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Muito Prazer, René Ricard

René Ricard é um herói semissecreto da arte e cultura norte-americana, principalmente da arte e cultura nova-iorquina do final do século XX.

Estilo Jaclyn Hodes, Modelo René Ricard

                                                                                                                                                   Camisa H&M, gravata borboleta acervo Antonio Calpi René Ricard é um herói semissecreto da arte e cultura norte-americana, principalmente da arte e cultura nova-iorquina do final do século XX. Ele estava lá na Factory, de Andy Warhol, desde os primeiros dias. Algumas pessoas dizem que Ricard praticamente fez o pintor e diretor de cinema Julian Schnabel acontecer. E como se isso não bastasse, acenda umas velas negras, escreva “SAMO” no seu piso com sangue de cabra e peça para o artista plástico Jean-Michel Basquiat uma lista dos primeiros admiradores do seu trabalho. O espírito de Basquiat vai dizer a você que René escreveu o primeiro artigo relevante sobre ele (para a Revista Artforum, em 1981).

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Ricard era daqueles que sacava as coisas antes de qualquer um e sabia como fazer as pessoas entenderem a importância do que estavam vendo. Ele é mais conhecido como poeta e crítico, mas também é artista plástico. Na verdade, vai expor um trabalho novo na Half Gallery, em Manhattan, em poucas semanas.  Vice: O que podemos esperar de sua exposição?
René Ricard: Terá pinturas e desenhos novos. Também tenho algumas colagens, que são pseudo-impressões—imprimi do computador e escrevi nelas. Ficaram boas, bem da virada do século—meados de 1890 ou começo kitsch de 1900. Com o passar do tempo, você fez uma transição do texto para uma poesia mais visual. Como isso aconteceu?
Comecei a adicionar imagens porque sempre gostei de desenhar e pintar. Era difícil encontrar sucatas pintadas com a qualidade certa, que poderiam suportar alguma escrita. Então comecei a fazer as imagens. Infelizmente, as pessoas gostaram do que viram, embora eu prefira bem mais os textos.  O que você acha da poesia de hoje, especialmente em Nova York?
Abomino poesia. Acabei de fazer um sarau com outros poetas que estavam de pé, recitando suas rimas de cor. Até acho isso simpático, mas abominável. Não gosto do que leio na New Yorker. Mas gosto bastante da minha poesia e acho que é por isso que escrevo. De todas as artes, é a que menos entendo. Mas é a que eu pratico mais e é de onde tiro meu sustento. Enfim, sim, gosto do meu trabalho, ele fala comigo. [risos]                                                                                                                                      Camisa H&M, blusa (usada na cabeça) Topman, véu egípcio Parece justo. Melhor do que agir como se tivesse vergonha da própria obra, como muitos outros poetas costumam fazer. 
Soa muito mal porque tenho colegas como Bob Holman que, com certeza, vão odiar ouvir isso, apesar de eu adorar o Bob e o trabalho dele. Mas, nesse ponto, prefiro os meus poemas. Não acho que conseguiria mostrar minha arte sem realmente gostar dela.

E os seu dias como ator? Você toparia atuar novamente?
Ah, eu só participei de um filme que foi exibido naquele festival do Robert Redford. Como chama mesmo? Sundance.
Sim. Muito dos meus amigos são terrivelmente jovens e fazem coisas como “cinema”. E se eles chamam você para participar, o que vai dizer? Que não? Se alguém precisar de um velho em um filme, eu faço. Qual o nome do filme?
You Won’t Miss Me [sem título em português]. Meu amigo Ry Russo-Young que fez e a Stella Schnabel está nele, por isso topei participar. Faço o tio dela. Ela ganhou um prêmio por esse papel—o Geraldine Page Award for Method Acting. Sabe, a Geraldine Page era definitivamente minha atriz preferida e eu conheço todos os filhos dela. Assistir Corações na Penumbra ainda muito jovem me fez virar veado. Geraldine me tornou gay. Ela tinha muito glamour. Você ainda mora no Chelsea Hotel?
Claro, mas não vou contar o número do meu quarto. Por que você vive lá? A energia não pode ser a mesma que a dos anos 60, 70 ou 80.
Porque eles me deixam atrasar o pagamento.                                                       Jaqueta Michael Kors, suéter Topman, chapéu John Derran, relógio Cartier, colar acervo Stella Schnabel Essa é a qualidade mais importante de se encontrar em um locatário.
Com os locatários de verdade, você é despejado quando atrasa alguns dias. Eu tinha um espaço alugado em um dos prédios do complexo World Trade Center e precisava ir lá todo mês pagar o aluguel, eles já queriam me despejar depois de poucos dias de atraso.

Você já pensou em deixar Nova York por um período mais longo?
Você está maluco? Imaginei que você ia dizer algo parecido…
Eu adoro Lisboa, adoro o Marrocos. Mas não sou louco por Paris. No ano passado, fiz uma exposição grande em Londres e eles me trataram superbem. Me deram tudo, menos uma condecoração de Conde. E quanto a essas fotos. Normalmente você não posa desse jeito. Como foi a seção?
Não tenho a mínima idéia. A Mirabelle me pegou de surpresa com um telefonema e, claro, aceitei. Fiquei lisonjeado e o ensaio foi superdivertido. A stylist tinha várias roupas muito doidas para experimentar. Me mandaram as imagens editadas, mas não quis ver, preferi que fosse uma surpresa. Sou muito bicha mesmo. Se não conhecesse a Mirabelle desde que ela nasceu, não teria dado certo.  E você, faça um favor a si mesmo e vá conferir a minha exposição, “The Torturer’s Apprentice,” na Half Gallery. Prometo que vai gostar.