FYI.

This story is over 5 years old.

Outros

As câmeras favoritas do Spike Jonze

O lendário fotógrafo e diretor nos mostrou seus aparelhos preferidos para roubar almas.
MS
Traduzido por Marina Schnoor
KW
Como contado a Kevin Wilkins

Esta matéria foi originalmente publicada na VICE US .

Spike Jonze está no negócio de fazer imagens há mais de 30 anos. De fotos de skate a clipes vencedores de prêmios da era dourada do gênero e longas aclamados pela crítica, o primeiro trabalho de Spike sempre foi pegar uma câmera e fornecer o melhor visual possível.

E nesse trabalho, Spike acabou se apaixonando pelas ferramentas: "Câmeras são algo de que posso falar por horas, seja como diretor ou fotógrafo, adoro falar sobre câmeras e acho que, em tudo que fiz, as câmeras sempre foram parte de criar a sensação que estou tentando passar".

Publicidade

Então, falamos com o ícone da nossa atual renascença sobre seus aparelhos de roubar almas preferidos.

Olympus OM1

Minha mãe tinha uma câmera, uma Olympus OM1, que espero que ainda esteja guardada em algum lugar. Quando me mudei para a Califórnia para trabalhar como editor da revista Freestylin', ela deixou eu levar a câmera. Comecei a fotografar chegando lá, e todo mundo, todos os fotógrafos – Windy Osborn, O, Tod Swank, e os fotógrafos que eu conhecia – usavam Nikon com lente olho de peixe 16mm, que eu não podia comprar. Comprei outra lente do tipo pelo correio que era bem legal, mas era uma versão genérica chamada Sigma.

Era com isso que todas as fotos incríveis de skate e BMX eram feitas. E eu pensava "Ah, foi assim que eles fizeram isso". Você podia estar embaixo da manobra e ver a altura que o cara tinha subido, e ainda ver a rampa ou a escadaria, dava para ver de onde ele começou e onde ele ia aterrissar. Mas sim, essas foram as lentes com que comecei… junto com a câmera da minha mãe.

Nikon FM2/Nikon F3

A Windy sempre tinha duas câmeras com ela: uma Nikon FM2 e uma Nikon F3 com motor drive MD-12 que tirava seis quadros por segundo. Fui me envolvendo mais com fotografia e fotografando mais para a revista, então o dono da Wizard Publications, Bob Osborn, me deu o conjunto de câmeras velhas da Windy. Eles compraram um conjunto novo de câmeras para ela, então fiquei com as velhas – duas câmeras e um conjunto completo de lentes. Foi o presente de Natal/jabá da firma mais insano que já ganhei.

A Windy tinha feito umas tiras de couro para as câmeras não caírem no chão, elas ficavam presas no seu pulso. Era muito legal. Parecia artesanato de um hippie de Topanga dos anos 70. Tirei todas as minhas fotos de skate e BMX com essas câmeras.

Publicidade

Quando tinha 19 anos, comecei a trabalhar para a TransWorld do Grant [Brittain]. Mandei um punhado de fotos para ele e me tornei um fotógrafo colaborador. Emplaquei algumas capas na TransWorld e algumas entrevistas Pro Spotlight: Ray Barbee, Ed Templeton, Jason Lee, Jeremy Kline. E, claro, um monte de fotos do Mark Gonzalez.

Conseguir essas câmeras abriu muitas possibilidades para mim. De repente eu tinha uma lente telefoto, tinha uma 80 a 200, então eu podia ir além e encontrar enquadramentos e composições diferentes, e podia tirar fotos com flash e sincronizar o flash com o disparador a 250 por segundo. Ah, e eu também tinha um motor drive; então podia fazer sequências. Aprendi muita coisa tendo essas câmeras, mas aprendi principalmente podendo conviver com outros fotógrafos que eu adorava e fazendo muitas perguntas a eles. Especialmente o Grant, que era um professor muito generoso.

