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Música

O Cara que Produziu "Informer", do Snow, Faz Bolhas de Sabão no Madison Square Park

Mesmo tendo ficado um tanto amargurado por ter sido fodido no acordo de pagamento de royalties, ele vê um futuro brilhante à frente e é grato por ter conseguido superar seus demônios.

Você provavelmente já ouviu a música “Informer” do Snow, mesmo que não saiba. Um dancehall chiclete do começo dos anos 1990 com uma mensagem “anticagueta”, “Informer” passou sete semanas inteiras em primeiro lugar na parada de singles da Billboard em 1993, se tornando o maior single de reggae de todos os tempos. O disco de onde a música saiu, 12 Inches of Snow, ganhou disco de platina. O que fazia a música ser tão diferente não era o som, que pode ser comparado com outras faixas da mesma época, como “Here Comes the Hotstepper” de Ini Kamoze, mas porque ela era cantada em patoá jamaicano por um cara branco do Canadá com um corte de cabelo estilo George Michael. No alto de sua popularidade, “Informer” foi um fenômeno cultural tão grande que seu clipe foi parodiado por Jim Carrey como “Imposter”, quando ele ainda fazia o In Living Color. A música “Fake Patois”, do Das Racist, dedicada ao fenômeno de cantores americanos que tentam soar como se fossem de Kingston, tem os seguintes versos: “My man Snow had a fake patois / Even Jim Carrey fuck with the patois” (“Meu amigo Snow tinha um falso patoá / Até o Jim Carrey zoou com o patoá”), em referência à música e à paródia dela. O uso do passado em “had a fake patois” dá uma boa ideia do que aconteceu com Snow e sua consciência coletiva: ele desapareceu.

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Mas o que quase ninguém percebeu é que aquele disco do Snow (o único que realmente importa) foi produzido principalmente por um homem chamado Edmond Leary. Apesar da produção principal ser creditada ao lendário rapper de Queensbridge, MC Shan, Leary é listado como coprodutor e co-compositor, e afirma ter feito a maior parte do trabalho. Infelizmente, a relação entre Snow e Leary não rendeu mais nenhum hit e, nos últimos 20 anos, Leary lutou contra o vício em crack e com a mendicância, mas continuou fazendo música e esperando reviver alguns de seus sucessos do passado. Ele também ficou famoso como “O Homem das Bolhas”, fazendo bolhas de sabão gigantes para crianças no Madison Square Park e na Union Square.

Conheci Leary, que prefere ser chamado de Ed, num pátio na 28th Street na esquina do meu antigo trabalho temporário. Eu costumava conversar com algumas das pessoas que ficavam por ali, principalmente camelôs africanos que vendiam bolsas falsas e outros contrabando na Broadway. Eventualmente fiz amizade com o Ed, que mora em Prince George, um hotel antigo usado agora como habitação social sem fins lucrativos. Uma das primeiras coisas que percebi nele foi seu otimismo infinito – mesmo tendo ficado um tanto amargurado por ter sido fodido no acordo de pagamento de royalties, ele vê um futuro brilhante à frente e é grato por ter conseguido superar seus demônios e levar uma vida relativamente confortável. Outra coisa que me surpreendeu logo de cara foi sua habilidade narrativa natural – ele ficou contente em falar dos seus dias de “Informer” e fez piadas sobre trabalhar com Snow. Conversei com ele em seu pequeno apartamento com vista para o pátio onde nos conhecemos. Com uma história tão cheia de bravata quanto de gratidão, autopromoção e humildade, ele não ficou sem palavras nenhuma vez.

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VICE: Onde você nasceu? Como você se envolveu com música a princípio?
Edmond Leary: Nasci em North Babylon, Long Island. Eu sempre estive envolvido com música. Meu pai era um grande colecionador de jazz, eu costumava ouvir os discos dele. Toquei bateria na escola primária e comecei daí. Peguei a guitarra aos dez anos e, um ano depois, passei para o baixo. Cresci em North Babylon com uma banda, alguns garotos da minha cidade, e a gente tocava, sabe? Fizemos apoio para várias bandas.

Fale sobre suas primeiras batidas.
Bom, eu tive a coisa da banda por um tempo e costumava tocar piano em casa. Eu e meu parceiro Dwayne costumávamos inventar umas músicas. Mas eu não tinha a abertura para lançar minhas próprias coisas, a não ser fazendo algumas festas e trabalhando com um grupo que formei com alguns amigos em 1987. Na verdade, não consegui uma abertura na indústria até 1993. Então de 1986 até 1991, eu só fazia batidas com o Mike Greer, que também trabalhou no disco Informer. Eu tinha um trabalho comum com o meu pai na empresa de telefonia de Nova York fazendo manutenção, e meu amigo Michael Greer acabou encontrando um artista de rap – um dos seus irmãos – e as apresentações foram feitas. Foi assim que me envolvi com a indústria. Esse cara era o MC Shan.

