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A semana política, de Dilma ré ao possível retorno de Eduardo Cunha

Russomanno volta à disputa em SP, economia continua patinando e ministros de Temer se embaralham em declarações e nomeações em meio às Olimpíadas.

Enquanto as Olimpíadas rolam, a política nacional também mostra o seu valor. Apesar do escândalo Feliciano, a principal notícia de semana passada foi a transformação da presidente afastada Dilma Rousseff em ré no inquérito sobre o seu impeachment. Considerada pela equipe interina como uma prévia da votação final do impeachment, marcou uma derrota dura para Dilma, que recebeu mais votos contra a sua permanência na presidência do que quando foi votada a admissibilidade do impeachment no Senado. Foram 59 votos a 21, contra 55 a 22 da primeira votação. Dilma e o PT parecem não mais se entender, ainda mais após Rui Falcão, presidente do partido, anunciar que não apoia o plebiscito para novas eleições, cartada final de Dilma na sua tentativa atrapalhada de voltar ao Planalto. Mas pelo jeito, vai ficar por isso mesmo, já que se especula inclusive que a presidente pode deixar o partido uma vez confirmada a sua derrubada.

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Para não dizer que a toalha dela está jogada, a mais recente tentativa internacional de denunciar o impeachment passa por um pedido de parlamentares do PT e PDT à Comissão Interamericana de Direitos Humanos da Organização dos Estados Americanos, pedindo a paralização do impeachment. Mas, apesar de usar a expressão "golpe" no documento, a própria narrativa sobre o golpe vai esfriando, talvez devido à ineficiência. Dilma teria tirado a menção à "golpe" da sua mais recente obra inacabada, a carta aos senadores, enquanto o prefeito petista de São Paulo, Fernando Haddad, candidato à reeleição, foi pego de calças curtas em uma entrevista ao Estadão dizendo que "golpe é uma palavra muito dura", apesar de considerar o impeachment ilegal. A grita na internet, sempre ela, foi grande, rachando a cada vez mais frágil base de apoio do prefeito gatão de meia idade.

Se Dilma se vai, quem pode ficar, olha que incrível, é Eduardo Cunha (PMDB-RJ). Rodrigo Maia (DEM-RJ), novo presidente da Câmara, marcou a data da votação de cassação do deputado investigado por uma série de desvios para o dia 12 de setembro, depois da votação do impeachment de Dilma, numa tentativa de agradar a turma de Temer. A base de apoio a Cunha, capitaneada pelo PMDB de Temer, adorou a notícia, e já se movimenta para esvaziar a sessão que cassaria o ex-presidente da Câmara. São necessários 257 votos para cassar Cunha, e só o PMDB já calcula que 33 dos seus deputados devem faltar à sessão. Parece que, como já havíamos alertado, valeu muito a pena para Cunha renunciar à presidência da Casa. E talvez nem seja só Cunha que fique de boas – já se discute em Brasília uma proposta de anistia ampla, geral e irrestrita (pelo menos é o que o PT espera) para políticos envolvidos na Lava Jato. E a profecia de Jucá se fez como previsto.

A recuperação econômica prometida por Temer levou mais um golpe com a prévia do PIB do segundo trimestre, divulgada na sexta-feira (12), que aponta um recuo de 0,53%, enquanto o BNDES registrou seu primeiro prejuízo desde 2003. As notícias vem no embalo de declarações que o tal "mercado" deve acabar com a lua-de-mel com o governo Temer, especialmente devido às concessões fiscais do Planalto em relação ao aumento de servidores e outras medidas de afrouxamento fiscal – até o todo-poderoso ministro da Fazenda Henrique Meirelles teve que se explicar, no meio de um tiroteio antecipado sobre a sucessão (ou reeleição, como falamos na semana passada) de Temer em 2018. O interino se apressou e chamou gente graúda do dinheiro, incluindo Bradesco, Itaú e Gerdau, para acalmar os ânimos. Só que, enquanto fala fino com a flor do PIB, Temer se cresce para cima do resto da galera, e deve criar uma força tarefa junto com o Ministério da Defesa para "monitorar" os movimentos sociais.

Mas se o interino tem algo a temer é o TSE. Depois de ser criticado pelo pedido de investigação do PT no tribunal, Gilmar Mendes, presidente do TSE, resolveu autorizar a investigação do PMDB e do PP dentro dos mesmos parâmetros sobre corrupção, na esteira da Lava Jato. Se condenados, os partidos podem ser definitivamente extintos, o que não é boa notícia para o novo governo instalado.

O gabinete ministerial de Temer também deu muito pano pra manga durante a semana. Desenvolvimento Agrário, pasta extinta na reforma ministerial para cego ver e Kataguiri apoiar, deve voltar a ter status de ministério em setembro – no final das contas, apenas Ciência e Tecnologia e os ministérios das minorias seguirão engavetados. Já o ministro da Indústria, Comércio Exterior e Serviços, Marcos Pereira, falou que vai jogar a toalha se as tais reformas não forem aprovadas até o meio de 2017. Ricardo Barros, o ministro da Saúde mais brisa errada da história, mandou malzão ao falar que os homens procuram menos os serviços de saúde porque "trabalham mais". A declaração deu tão ruim que ele teve que voltar atrás rapidinho – ganhou puxão de orelha até da filha. Quem também teve que voltar atrás, essa marca característica do governo Temer, foi Sarney Filho, o ministro do Fax, ops, do Meio Ambiente, que nomeou para a superintendência do Ibama em Tocantins um advogado que já confessou um crime ambiental nas redes sociais – e que estaria com "medo" do próprio Ibama. A pressão bateu e Sarneyzinho recuou em 24 horas, exonerado o cidadão. Quem não se fez de rogado ao fazer nomeações polêmicas é José Serra, ministro das Relações Exteriores, que levou para o Itamaraty um PM envolvido no Massacre do Carandiru, que antes ocupava o gabinete do senador. Diferentemente dos colegas de Esplanada, até o momento Serra não voltou atrás. E na terra mágica chamada São Paulo, nada poderia estar mais nos conformes: na CPI da Merenda, deputados do PSDB passaram a semana mais tempo acusando os policiais que investigaram o caso do que investigando o caso em si, limpando, como sempre, a barra do governador Geraldo Alckmin (PSDB), que inclusive comprou 65 trens para a CPTM há quatro anos e deixou pegando poeira até hoje. O tratamento diferenciado para manifestantes de visões políticas opostas também continua de vento em popa. Já nas eleições para a prefeitura da capital paulista o jogo mudou. Celso Russomanno (PRB), líder das pesquisas, porém dado como galinha morta, foi ressuscitado ao ser absolvido de uma acusação de peculato pelo STF que poderia torna-lo inelegível. O apresentador de TV e deputado federal zombou dos partidos que o abandonaram antes do julgamento, enquanto Marta Suplicy (PMDB), sentiu o golpe: "agora ficou mais difícil". Russomanno, que lidera as pesquisas, também vai ser páreo duro para João Dória (PSDB) – se bem que o maior adversário do Riquinho Rico é ele mesmo, que listou o regime racista do "Apartheid" como uma dos suas propostas culturais para a cidade de São Paulo em seu programa de governo divulgado no site do TRE. Para finalizar, deveria vir um parágrafo sobre o caso do deputado federal e aliado de Russomanno Marco Feliciano (PSC-SP), acusado de estupro por uma jornalista e militante de seu partido, mas a fita é tão cabulosa e complicada que merece ser vista na íntegra na nossa cobertura completa – cola lá. Siga a VICE Brasil no Facebook, Twitter e Instagram.