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Como parar de evitar seu saldo bancário quando ele te estressa

Mesmo se você está bem financeiramente, conferir seu extrato do banco pode ser tenso.
Stressed looking young black woman sitting on desk and using computer. Papers and tools, a cup on desk. Tall windows, shelves with folders, office seat on background.
Portishead1 / Getty Images

Se você finalmente atingiu a estabilidade financeira, pode ser uma surpresa quando a mera ideia de conferir seu saldo ainda deixa seu coração disparado e suas mãos suadas. Talvez você faça uma careta quando chega e-mail lembrando que fechou a fatura do cartão, ou recebe os boletos pelo correio, prometendo que vai lidar com tudo isso mais tarde. Racionalmente, você sabe que não está com problemas financeiros, mas não consegue se livrar daquela sensação de frio na barriga quando é hora de encarar tarefas relacionadas com dinheiro.

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Conferir seu saldo pode causar ansiedade e estresse; mesmo pra quem não está com problemas, isso é mais que apenas números numa tela. “Como o dinheiro toca tantos aspectos da nossa vida, projetamos uma quantidade tremenda de significado pessoal nele”, disse Amanda Clayman, terapeuta financeira que trabalhou com a organização de serviços humanos The Actors Fund para formar um programa de terapia comportamental cognitiva (TCG) focado em bem-estar financeiro. “Dinheiro pode representar seu medo de fracasso, não estar no mesmo patamar que um irmão, arrependimento por ter gastado mal, ou frustração com onde a sua vida está.”

E claro, essa tentativa de fuga não é a solução para ansiedade financeira. Essa abordagem “tudo ou nada” para ver seu saldo ou abrir contas depois de semanas ou meses sem conferir, na verdade pode fazer sua ansiedade decolar. Mas esses sentimentos negativos não são uma parte necessária de lidar com finanças pessoais, e especialistas têm várias sugestões e estratégias para chegar a um ponto onde o processo não é tão problemático.

Estresse e ansiedade com dinheiro podem ter raízes profundas que foram plantadas anos atrás. Perpetua Neo, psicóloga especializada em ansiedade e que frequentemente trata pacientes com ansiedade financeira, disse que tipicamente há uma “história” arraigada ligada a estresse extremo cercando finanças. Pode ser algo que a pessoa observou já na infância. Por exemplo, se um pai ou mãe dizia “Estamos ficando sem dinheiro”, ou ficava estressado quando chegavam correspondências do banco, a pessoa pode ter ficado com a impressão que se estressar por causa das finanças é uma parte normal da vida adulta. Experimentar períodos difíceis – como mudar de casa ou trocar de escola – porque um dos pais perdeu o emprego pode fazer a “história” pessoal de alguém com dinheiro ser de perda e escassez. Em outro caso, a ansiedade pode não vir diretamente de problemas financeiros; pode vi de qualquer experiência estressante, como sofrer bullying quando criança.

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“Quando algo ruim aconteceu conosco, nosso mundo de suposições se quebra e começamos a acreditar no pior”, disse Neo. “Nosso cérebro é programado para lembrar e ser afetado por perda.” Basicamente, qualquer coisa traumática – especialmente se aconteceu durante a infância – pode treinar a pessoa para se sentir consistentemente pessimista. Neo foca em ajudar seus pacientes a reescrever essas histórias. Em um caso, ela tinha um paciente cujo pai era o único provedor da família e perdeu o emprego quando o paciente era criança. O paciente observou o medo dos pais toda vez que eles abriram uma correspondência do banco, então a história na cabeça dele era que contas em bancos causavam estresse. Para reenquadrar essa mentalidade, Neo incentivou o paciente a observar a realidade de sua vida adulta de maneira lógica: Ele não estava mais vivendo no passado dos pais, recebia um bom salário e gastava com responsabilidade. Acessando factualmente sua situação presente, ele conseguiu aceitar que sua antiga história tinha “expirado”, e a substituir por uma compreensão mais correta de sua vida, que era dele como um adulto financeiramente estável.

