"Rato morde língua de garoto na Vila Galvão" é a manchete que estampa uma das edições do finado e sanguinolento jornal paulistano Notícias Populares. Na foto, três crianças com cara de assustadas e uma mulher (possivelmente a mãe) em meio aos destroços de uma casa. Na lateral da imagem, em letras bem pequenas, o crédito é dado a ele, o gigante David Drew Zingg (1923-2000).
Essa e outras imagens do fotógrafo norte-americano, durante o período em que ele trabalhou no periódico, estão na exposição "David Zingg no Notícias Populares", em cartaz no Museu da Imagem e do Som de São Paulo até o dia 4 de novembro. Com curadoria de Leão Serva, a mostra inédita reúne 35 fotos apresentadas junto com as capas e matérias do NP, que narram a trajetória de Zingg na polêmica publicação "espreme que sai sangue", como ficou conhecido. No ano passado, uma outra faceta da obra do fotógrafo ganhou exposição no IMS, onde está depositado o seu acervo.
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"Meu sonho é trabalhar no Notícias Populares, que tem a melhor edição de fotografia da imprensa brasileira", falou Zingg certa vez a um jornalista. Pelo menos esta é a história que contam. No ano de 1986, o fotógrafo trabalhou por três meses no noticioso. Em cerca de vinte reportagens, cobriu temas que povoaram o jornal com manchetes como "Vive em São Paulo o negro que fala africano", "Lixo e ruas sem asfalto deixam Jardim Peri na pior", "Ciganas invadem a Praça da Sé" e "Falta mais pique pra galera brasileira".
Odair Cabeça de Poeta, o jovem Bené Fonteles, o cantor norte-americano Tony Bennett. Estes foram alguns dos nomes consagrados que posaram para as lentes de Zingg durante sua passagem pelo "NP". A conhecida imagem de Caetano Veloso portando o retrato de João Gilberto ao lado do rosto também foi clicada por ele durante este período.
Zingg construiu uma carreira memorável como repórter e fotógrafo, com passagem por grandes publicações dos EUA como a revista Look (como ele mesmo definiu "uma combinação de O Cruzeiro e Manchete, mas publicada em papel melhor"), Life, Esquire, Vogue, Interview e New York Times. A trajetória de David até este ponto já comporia um currículo parrudo e de respeito, mas ele não parou por aí.
Em 1959, Zingg desembarcou pela primeira vez no Brasil e se encantou com o país. Daí pra frente, o fotógrafo viveria uma história de amor e de registros por aqui. "A música de Tom Jobim foi a alavanca que me impeliu para uma nova vida, na condição de residente permanente no Brasil", declara ele em seu caderno de anotações.
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Por aqui, colaborou com algumas das revistas mais importantes do país como Manchete, Playboy, Claudia, Realidade e Quatro Rodas, e com os principais jornais da época. Tirou o retrato de músicos e personalidades, como João Gilberto, Os Novos Baianos, Chico Buarque, Pixinguinha, Leila Diniz, Elke Maravilha, Vinicius de Moraes e Juscelino Kubitschek. Além de fotografar, Zingg também participou da banda Joelho de Porco, um dos nomes do punk-rock-humor brasileiro e se tornou um conhecido personagem da crônica social da cidade cinza.David Zingg morreu no dia 28 de julho de 2000, em São Paulo.David Zingg no Notícias Populares
Está em cartaz no MIS, em São Paulo, até o dia 4 de novembro.
Visitação: terças a sábados, das 12h às 20h; domingos e feriados, das 11h às 19h (com uma hora de permanência após o fechamento da bilheteria)
Ingresso: R$6 (inteira) e R$3 (meia). Às terças-feiras a entrada é gratuita.
Classificação: 14 anosSiga a VICE Brasil no Facebook, Twitter e Instagram.
Está em cartaz no MIS, em São Paulo, até o dia 4 de novembro.
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