Fisher-Price PXL-2000

Eu queria ainda ter essa câmera – a Fisher-Price PXL-2000. Eu e o Lew compramos essa juntos. Queríamos uma câmera de vídeo mas era muito caro, então compramos essa câmera de brinquedo na Toys-R-Us por US$100. Ela fazia umas imagens bem toscas em preto e branca e gravava numa fita cassete de áudio.

Essa era nossa câmera, e a gente fazia vídeos de skate e uns curtas bobos. Conseguimos colocar uma lente olho de peixe nela. Não lembro se fizemos alguma coisa importante com ela além de zoeiras e coisas engraçadas.

Publicidade

Mesmo antes disso, eu curtia muito vídeo e usava câmeras VHS no colegial, mas a gente só estava fazendo palhaçadas mesmo. Se alguém tinha uma câmera de vídeo, eu sempre pedia para usar ou fazia um monte de perguntas sobre ela. Quer dizer, eu não sabia que ia me envolver como me envolvi com vídeo. Eu não sabia o que ia acabar fazendo, mas já gostava de câmeras.

Panasonic Super-VHS/Sony Hi8

Quando [Steve] Rocco começou a World Industries, fotografei o primeiro comercial deles com o motor drive da minha Nikon. Na época, a gente queria que todos as propagandas da World fossem sequências, não fotos únicas, porque o skate estava cada vez mais técnico, e com uma sequência dava para ver como a manobra funcionava.

A empresa tinha tipo um ano, e um dia a gente estava andando de skate e perguntei ao Rocco se ele não queria fazer um vídeo. Ele disse que queria, mas que não tinha tempo e me perguntou se eu faria. E eu disse "Sim, claro". E bem ali, no pico onde estávamos andando de skate, ele me deu o cartão de crédito da empresa e me mandou ir comprar uma câmera. Fui pesquisar câmeras de vídeo e comprei uma Panasonic – tenho quase certeza que foi a Super-VHS – e fiz meu primeiro vídeo de skate para a World, Rubbish Heap. Essa foi minha porta de entrada para o vídeo.

Aí, quando fizemos o vídeo para a Blind [ Video Days], compramos uma segunda câmera – uma Sony Hi8. Para o vídeo da Blind, a gente carregava a câmera numa bolsa que era do tamanho de uma caixa de sapato. Era só jogar a bolsa por cima do ombro e sair pela cidade, e tirar quando achava algo legal para filmar. Acho que foi a primeira vez na história que câmeras de vídeo eram tão pequenas e baratas, e foi isso que nos permitiu fazer os vídeos de skate daquele jeito.

Publicidade

O Mark e eu sempre brigávamos, e um dia a gente estava no carro, começamos a briga, e ele jogou a câmera pela janela. E eu disse "Puta que pariu! Caralho, Mark. Você é muito otário!" Parei o carro, peguei a câmera e ela ainda estava funcionando. Era a câmera do Rocco, mas mesmo assim fiquei puto porque aquela era a câmera com a qual a gente estava tentando fazer um vídeo. Eu não quis mais filmar naquele dia, então fui para casa. Deixei ele lá e levei a câmera.

Canon Scoopic/Arri SR 2

O Mark Gonzalez foi assistir um show do Sonic Youth e, na saída, viu a banda entrando no ônibus deles. Aí ele disse "Oi, gente. Fizemos um vídeo de skate. Vocês querem uma cópia?" E eles disseram "Claro". E ele entregou para eles uma fita do Video Days.

Aí um dia a Kim Gordon deixou uma mensagem na minha secretária eletrônica, perguntando se eu queria filmar um pessoal andando de skate para o clipe deles de "100%". Fiquei louco. Era surreal receber uma mensagem da Kim Gordon. Kim Gordon era uma pessoa de verdade, me ligando de um telefone de verdade. Ela me apresentou a Tamra Davis, a diretora do clipe, e acabei filmando todas as cenas de skate do vídeo, andando com a Tamra e aprendendo com ela.