Você conheceu o Snow através do MC Shan?
É, costumávamos ir para a Jamaica Avenue e um dia conhecemos uns irmãos jamaicanos, o pai deles tinha um estúdio na Jamaica Avenue com a 168th Street. Íamos sempre lá e, um dia, apareceu esse moleque chamado Marvin Prince. Ele simplesmente chegou pra gente e disse: “Ei, você é o MC Shan, eu te conheço. Olha, tem esse cara branco, o nome dele é Snow. Darrin O'Brien. Ele é bom mesmo, estou tentando envolver ele aqui”. Então, alguns dias depois, o Snow apareceu por lá. Fez o que tinha que fazer, veio para Nova York. Isso provavelmente foi em… Estamos falando de 1992. Levou mais ou menos um ano para gravar o disco.

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Qual foi a primeira impressão que você teve do Snow?
Ele era um cara branco irlandês do Canadá que tinha sido exposto à cultura jamaicana. Ele definitivamente era um garoto talentoso. Ele cantou algumas músicas… Naquela época “I Wanna Sex You Up” era quente – ele cantou essa e algumas outras músicas. Depois ele cantou “Informer”. Essa era a música dele. Foi ele que compôs “Informer”. Ele cantou um pedaço dela pra gente e outra que ele cantou foi “Lady with a Red Dress On”. Essa também era um dos singles do disco. E, você sabe, eu tenho um bom ouvido para música. Nunca soube ler música, só toco de ouvido. Então fiquei com aquela melodia na cabeça e fui para casa e montei a música. A maioria das letras para essas músicas. Trabalhamos com ele por algumas semanas até que o dinheiro acabou. Ele teve que voltar para o Canadá. Depois que ele fez esse corre, seu próximo assalto ou seja lá o que ele fazia na época – porque ele roubava lojas para revender os produtos na rua, era isso que ele fazia –, acabou voltando.

Ele roubava?
Era isso que ele fazia. Naquela época ele roubava lojas, sabe? Roupas e coisas assim. Ele fez esse negócio e voltou para cá – ele ficou um mês lá e nós montamos o disco. Eu já estava trabalhando sozinho em várias faixas diferentes e, enquanto isso tomava forma, eu cantava um pedaço para o Shan, assim de cabeça, e ele dizia: “É, Ak*, escreve isso aí”. Então, se você quer saber a verdade, se tivéssemos separado igualmente o dinheiro, eu teria que receber 70% dos royalties de composição daquele álbum, porque escrevi a maior parte do disco. A maioria das palavras é minha, além das ideias de estrutura e fundo. Na cabine de gravação de voz eu fiquei do lado dele dizendo em que nota ele devia cantar as harmonias. Então eu tive muito a ver com esse som que se tornou tão popular e ganhou o disco de platina.

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E você ganhou os créditos de coprodução e co-composição?
É, eu tinha um problema com isso, já que eu fiz a maior parte. Acho que tinha que ter levado dois pontos [da percentagem] naquele disco, mas eles me fizeram dividir com o engenheiro que fez uma faixa. A principal queixa que eu tenho foi meu crédito do teclado. Olha, naquela época o Teddy Riley e todo aquele pessoal eram populares, e todo mundo sabia quem tocava o teclado, quem realmente tinha tocado tal parte. Mas eles me tiraram isso e me deram o crédito de coprodução. “Teclado” teria dito tudo, teria deixado o disco certo. Mas a vontade de Deus é do jeito que é, e isso aconteceu por uma razão. Acabamos tudo em maio de 1992, mais ou menos, e na noite em que terminamos a última faixa, no dia seguinte ele foi preso no Canadá. Ele pegou oito meses.

Foi por assalto?
Ele e o tio dele estavam juntos, pelo menos como ele conta, e uns caras tentaram pegar ele. Eles estavam em menor número e você precisa se defender, então ele pegou a primeira coisa que viu na frente e fez o que tinha que fazer. Ele foi preso por tentativa de homicídio.

O que ele pegou?
Um pé de cabra ou algo assim, para afastar aqueles caras. Quer dizer, você está com seu tio e seu garoto e tem uns sete ou dez caras. É legítima defesa, sabe? Ele cumpriu a pena, mas o mais irônico foi que o clipe dele estourou quando ele ainda estava na cadeia. Em 19 de janeiro. Acabou de passar – 19 de janeiro foi o aniversário de 20 anos da introdução de Snow no set de “Informer”. Ele estava na cadeia na época e os caras lá realmente enchiam o saco dele: “Ei, cara, é você ali na TV? Como você acabou aqui?”. Então ele teve um gostinho de como era ser famoso antes mesmo de pisar fora da cadeia.

