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VICE Sports

Uma retrospectiva do revezamento de tocha mais caótico de todos os tempos

A Rio 2016 mal começou e já fez história.

Aqui um caos ordenado. Foto: Agência Brasil

A tocha olímpica teve seu último trajeto na manhã de hoje no Rio de Janeiro – parece que uniu arcebispo, prefeito, guardas, todas as tribos –, e nós sentimos a necessidade de fazer um balanço de tudo que rolou até aqui.

Primeiro, os aspectos técnicos da coisa: nada menos do que 329 cidades receberam o zippão (não sei se vocês sabem, o artefato olímpico é na verdade um enorme isqueiro – 69 cm aberta, 1,5 kg – capaz de acender aquele baseado de um quilo apreendido em 2013 na Califórnia). A tocha desembarcou em Brasília, passou por todas as capitais e por municípios como Morrinhos, Araxá e Sapé. Frequentou ainda Inhotim, conheceu o Pelô, Ilha do Marajó, Cataratas do Iguaçu, Avenida Sumaré – nessa eu colei – e muitos outros pontos turísticos do país.

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Foram mais de 12.000 condutores – muitos com nenhuma noção de equilíbrio, como veremos abaixo –, e o custo médio da infraestrutura por município foi de R$ 20 mil. Há, porém, casos como Brasília, a primeira cidade a receber a chama, que angariou 4,3 milhões de Dilmas/ Temers para desfrutar de atrações como Daniela Mercury e Diogo Nogueira. O Ministério Público instaurou inquérito para investigar os R$ 300 mil gastos em Patos de Minas e cidades como Ipatinga, Betim e Gouveia, também em Minas, desistiram do evento por conta dos gastos.

Ao analisar os números, a tocha olímpica não parece ser uma coisa tão boa assim para um país que anda meio fodido com suas contas. Mas, bem, esse é o propósito das Olimpíadas, né? Gastar muito num espetáculo global que esconde os problemas sociais da cidade que sedia. Podemos dizer que, até agora, o evento cumpriu bem seu papel. Também dá para afirmar que, na passagem da tocha por aqui, houve uma série de episódios históricos que, para o bem ou mal, para a tristeza ou bom humor da nação, marcaram o revezamento de tocha no país como algo único. Vamos a eles.

A TRÁGICA MORTE DA ONÇA JUMA

Interpretada por Cristiana Oliveira, Juma foi uma personagem muito simbólica da televisão brasileira em Pantanal. A moça-selvagem-que-virava-onça era símbolo sexual na TV Manchete no longínquo ano de 1990 (saudade) e foi responsável pelo batismo de uma onça pintada de verdade. Com aproximadamente 9 anos, o felino foi abatido durante a cerimônia em Manaus no dia 20 de junho. No dia seguinte o comitê organizador enviou uma nota pedindo desculpas por "permitir que a tocha fosse exibida ao lado de um animal selvagem acorrentado".

Foto: Ignacio Aronovich

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Não é preciso ser um gênio para saber que não é saudável manter uma onça num local público. O Exército perdeu seu mascote, a passagem da tocha perdeu uma ótima oportunidade de não ter feito besteira e o Brasil escancarou ao mundo que não sabe cuidar de seus animais.

NOVA MODALIDADE: APAGADORES DE TOCHA

Um cara com extintor tentou apagar a chama em Cascavel, no Paraná. Usando a mesma tática, outro rapaz fez a mesma coisa em Joinville, Santa Cataina. Em Maracaju, no Mato Grosso do Sul, um sujeito esperou pacientemente a passagem do foguinho pela Avenida Marechal Deodoro, no centro, e de repente ergueu seu baldinho verde de água e tacou pra cima da comitiva. Em São Mateus, cidade do Espírito Santo que sofre muito com a falta d'água, o protesto foi divino. Em frente a companhia que abastece o município, a SAAE, a tocha simplesmente deu uma brochada. Sim, a tocha apaga às vezes e é normal.

A Rio 2016 já bateu um recorde: nunca se tentou tanto acabar com o fogo olímpico

As tentativas, muitas delas frustradas, transformaram as Olimpíadas do Rio numa recordista logo de cara: nunca se tentou tanto acabar com o fogo olímpico. Em Angra dos Reis, no entanto, o tal fato foi consumado seguido de sequestro do cilindro. O bicho pegou e o evento foi cancelado. A tocha permaneceu na cidade, mas com reforço na segurança.

QUEDAS LIVRES COM A TOCHA NA MÃO

Bom, não achamos maneiro tirar sarro de gente idosa se estabacando no chão, mas contabilizamos um grande número de quedas – algumas como a da Dona Luiza (aquela do Magazine) e a do técnico de natação João Reinaldo Costa Lima Neto, o Nikita, chegaram a causar preocupação em quem estava perto – e alguns pedem para ser lembrados para sempre. Henrique Arcoverde, repórter do Sportv, tentou dar um pulinho meio sem sentido durante a passagem da tocha por Santa Catarina e caiu de bunda. Ele sai desolado, com a cabeça baixa, e é consolado pelos guardas e transeuntes, revelando que somos um povo bem solidário em momentos constrangedores e de crise.

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Também tivemos a primeira narração aérea de uma queda durante passagem de tocha. Trata-se de uma pepita do humor nacional – e um presságio da esculhambação que começava a se formar por todo o país:

O artista plástico Mundano também caiu, mas sua queda foi bem parecida com a bolada que o Seu Barriga toma no Chaves. Beeeeeem fake mesmo. Cédulas de dinheiro, tão falsas quanto o tombo, foram arremessadas em cima dele. No mesmo dia, ele fez um post explicando que era um protesto para mostrar os #‎REAIScampeões‬ nessas Olimpíadas. "O que entendemos por ‪#‎espíritoolímpico ‬é quando nossas atitudes e esforços transcendem a competição e a superação de obstáculos e levam uma mensagem nobre para além do esporte", complementou.

A gente entende que os protestos são válidos, mas, vem cá, pra que as hashtags? E que papo é esse de transcender a competição? Você cavou uma falta, cara.

A SELFIE DA DESGRAÇA

A passagem da chama olímpica foi também um período de contemplação. Foi o momento de revelar o que há de melhor e pior no brasileiro: a zoeira, a esculhambação. É, afinal, o que nos une como nação, como povo. A prova é este vídeo abaixo ocorrido em Osasco.

Um policial militar, de moto, passa a milhão e atropela um guardião da tocha. Na sequência, um tiozinho de camiseta verde para em frente ao caos e saca seu celular. Chamar a ambulância? Não. Acionar um aplicativo que mede batimentos cardíacos? Também não. Tirar uma selfie? Ué, por que não? Ele ainda tenta mais um retrato, mas deve ter ficado tremido porque ele se afasta com o PM ainda recebendo atendimento.

Fica aqui o registro deste dia que deve ter sido loko.

Foto: José Carlos Almeida Cruz/Arquivo pessoal

E que comecem os jogos.