Foi a primeira vez que filmei usando filme. Usamos câmeras de 16mm com filme – duas delas. A câmera com que filmamos as partes de skate, que era menor, era uma Canon Scoopic. Acho que essa câmera foi feita nos anos 60 ou 70 para amadores mesmo. Supersimples de usar, e muito divertida. Também usamos uma Arri SR2, que era a principal câmera 16mm para clipes na época. Mas eu nunca tinha gravado com filme antes, então a Tamra e o diretor de fotografia dela, Mike Spiller, basicamente me deram um curso relâmpago de como colocar filme e gravar com câmeras 16mm. Todas essas coisas foram como aulas de audiovisual para mim.

Publicidade

Acabei fazendo meus primeiros clipes – como "Cannonball" do Breeders e "Sabotage" dos Beastie Boys – com essas duas câmeras.

No clipe dos Beastie Boys, acabamos quebrando duas câmeras porque estávamos fazendo tudo nós mesmos. No primeiro dia, eu queria fazer uma tomada embaixo d'água, então coloquei a Canon Scoopic num saco Ziploc, entrei na piscina da casa do Mike D, e o Adam Horovitz jogou o [Adam] Yauch na água. A tomada ficou péssima e fora de foco por causa do Ziploc, mas não liguei. Eu disse "Consegui a tomada!" Mas tinha entrado água no saco e fritado a parte eletrônica. Nosso câmera pegou um secador de cabelo, secou a água toda, levou a câmera de volta para a loja de aluguel e disse "Ei, a câmera simplesmente parou de funcionar, vocês podem me dar outra?" E no final do dia, a gente tinha uma câmera nova.

No dia seguinte a gente pegou uma câmera maior – a Arri SR2 – colocamos na frente do capô e começamos a pular por cima do carro. O negócio que mantinha o filme fechado saiu voando. Então a gente estragou essa câmera também.

Sempre vi as câmeras como meios para um fim, não algo precioso. Acho que, pensando agora, é o mesmo jeito como você trata um skate: adoro ganhar um skate novo, mas nunca vou ser cuidadoso com ele. Você o usa para o que ele foi feito – o mesmo vale para uma câmera. Eu pulava na água com ela, colocava no capô de um carro, fazia o que fosse preciso para conseguir a tomada que eu queria.

Publicidade

Steadicam

Enquanto eu me envolvia mais com clipes, comecei a usar câmeras de 35mm. E dependendo da ideia pro vídeo, às vezes eu queria mover a câmera, e o melhor jeito de filmar assim era com uma Steadicam. Não sei operar esse tipo de coisa, então tinha que arranjar um bom operador de Steadicam para ajudar. As boas são superfortes, mas também dão um toque legal de enquadramento e composição.

Usamos uma Steadicam no clipe "Drop" do Pharcyde e no clipe do "Undone – The Sweater Song" do Weezer. Então entrei nessa e quando comecei, também usei guindastes. Na última tomada de "It's Oh So Quiet" da Björk, usamos um caminhão que tinha um guindaste, então ela e o operador da Steadicam entravam embaixo disso enquanto o caminhão puxava o guindaste para cima. Você conseguia umas tomadas fluídas incríveis – indo do close e abrindo para mostrar escadas e corredores, o que você não conseguia fazer com equipamento normal.

Às vezes você vê um novo negócio técnico, um equipamento ou especificação visual, e isso te dá ideias, mas outras vezes você tem uma tomada em mente, e tem que achar um jeito de fazê-la.

Sony DCR-PC5

Nos anos 90 – e no mundo dos videoclipes – havia um certo esnobismo com o vídeo: filme era profissional, vídeo era para amadores. Mas como comecei com vídeos de skate e câmeras de vídeo, sempre adorei esse tipo de equipamento.