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Então o Snow cresceu junto com imigrantes jamaicanos?
Marvin Prince é a chave aqui na verdade. Acho que é minha obrigação na vida dar crédito a quem não levou nenhum. Foi por causa de Marvin Prince, o melhor amigo dele. Ele apresentava o Snow pros amigos diferentes e eles faziam dubplates. E, sabe, Snow foi exposto a muitas coisas diferentes, ele ouviu muitas coisas. Então o estilo dele é, na verdade, o estilo de um monte de outras pessoas. Desde então ele se desenvolveu em outra coisa. Espero me conectar com ele de novo e trazer ele de volta ao básico. Vamos voltar para o começo do que você faz: R&B, hip hop e rap. Cantando um pouco também – ele é um cantor muito decente –, mas ele perdeu os elementos de hip hop, R&B e reggae, porque deixa eu te explicar uma coisa: o Snow era o Eminem do reggae, e ele continua sendo do Eminem do reggae quando faz o que sabe fazer melhor. Tenho algumas faixas que vou enviar para o álbum novo dele. Eu vou fornecer a prova – eles podem ver quem fez o quê. Você pode ver as faixas do álbum de todo mundo, não está em lugar nenhum. Eles não fizeram nada. Pessoas com problemas financeiros. A mentira nunca pode ser verdade, sabe? Então, sim, ele cresceu com um monte de pessoas e Marvin Prince foi quem deu o nome de Snow para ele, que significa “Super Notorious Outrageous Whiteboy”: SNOW. Foi assim que ele conseguiu o nome. Marvin Prince teve muito a ver com o Snow estourar. Foi a chave para ele.

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E o que o Marvin Prince fez?
Marvin Prince, na verdade, fez, pelo que ele processou e, se eu estivesse lá – infelizmente eu estava encarcerado na época –, Marvin Prince realmente fez “Runway”, que é uma faixa do álbum. Na verdade é a primeira faixa, se me lembro bem. “Runway” foi a contribuição do Marvin Prince. Ele tentou processar por causa disso e eu posso testemunhar que o Marvin realmente fez aquela faixa. Ele realmente produziu aquela faixa e trouxe isso para mim. Eu fui um veículo para muita gente entrar.

Então a letra de “Informer” é principalmente sua?
Não. “Informer” foi a única faixa lá que não escrevi. Era a faixa do Snow e era sobre o incidente que fez ele ser preso e a experiência pela qual ele passou. As pessoas não sabem disso. Na verdade, essa foi a primeira vez que a MTV teve que colocar legendas no clipe para as pessoas entenderem que ele não estava só balbuciando umas palavras – ele estava contando a história de como ele foi preso.

Mas quando ele gravou isso ele ainda não tinha sido preso.
Não, mas ele já estava sendo julgado por isso. Isso já tinha acontecido, então a história era sobre isso.

Então é a história sobre como deduraram ele.
É, tudo o que ele está dizendo é que ele teve que se defender, se proteger. Ele não estava errado, é isso que ele estava dizendo.

Você sabia que a música ia ser um grande single quando foi gravada? Quais eram suas expectativas?
É, “Informer” era a principal conexão, sabe? Na verdade, na época eu não tinha onde morar em Babylon, Long Island, por causa de abuso de substâncias e tal, então eu costumava frequentar um bar, o Stillman's, em Babylon, e lá eu ouvia a música “Mama Say” do disco do Stevie Ray Vaughn, e ela tinha uma quebra de bateria muito distinta de hip hop. Eu costumava ir a esse bar e escutar aquilo o tempo inteiro, tipo [faz uma cara torta]. Sim, a gente já sabia de ver as pessoas da Jamaica Avenue que esse moleque era definitivamente de verdade.

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Como você se sentiu quando a música estourou? Quando você ficou sabendo que ela era um sucesso?
Assim que isso chegou na cena foi uma loucura, todo mundo queria saber o que aquele cara estava falando. Era a letra que eles realmente não entendiam, então as pessoas caíram em cima. “Do que ele está falando?” Aí a MTV colocou as legendas e as pessoas entenderam a história. Foi um negócio grande. Era muito sugestivo, sabe? Aquela coisa “Licky boom boom down”. Só a faixa mesmo, no geral. Eu não esperava que ficasse tão pop.

