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Identidade

Como é ser gêmeos idênticos quando você é gay e seu irmão é hétero

Apesar de compartilharem o mesmo DNA e a mesma criação, gêmeos idênticos podem divergir na sexualidade. Pedimos a dois gêmeos de Melbourne para discutir o que essa diferença significa para eles.
Angus e Eric, jovens e fofinhos.

Gêmeos idênticos passam a vida inteira sendo comparados. Eles compartilham DNA duplicado (apesar disso se expressar em genes diferentes), além da mesma criação, então geralmente são indivíduos similares, apesar do esforço deles para serem únicos. E é por isso que eu achava dois amigos meus tão interessantes.

Angus e Eric Woodward são gêmeos idênticos de 28 anos de Melbourne. Eric é gay, Angus é hétero, o que criou um interessante microcosmo de individualismo quando eles chegaram à adolescência. Descobrir a sexualidade é uma jornada para qualquer pessoa, mas talvez mais ainda se você tem um gêmeo que também é seu oposto. Para descobrir como a sexualidade afetou o relacionamento deles, e seu entendimento de si, fiz algumas perguntas para Angus e Eric.

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VICE: Oi, Eric. Vamos começar com como você descobriu sua orientação sexual.
Eric: No primário, lembro vagamente de notar caras e me sentir atraído por eles. Daí lembro que com 8 ou 9 anos, comecei a pensar que isso provavelmente significava que eu era gay. Eu esperava idealmente que não, mas acho que você tem um escolha nesse ponto. Você se ama e não olha para trás, ou faz outra coisa. Então eu decidi me amar. E de qualquer forma, eu podia ser gay. Eu podia ser diferente.

Você já se perguntou como vocês podem ser diferente em algo tão fundamental?
Uma das minhas primeiras teorias é que eu não tinha sido muito exposto a garotas. Frequentei uma escola anglicana só para meninos. E não me entenda mal, eu adorava minha escola, mas eles nunca discutiram homossexualidade de um jeito positivo. Isso nunca foi parte do discurso público, o que para mim significava “é OK se sentir do jeito que você quiser”. Mas eu queria que eles fossem além.

Eric (esquerda) e Angus (direita), um pouco mais velhos.

Angus, como você acha que ser gêmeo afetou sua identidade no geral?
Angus: Bom, como gêmeos somos sempre comparados, e talvez isso tenha nos mandado para caminhos diferentes. Talvez eu tenha respondido a isso sendo um pouco mais bagunceiro. Na verdade, o Eric sempre foi mais maduro que eu. Acho que sempre fui um pouco mais inseguro e queria que as pessoas me achassem legal. E acho mesmo que isso acrescenta ao nosso senso de sexualidade de algum jeito.

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Essas coisas são meio como pensar no argumento de natureza versus ambiente. Eric, como você se sente quando as pessoas aplicam isso a sua sexualidade?
Acho que a ambiente tem um papel, mas acho que isso é muito exagerado. Quando você começa a dizer coisas como “meu pai me abraçava demais” ou “minha mãe me amamentou por tempo demais”, acho um caminho escorregadio. Para mim, um grande momento foi uma aula na faculdade chamada Atração Pelo Mesmo Sexo: De Deus aos Genes. Na palestra ouvimos um geneticista argumentar que os genes explicam a sexualidade, mesmo não havendo algo como um gene gay. Essa foi a primeira vez que ouvi alguém com autoridade dizer “você não tem escolha”.

Depois da aula, perguntei a ele como era possível eu ser gay se meu irmão gêmeo era hétero. Ele explicou que gêmeos idênticos podem acabar com placentas divididas, então cada indivíduo recebe uma quantidade variável de hormônios. Então os indivíduos com uma predisposição genética a uma sexualidade em particular podem ser afetados de maneira diferente. Naquela noite, perguntei para a minha mãe se tivemos placentas separadas, e ela disse que sim. Foi um grande momento para mim.

Angus, como você respondeu quando Eric te contou que era gay?
Bem, e definitivamente fiquei do lado dele. Acho que tínhamos uns 18 anos, e lembro bem daquele dia. Ele me trouxe para o quarto dele e eu disse “você é gay, né?” Fiquei feliz por ele.

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Eric: É, mas na época lembro que pensei “ele só está feliz porque pode ser o hétero”. E aí ele desceu correndo a escada gritando “Mãe, o Eric tem que te contar uma coisa”. Nossos pais não ficaram surpresos. Achei que minha mãe ia me abraçar e chorar, mas não teve nada disso. Meu pai na verdade disse “Não acredito que você pensou que precisávamos ter essa conversa. Não é nada demais”. Reconheço que eles são onde a sociedade deveria estar. Se toda a sociedade fosse como eles, não precisaríamos nos assumir para os nossos pais.

Angus, quando foi a primeira vez que você teve contato com homossexualidade?
Bom, no colegial tinha esse cara que sempre vinha correndo pra mim e pegava no meu pau. Eu achava que ele era um desses esteriótipos de bro, sempre dando tapas na minha bunda como se fosse piada. Era desconfortável, mas eu sempre ria também. Aí, alguns anos depois da escola, o gêmeo mais velho fez ele sair da concha, então acho que ele estava se divertindo mais do que eu pensava.

Eric: Mas esse cara ainda está no armário. E isso me faz pensar quantos caras por aí continuam expressando sua sexualidade através dessa cultura masculina de toque. Para mim, desde bem jovem, sempre me interessei em questionar como gênero é definido. Lembro que quando estava no jardim de infância, eu queria dançar com um vestido. Sei que tive uma conversa com a minha mãe sobre isso. E insisti que eu queria ser alguma coisa diferente.

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Angus: Sempre fomos muito similares mas sempre quisemos ser diferentes. Quando crianças tivemos os mesmos aniversários e tudo mais, mas sempre havia essa rivalidade para ser diferente. De certas maneiras, o fato do Eric ser gay nos ajudou a ser diferentes.

Eric: Somos parecidos em todos os valores centrais, mas também bem diferentes.

Angus: Não sei, cara, acho que somos bem iguais.

Eric: OK, tá bom.

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