Às vezes, ansiedade financeira vem de grandes mudanças na vida, como trocar de emprego, mudar de cidade ou ter um filho. Uma pessoa pode saber que precisa ajustar como lida com dinheiro, mas o pensamento de realmente fazer isso é avassalador. Clayman recomenda fazer um Plano A, B e C quando pensando nessas mudanças em potencial. “Quando nos sentimos presos e obrigados a fazer uma mudança, nosso cérebro entra no modo luta ou fuga, e fica muito mais difícil gerenciar impulsos rebeldes”, disse Clayman. Ter várias opções vai reforçar seu senso de agência, e você vai se sentir mais no controle de sua situação financeira.

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Clayman diz que seus pacientes muitas vezes descrevem que abordar suas finanças de um jeito intenso faz mais mal que bem: eles entram no site do banco e ficam horas revisando páginas de dados confusos, olhando cada linha de transação, e entram num buraco de coelho “até que desistem, exaustos, apenas para confirmar que essa coisa de dinheiro é tão horrível que eles estavam certos em evitar por tanto tempo”.

Clayman disse que o primeiro objetivo de conferir sua conta no banco pela primeira vez em algum tempo deve ser para juntar informação, não fazer mudanças imediatas. “Qualquer mudança – mesmo mudanças boas – cria uma certa quantidade de estresse associado”, ela explicou. Se você está preocupado com seu orçamento, passe um mês observando seus padrões de gastos. Veja quanto você gasta e o que está comprando. Você gasta quando está entediado, inseguro ou teve um dia ruim? São coisas importantes para observar. “Todo comportamento financeiro deve ser para atender uma necessidade, seja social, emocional ou física”, disse Clayman. “Não podemos mudar comportamentos até e a menos que encontremos outro jeito saudável de atender essas necessidades subjacentes. Tirar um tempo para dar esses passos te coloca no caminho do sucesso.”

Há várias técnicas derivadas de TCG que podem mudar como uma pessoa pensa em dinheiro, estabelecer hábitos e reduzir a ansiedade. Clayman recomenda que quem sente ansiedade sobre finanças pessoais deve estabelecer quanto tempo por semana está disposto a gastar lidando com suas finanças, e ser consistente com isso. Se 30 minutos por semana parece algo fazível, a pessoa deve separar tempo na agenda e tornar isso parte da rotina. Se parece demais, a pessoa pode começar com menos: dedicar 15 minutos por semana para gerenciar sua conta, ou realizar uma tarefa que pareça fácil todo dia, como pagar ou simplesmente ler um boleto. “Não importa com quão pouco você comece”, disse Clayman, o objetivo aqui é começar a desassociar ansiedade e procrastinação.

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Conferir sua conta regularmente em pequenas doses pode te ajudar lentamente a mudar a mentalidade relacionada a isso. “Quanto mais você encara essa questão, mais você ensina seu sistema nervoso – e cérebro – que essa não é uma tarefa assustadora e que você pode fazer isso”, disse Neo.

Clayman disse que há outras maneiras como alguém pode tornar lidar com responsabilidades financeiras algo mais suportável. Um casal que ela tratou definiu um dia da semana para conferir sua conta. Eles levavam seus notebooks para seu café favorito e tomavam chá enquanto revisavam seus gastos. Depois desse “date financeiro”, o casal se recompensava dividindo uma garrafa de vinho e conversando sobre a semana. Outra paciente, que inicialmente teve problemas em manter seu plano, definiu terminar de lidar com suas finanças antes de cada episódio de Game of Thrones. “Recompensas são um jeito ótimo de reforçar progresso e ajudar a se manter consistente”, disse Clayman. “Não precisa ser nada extravagante ou exótico. O aspecto mais importante é que a recompensa seja realmente prazerosa, e associada com seu esforço.”

Ter que lidar com dinheiro sempre será uma parte da vida adulta. “Não deixe a ansiedade te apressar para uma linha de chegada imaginária”, aconselhou Clayman. Em vez disso, encontre uma prática e rotina que te permitam se sentir no controle da sua vida financeira – e se apegue a isso o máximo possível.

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Matéria originalmente publicada na VICE EUA.

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