Você foi pago?
Bom, a coisa toda foi que… Eu sempre falo da vontade de Deus e que certas coisas tinham que acontecer. Como eu disse, eu tinha um problema com o vício – abuso de substâncias e álcool naquela época –, foi isso que percebi quando fui passado para trás no acordo. Sem saber nada da indústria da música, esse artista realmente roubou meu dinheiro, basicamente. E eu percebi que Deus fez algo por mim que eu não conseguiria fazer por mim mesmo, porque eu não precisava de um vício de um milhão de dólares, entende o que eu digo? Cocaína, crack, todas essas coisas. Álcool. Eu não precisava de nada daquele dinheiro. Então acabei ficando com o [crédito] de compositor – dividimos o compositor em três partes, então eu peguei compositor nesse dia, mas não peguei edição.

Foi aí que você viu que precisava mudar de vida e foi para a reabilitação?
Isso foi logo depois que o dinheiro acabou. Eu sabia que precisava ir. Mal sabia eu que iria lutar com isso por muitos anos depois, entrando e saindo de abrigos e toda a dificuldade que passei. Mas eu sei uma coisa com certeza: depois da tribulação, vem o alívio, então você tem que passar por algo para conseguir algo. Nessa época eu tinha vindo para a cidade depois de sair da cadeia. Era 2000. Entrei num programa e comecei a colocar minha vida em ordem.

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Por que você foi preso?
Fui parar na cadeia por causa de uma venda. Quando você está comprando alguma coisa para alguém e dá isso para eles e eles são policiais, você é pego. Você é o intermediário, mas é preso porque o dinheiro está nas suas mãos e a droga veio das mãos de um policial.

Era crack?
Na verdade era crack, cocaína, é.

Como você começou a fazer bolhas de sabão?
Em 2008, eu estava passando por um programa no Upper East Side e uma garota chamada Amy Connelly acabou me perguntando se eu queria um emprego, então trabalhei lá ajudando os sem-teto até o ano passado. Eu era o coordenador de vestimentas no último ano que estive lá. Eu ajudava os sem-teto com roupas e trabalhava lá ganhando um salário. Como também já fui sem-teto, sei o que essas pessoas passam, então eu estava lá para ajudá-los e me certificar de que eles tinham tudo o que precisavam. As bênçãos começaram a vir daí, porque quando você faz o bem, você recebe o bem. Acabei perdendo esse emprego ano passado, porque você tem coração e, às vezes, precisa fazer mais e seu chefe não concorda. Mas eu tinha conhecido um cara chamado Steven Duncan nas minhas viagens pelo Central Park. O Central Park é uma grande parte da minha vida. Eles têm um salão de festa, um salão de patinação, onde eu era voluntário, e fiquei envolvido nisso por vários anos. O Steven estava fazendo essas bolhas gigantes – um irmão muito humilde. Ele ouviu minha música e, na verdade, era o financiador de um monte de coisas. Quando saí desse emprego ano passado, decidi que era isso que eu queria fazer. Percebi que Deus te tira de um trabalho para colocar em outro, e isso é uma bênção ainda maior, porque agora eu toco mais vidas e são as vidas das crianças. Então eu bolei a frase: “Compartilhe o amor bolha”, e é um fenômeno agora. As crianças vêm, você vê os sorrisos. Você vê os pais refletirem sobre quando eles eram crianças fazendo bolhas de sabão. Então eu conheço todo tipo de pessoas nas minhas festas de bolhas, que é como eu chamo isso. O principal é quando todo mundo termina de fazer suas bolhas e eu coloco todo mundo dentro de uma grande bolha. Essa é a vibração final de compartilhar o amor bolha. É uma coisa linda. O Madison Square Park é minha área principal. Compartilhando o amor bolha.

E qual é a melhor parte de fazer bolhas?
A alegria das crianças, cara. É descer a rua com o meu carrinho, meu balde e meus canudos, e ver uma criança pequena com os pais. E eles olham para mim e sabem naturalmente que tenho algo bom. Quando vejo crianças, isso simplesmente me faz sorrir. Eu adoro criança, cara. Trabalho bem com crianças, e o amor bolha é definitivamente pela alegria delas. É pela comunidade, mas mais pelas crianças, porque elas reagem, me dão um “toca aqui” e sempre querem ficar dentro das bolhas. Isso traz alegria e inspiração para as pessoas na comunidade. As pessoas sempre me dizem: “Ei, eu estava tendo um dia ruim, mas quando vi a bolha do tamanho de uma caminhonete, isso me fez sorrir”. E, sabe, encontro pessoas do mundo todo e as ensino a fazer bolhas de sabão, para elas espalharem o amor bolha. Tento ensinar para todo mundo como fazer o amor bolha. A solução. Espero conseguir apoio do detergente Dawn e vai ficar tudo bem.

*O apelido de Ed, que significa “irmão” em árabe. Ed é muçulmano praticante.

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