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Fotos

Uma Entrevista com Richard Kern

Nosso fotógrafo de hoje é Richard Kern. Pra acompanhar suas fotos escolhemos esta entrevista que fizemos com ele pra o Vice Photo Book, em 2007.

Nosso fotógrafo de hoje é Richard Kern. Pra acompanhar suas fotos escolhemos esta entrevista que fizemos com ele pra o Vice Photo Book, em 2007.

Quando você começou a fotografar?
Acho que quando eu tinha uns dez anos de idade. Eu montava uns carrinhos de modelismo, arrumava todos eles em mini cenários e fotografava com minha Instamatic. Tirar fotos era muito importante pra mim. Agora meu filho está chegando a essa idade e também está nessa de tirar fotos. Ele anda por aí tirando fotos das coisas. Depois eu comecei a editar fanzines quando estava na faculdade, em boa parte porque queria publicar essas fotos meio surrealistas que andava fazendo. Aí percebi que você fica conhecido muito mais rápido fazendo filmes que fotos -- pelo menos era isso o que eu pensava. Então comecei a fazer filmes e usar minhas fotos pra promovê-los.

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É, aí você fez esses filmes punk cult por anos. Por que parou?
Mais ou menos em 1992 eu perdi o pique. O último que fiz chamava My Nightmare. Era eu fantasiando sobre uma menina que conheço. Nessa época eu fazia muitas fotos, e ficava pensando nessa menina que ia filmar e batendo punheta fantasiando sobre o momento em que ela estaria aqui. Aí ela chega, tento fazer todas essas coisas que imaginei e ela não quer que eu faça nada. O lance do filme era uma desculpa pra eu poder fazer isso com essa menina e só consegui fazer por causa do filme.

Então você conseguiu fazer coisas com a câmera que não conseguia fazer na vida real.
Sim. O mesmo aconteceu com a fotografia.

Entre as garotas que você fotografou, tem alguma favorita?
Não, porque sempre tem gente nova, mas posso listar algumas das favoritas: essa Alisa, por exemplo. Era uma garota russa de 22 anos, uma musicista clássica que estudava na Julliard. Ela acabou entrando pra esse mundo e as fotos dela ficaram super populares, apareceram em milhões de revistas. Eu consegui muitas fotos boas, e ela topava todas as minhas idéias malucas… Só que depois sumiu.

Você também fotografou bastante aquela artista escocesa, a Lucy McKenzie.
Sim, ela gostava muito da Cosey Fanni Tutti do grupo Throbbing Gristle. Isso foi muito interessante pra mim porque, quando eu tinha uns 20, 21 anos, tinha visto umas revistas pornô com a Cosey. Fiquei pasmo: “A mina do Throbbing Gristle tá numa revista pornô!”. A Lucy a descobriu, gostou e começou a fazer a mesma coisa.

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Então vocês estavam fazendo tipo um cover do que a Cosey Fanni Tutti tinha feito?
Só como exercício intelectual, como a própria Cosey tinha feito. Tudo se juntou numa exposição que eu tinha na Inglaterra e fizemos uma mesa redonda com a Lucy, a Cosey e eu.

A Lucy ainda acha de boa essas fotos agora que ela está se tornando uma artista famosa?
Sim, ela nem liga.

Talvez seja diferente porque ela é artista. Mas provavelmente um monte de meninas normais poderia ter a vida arruinada por posarem para fotos pornô.
Ah, com certeza. Mas a vida dessas meninas provavelmente será arruinada independentemente de fazerem isso ou não.

O mercado pornô é foda.
E ficou mais pesado ainda. Agentes me mandam fotos de modelos todos os dias, e é tipo: “Ela faz penetração dupla, engole, leva na cara, cream pie, snowball, interracial, anal duplo, vaginal duplo”. E depois algo mais pessoal e bizarro como restrição a cócegas. Aí você vai ver a idade: “18 anos”.

