divulgou um vídeo dizendo o que todo mundo já sabia: o grupo está por trás do sequestro em massa que desencadeou protestos na Nigéria e no mundo.

Abubakar Shekau, um dos líderes do grupo islâmico do nordeste da Nigéria, mas que vem executando cada vez mais ataques à capital, Abuja, assumiu a responsabilidade pelo sequestro em 14 de abril num vídeo de quase uma hora, obtido primeiramente pela Agence France-Press.

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No vídeo completo e borrado a seguir, Shekau fala numa mistura de haúça, árabe e inglês, com homens armados e mascarados atrás de si.

A filmagem inclui um longo discurso contra a educação ocidental – o alvo do grupo, que ataca escolas regularmente e cujo nome pode ser traduzido como “Educação ocidental é proibida”.

“Eu sequestro uma garota numa escola de educação ocidental e vocês ficam perturbados. Eu digo que a educação ocidental deve terminar. A educação ocidental deve terminar”, diz Shekau no vídeo, de acordo com a tradução da AFP. “As garotas devem se casar.”

“Vou vendê-las no mercado por Alá”, acrescentou Shekau, afirmando que o grupo está mantendo as garotas como “escravas”. “Vou me casar com uma mulher de 12 anos. Vou me casar com uma menina de nove.”

Informações não confirmadas que surgiram na semana passada afirmavam que as garotas tiveram que se casar com os militantes que as sequestraram – alguns moradores locais disseram que as vítimas foram vendidas como esposas por 2.000 nairas cada (cerca de R$28), e mais tarde enviadas para o outro lado do Lago Chade, para os vizinhos Chade e Camarões.

Num discurso desconexo, Shekau pareceu confirmar alguns desses medos.

“O que vocês sabem sobre direitos humanos?”, ele diz em inglês. “Vocês reivindicam direitos humanos, mas não sabem o que é isso.”

“Isso é típico de Shekau, ele está lendo um roteiro e parece falar de maneira desorganizada, mas a mensagem é a mesma: justificar todas as formas de violência em nome do Islã e seguir com suas ameaças de sequestrar e vender garotas, o que ele começou a fazer em 2012”, disse Jacob Zenn, analista de Assuntos Africanos da Jamestown Foundation e especialista no Boko Haram, à VICE News. “Além disso, o tanque no fundo, que agora é uma aparição comum nos vídeos de Shekau, tem a intenção de mostrar a força do grupo e desmoralizar o exército, que teve tanques, veículos 4x4 e armas saqueadas de seus arsenais pelo Boko Haram.”

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O desaparecimento das garotas espalhou protestos inflamados na Nigéria – multidões tomaram as ruas de Abuja para criticar a inação do governo no caso.

Depois de críticas crescentes a seu silêncio, o presidente Goodluck Jonathan finalmente comentou o sequestro no domingo passado, prometendo que o governo vai encontrar as garotas e devolvê-las às famílias.

Mas agora é um pouco tarde, já que a esposa do próprio Jonathan – a primeira-dama não oficial Patience Jonathan – foi acusada pelos manifestantes de ter negado que o sequestro tivesse sequer acontecido.

Saratu Angus Ndirpaya, uma das organizadoras dos protestos da última semana em Abuja, disse à Associated Press que Patience acusou ela e outra organizadora de fabricar os sequestros para prejudicar a reputação do presidente.

“Ela disse muitas mentiras, incluindo a que só queríamos que o governo nigeriano ficasse com o nome sujo, que não queríamos apoiar o governo do marido dela”, disse Ndirpaya depois de uma reunião na vila presidencial em Abuja. “Eles disseram que éramos do Boko Haram, que Nyadar é parte do Boko Haram.”

Naomi Mutah Nyadar, a segunda organizadora, foi presa depois que as duas saíram da reunião. Ela foi liberada na segunda-feira, de acordo com a polícia.

“Ninguém do governo falou conosco como uma comunidade. Viemos aqui expressar nosso descontentamento”, disse Nyadar num protesto na semana passada. “Queremos que o governo resgate nossas filhas das mãos dos sequestradores.”

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Um porta-voz da primeira-dama disse à AP que “a primeira-dama não ordenou a prisão de ninguém”, mas um jornal local a citou dizendo que as mulheres nigerianas deveriam parar de protestar, alertando que “se alguma coisa acontecer durante os protestos, a culpa é delas mesmas”.

“Ela deve ter perdido o contato com a realidade da situação terrível no nordeste da Nigéria, ao contemplar somente a vista da vila presidencial”, disse Zenn, referindo-se à primeira-dama. “E ela também deveria se preocupar que o incidente prejudique a candidatura de seu marido nas eleições de fevereiro de 2015.”

Mas mesmo depois das ameaças da primeira-dama, os nigerianos continuam a demonstrar sua frustração com o governo no caso e se organizam nas redes sociais através da hashtag #bringbackourgirls.

O vídeo abaixo mostra um protesto em Lagos na segunda-feira. Manifestações em solidariedade às garotas sequestradas também aconteceram em Londres.

Siga a Alice Speri no Twitter: @alicesperi.