Eu tinha uma Sony MiniDV – aquelas retangulares prateadas – onde eu colocava um microfone básico de US$150 e usava para várias coisas. Fizemos assim o clipe do FatBoy Slim "Praise You", onde o pessoal dança na frente de um cinema. Usando aquela câmera, ninguém na multidão sabia o que a gente estava fazendo. Os câmeras pareciam só turistas. Também usei essa para o clipe "What's Up Fatlip?" do Fatlip. A ideia para esse clipe era ir até a casa dele todo dia com a minha câmera, sem equipe, pensar no que filmaríamos, dirigir pela cidade e gravar. E como era em vídeo, enquanto a gente fazia o clipe, fiz várias perguntas para ele e acabei com um documentário espontâneo, também chamado "What's Up Fatlip?"

Publicidade

Também usei essa câmera para gravar toda a primeira temporada de Jackass. Ficou tão modesto, discreto e natural porque essa era a câmera que a gente tinha na mão.

No mesmo verão em que estávamos fazendo a primeira temporada de Jackass, eu também estava filmando um documentário sobre o Al Gore para a campanha dele de 2000, e usei a mesma câmera. Com aquela câmera, eu podia ser uma equipe de filmagem de um homem só. Sempre pulei entre produções maiores com câmeras maiores e equipes maiores para apenas eu e a câmera, dependendo da ideia.

Alexa/DCR-VX1000/Ikonoskop

Outra câmera que venho usando muito ultimamente é a Alexa. É a primeira câmera de cinema digital e gosto muito do visual dela. Filmamos Ela com essa câmera.

Este ano, ajudei na produção e design da turnê do Frank Ocean. A ideia da turnê era fazer grandes show de festival parecerem íntimos e caseiros. Construímos um palco pequeno no meio do público, e o telão que enche o palco principal. Outro cinegrafista e eu tínhamos um punhado de câmeras diferentes no palco, e fazíamos o filme ao vivo do show que você via no telão. Uma das regras que estabelecemos era não ter imagens pré-gravadas no telão, se queríamos ter alguma coisa gráfica, tínhamos que desenhar isso no palco e filmar. Ou se queríamos a silhueta dele na frente de uma tela toda laranja, a gente dava zoom num pedaço de fita laranja no palco e fazíamos dela o foco, para você não conseguir enxergar a textura.

Queríamos ter uma evolução dos visuais durante o curso do show, então cada um de nós tinha quatro câmeras. Uma câmera de vigilância em preto e branco com luz infravermelha. Tínhamos uma Sony VX-1000 – a câmera clássica de vídeos de skate dos anos 90 – e uma câmera digital bem estranha chamada Ikonoskop, que tem uma cor muito específica e densa. E também uma Alexa Mini com lentes anamórficas, que dava um visual bem cinematográfico.

É tudo uma questão de feeling, e a câmera é um meio de conseguir isso. E para aquela turnê, queríamos que a música e os visuais tivessem uma qualidade de coisa caseira, feita pelas pessoas bem na sua frente.

iPhone

Nem sei por onde começar sobre tudo que fiz no iPhone, porque é a câmera que cabe no seu bolso. Fiz um clipe para o Kanye West no meu iPhone alguns anos atrás que ficou ótimo. A música se chama "Only You", e foi escrita do ponto de vista da mãe cantando para ele. Ele tocou a música para mim no estúdio enquanto estava trabalhando nela, e eu adorei. Mas ele fez um clipe para ela que acabou muito pomposo para uma música tão íntima. Ele me mostrou o clipe que tinha feito na quinta, e decidimos fazer outro naquele sábado. Fui para a casa dele com meu iPhone, e filmamos tudo no parque atrás da casa. Era um dia cinza, chuvoso, e filmamos o clipe em uns 45 minutos. O visual é incrível e fiz tudo no iPhone. A equipe era só eu e um amigo segurando um aparelho de som portátil tocando a música. Tudo muito simples. Parecia certo, e o Kanye topa qualquer coisa que pareça certa. Não importa se é grande ou pequena; desde que pareça certa e você sinta essa empolgação, esse barato, você está na direção certa.

Siga a VICE Brasil no Facebook, Twitter e Instagram.