
Sergei Dolgov, editor de um jornal de língua russa na Ucrânia, está desaparecido desde junho do ano passado, e há quem diga que esteja morto. O fotojornalista russo Andrey Stenin foi assassinado em seu país natal em 2014, assim como o fotógrafo italiano Andrea Rocchelli. A jornalista turca Sedef Kabas está cumprindo pena de cinco anos de prisão por postar críticas ao governo Erdogan no Twitter. A lista é longa. Nos EUA, o processo por difamação é o instrumento mais importante para coibir jornalistas. Em outros lugares, as ferramentas são balas e grades de cadeia.Impressionou-me a fala profética do editor assassinado do Charlie, Stéphane Charbonnier, que era amigo meu: "Não tenho medo de retaliação. Não tenho filhos, nem mulher, nem carro, nem crédito. Pode parecer meio pomposo, mas prefiro morrer de pé do que viver de joelhos". Charbonnier, o Charb, fazia cartuns. Era diretor editorial de um semanário satírico. Mas suas palavras pareciam a declaração de um monge guerreiro, um provocador solitário consciente de que cada uma de suas escolhas poderia se voltar contra aqueles ao seu redor.Chantagem e medo são as ferramentas utilizadas para destruir a liberdade de expressão. E tenha cuidado, pois ela está sendo destruída. Não acredito na posição idealista de pessoas que dizem: "Agora que a mensagem deles se espalhou e chegou a todos os lugares, aqueles jornalistas venceram". Não, não e não. A vida é mais preciosa do que um direito que só pode ser defendido através de um sacrifício como esse. E, mesmo assim, o risco foi subestimado.
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