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'Hemp Inc.' é o jogo que quer ajudar na legalização

O ex-desenvolvedor de ‘Call of Duty’ e ‘Tony Hawk’ Danny Hammett lançou esse joguinho gratuito para celular que é tipo o FarmVille da maconha, com participações especiais de Wiz Khalifa e Cheech & Chong.

Screenshots cortesia da autora.

Imagine um videogame que deixa o usuário cultivar e vender maconha, interagir com celebridades fumantes e construir um grande império da cannabis. Mas não precisa só imaginar. Esse jogo já existe. Só não está sendo muito comentado, ainda.

Hemp Inc. é um jogo para celular do HKA Digital Studios, do ex-desenvolvedor de Call of Duty e Tony Hawk Danny Hammett, bem parecido com FarmVille, menos a parte da interatividade com o Facebook e a capacidade de criar seu próprio avatar. Ah, e você só pode cultivar só um produto: maconha, óbvio. O aplicativo gratuito foi lançado discretamente em 26 de abril, oferecendo uma experiência em que os jogadores plantam e vendem 20 tipos de cepas de cannabis, compram propriedades para expandir seu império e interagem com celebridades fãs da erva. As estrelas maconheiras incluem Wiz Khalifa, Snoop Dogg, Willie Nelson, Cheech Marin e Tommy Chong e várias marcas reconhecíveis, como a revista High Times e a organização americana de legalização da maconha NORML.

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Então por que ninguém está falando mais desse jogo que, primeiro, é sobre maconha, e segundo, apresenta tantos rostos famosos, mesmo que em estilo de desenho animado? A resposta é simples: O estúdio queria ter certeza que Hemp Inc. atendesse a demanda dos usuários e construir um mercado em potencial para uma investida maior. O jogo já tem mais de um milhão de downloads, mas Hammett me disse que o marketing precisa ser coordenado com as agendas das celebridades que aparecem nele. Um lançamento oficial deve acontecer no próximo mês, com algumas celebridades promovendo o título nas redes sociais.

O diretor de operações da High Times, Larry Linietsky, diz que a revista foi abordada pelo HKA oito meses atrás. O logo da revista surge quando o aplicativo abre, as edições aparecem nas mãos dos personagens, e há um escritório deles dentro da cidade onde Hemp Inc. se passa. Para a revista — cujo público é de 76% homens e 70% na faixa dos 18 e 34 anos — a parceria fazia sentido.

"É um encaixe natural", diz Linietsky. "Muita gente que frequenta nossos eventos, lê a revista ou entra no site são gamers. Sendo um jogo sobre esse tipo de espaço, eles esperam que algumas marcas conhecidas no meio estejam presentes."

Mas conseguir a participação dessas celebridades teve um custo. As personalidades que aparecem no jogo toparam ajudar a promover o aplicativo em troca de royalties pagos trimestralmente, segundo Hammett. Ele também explicou como esse relacionamento vai ajudar o aplicativo a conseguir mais jogadores, permitindo também que as celebridades tenham acesso a um público com que geralmente não estariam em contato, em vez de simplesmente pregar a descriminalização para sua base de fãs já existente. (Procurei Wiz, Willie e Cheech, mas seus representantes não quiseram comentar a história.)

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Ainda não se sabe se Hemp Inc. vai ser visto como um simples jogo ou como uma glamourização do consumo de maconha. Quem vê a maconha como um vício provavelmente não vai jogar o game, apesar da popularização do movimento de legalização, diz Brian Kelly. Kelly é o vice-presidente da First Harvest Financial, uma empresa de capital privado especializada no mercado da cannabis legal. Ele me disse que empresas ligadas à maconha verão um lucro significativo quando a erva for finalmente legalizada.

"Há um movimento no país pela legalização da maconha", diz Kelly. "Quem nunca jogou o videogame pode achar que estamos glamorizando a droga. Mas acho que já superamos essa ideia. Muita gente acredita que a cannabis deve ser legal. Esse clima já mudou."

Quando Hammett foi abordado para fazer o game, inicialmente ele não se interessou. Seu envolvimento anterior com empresas mainstream mais family-friendly, como Marvel e Activision, o deixou relutante em se envolver. Mas aprendendo mais sobre as leis atuais cercando o consumo de maconha, e seu potencial medicinal, ele viu o jogo como uma oportunidade de passar a mensagem da descriminalização para pessoas fora do público já conscientizado — mas não num estilo "anúncio de utilidade pública".

Apontando o desenvolvimento de tênis de cânhamo temáticos 420 pela Nike e Adidas, e aplicativos da Microsoft que ajudam growers, Hammett diz que não está preocupado com as barreiras da publicidade tradicional, porque acha que a atitude do público para com a substância melhorou. Depois de ver jogos parecidos mas "amadores" sobre cultivo de maconha no mercado, ele percebeu que havia espaço para construir um game mais avançado, algo que poderia colocá-lo no "rush verde", como disseram seus consultores financeiros.

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"Eu disse 'Se vocês querem fazer isso do jeito certo, estou interessado, mas precisamos levantar um capital considerável para fazer um bom jogo'. Se eu pudesse fazer um jogo divertido e converter um gamer para o meu produto, o entretendo como usuário, eu poderia mandar uma mensagem clara sobre as leis arcaicas que cercam o assunto através do jogo."

Hemp Inc. pode acabar se mostrando um força poderosa na legalização da maconha. Ou claro, o aplicativo pode ser um dos milhares que fracassam todo ano num dos seguimentos mais lotados do mercado, os jogos de celular. Seu sucesso vai depender das pessoas que jogarem o game, se viciarem, gastarem com as microtransações internas e garantirem que as celebridades que aparecem nele recebam sua fatia do bolo.

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Tradução: Marina Schnoor

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