E antes costumavam dizer só se fazia anal ou não.
Sim, e isso seria uma coisa que você faria depois de já estar nessa há um tempo, depois de ter acabado com todas as opções. Aí dava pra voltar atrás e fazer isso. Mas agora elas já começam por aí. Eu fotografei uma menina de 18 anos que me disse: “Fiz meu primeiro gangbang anal interracial ontem”.

Meu Deus, quantos anos tinha o cu dela?
Foi o que eu quis perguntar: “Posso ver se seu cu é rosinha?”. Ela disse: “Isso é uma coisa que eu sempre quis fazer. Desde os 12 anos eu sabia que queria ser atriz pornô”. Eu fico pensando como é que as pessoas sequer sabem disso? Mas acho que, sei lá, você vê uns perfis de garotas no MySpace e isso fica óbvio.

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Você pode dar alguns nomes de revistas pornô pras quais fotografou?
Barely Legal, Tight, Live Young Girls, Finally Legal, Candy Girls…

É o suficiente.
Juggs, deveríamos falar da Juggs.

OK, Juggs. Mas vamos falar da Vice agora. Você se lembra da primeira vez que viu uma cópia da revista?
Putz, não sei. Eu acho que vi aquela loja que vocês tinham em Los Angeles.

Deus do céu. A gente saiu do ramo de vendas, ainda bem.
Claro que primeiro pensei que fosse um sex shop, depois percebi que era uma loja descolada vendendo roupas modernas. Devo ter visto a revista quando comecei a notar as fotos do Terry nas capas.

Como a Vice fez o primeiro contato com você?
Antes de continuarmos, tenho que te dizer que minha assinatura da Vice tá zoada de novo. Nunca recebo as revistas!

Desculpe, vou cuidar disso.
Eu já ouvi essa antes! [risos] De qualquer forma, a primeira pessoa que me contatou foi seu antigo editor de fotografia, Tim Barber. Nessa época eu já conhecia a revista. Conhecia algumas das pessoas com quem vocês trabalhavam e pensei que seria legal fotografar pra revista.

A primeira matéria que você fez foi aquele editorial de moda de professores, certo?
Sim, eu jamais faria uma matéria dessas hoje em dia. Só faço coisas que me interessem.

Sim, agora é só direto ao ponto.
Sim, tem que me render algum dinheiro ou caber em alguma das minhas séries artísticas. Tenho várias delas em progresso. Estou organizando esse material de voyeurismo agora.

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Tipo meninas sendo espiadas pela janela, por detrás de árvores?
Sim. Acabei de fazer umas fotos na quadra de tênis perto do East River pra esta série. Eu copiei aquelas fotos em que dá pra ver a calcinha da Anna Kournikova, só que nas minhas fotos dá pra ver os pentelhos.

Legal.
Aí tenho essa série de garotas fazendo coisas tipo tarefas domésticas. É só um jeito de encontrar um motivo plausível pra menina ficar pelada.

Uma expectativa razoável pra nudez.
Sim, tem que ter motivo. Como a foto da minha namorada esfregando o chão. Ela normalmente faz isso pelada na vida real.

Porque ela não quer sujar as roupas ou porque você pede?
Rá! Porque ela não quer sujar as roupas. Toda garota que conheço limpa a casa pelada.

Que porra é essa? Eu nunca vi isso.
Então você tá levando a vida errada. [risos]

E por que essas séries das garotas fazendo coisas que poderiam fazer nuas na vida real?
Cheguei a um ponto em que estava fotografando meninas fazendo um monte de coisas doidas e comecei a ter uma crise do tipo: “Deus, o que é que estou fazendo?”. Achei que seria uma boa maneira de justificar meu trabalho e fazer as pessoas pararem de vê-lo como pornô no mundo da arte. O lance do voyeurismo é a mesma coisa, elas não estão só peladas.

Devem te perguntar muito “Por que você fotografa essas menininhas peladas”?
Essa eu ainda não consegui justificar. Meio que desisti de tentar. Acabo respondendo: “Porque é divertido”.